quarta-feira, janeiro 31

MUTATIS MUTANDIS*

Encruzilhada
com sentidos pulverizados
e que, por isto,
mudaram suas naturezas.
Vida sem viço,
viscosa
escorrendo pelo corpo
inerte e ardente.
O olhar, no entanto,
permanece alerta,
vidrado em um agora eterno,
porque tudo é repetição
do que foi e do que será,
volta constante ao ponto de decisões,
dor muda
de grito paralisado
na garganta.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 2007.
Após conversa com minha mãe. Às 20h.
* mudado o que deve ser mudado.

domingo, janeiro 28




CRIAÇÃO

Escuridão em silêncio, em aconchego,
Em exaustão de corpos e de palavras.
A felicidade tem muitas faces.

E o espírito de Deus pairava sobre a sala.

Angélica Castilho

Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2007.

domingo, janeiro 21

FRAGMENTADA

Cova rasa:
local de onde renascem meus desejos,
mergulho de minha alma e renascimento da mesma.

Cova rasa:
recorte em teu corpo firme
onde deposito frêmitos, urros.

Cova rasa:
espaço ainda inominado
evocado por mim,
brasa,
ponto de partida
de meu corpo viajante pelo teu,
eixo de mim
que prende meu gravitar –
voltas, revoltas, em volta,
volta, volta, volta!
desejo plastificado em não-lugar
em todos os lugares.

Cova rasa:
ombro,
que se ergue uno,
atraindo lábios, língua, dentes
em traduções incompletas de ardor.

Angélica Castilho

Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 2007.

sábado, janeiro 13

ARREBENTAÇÃO

Um homem –
outrora menino,
mas
como era menino
eu não via –
passou num pé de vento
sobre o mar
provocando
ondas
que quebram
no asfalto,
ressaca
que se arrasta
há dias!

Angélica Castilho

Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2007.

quinta-feira, janeiro 11

VERÃO

quando as almas
estão na mesma temperatura
da cidade,
quando o canto
é grito na noite –
bom presságio
mar perfeito
a poucas horas –,
quando tudo
é muito pouco
e faz muita diferença
no tabuleiro de xadrez.

Angélica Castilho

Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2007.

ARREBATA

Quem é o caminhador?
Não há portas
Nem janelas.
E trancas
São desfeitas
Para ele passar.
Vida se anunciando
Em movimentos rodopiantes
Cai no ventre.
Seu sossego
É o do relógio –
intervalo
Entre um segundo
E outro –,
Nada mais,
Nada menos
Em seu itinerário errante.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2007.
FACADA

O olhar
Gira
Pelo salão,
Ronda,
Ronda,
De ronda.
Capta
Mãos em festa
Bocas em flor.
Alma caída no chão...
Corpo girando em turbilhão.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 10 de janeiro de 2007.
(Para Aninha. Situação muito louca na terça (09/01) na Fundição Progresso.)

terça-feira, janeiro 9

DESABAFO

Não sei onde essa ciranda viva vai parar.
Hoje amanheci com medo...
Sou real demais para esse mundo.
As pessoas fingem o tempo todo...
Não consigo me adaptar.
Por que Guimarães estava certo
Ao dizer que "Viver é muito perigoso"?

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 09 de janeiro de 2007.

(Scrap para a Gabi)
SEM LUGAR

Sala de não-estar
Chuva forte
E deslocamento mesclado à saudade
Mas de quê?

Angélica Castilho

Rio de Janeiro, 08 de janeiro de 2007.

domingo, janeiro 7

EPIFANIAS

O que dizer
quando todas as felicidades e tristezas
estão interligadas pulsando
descompassadamente
entre sambas, suores, lágrimas, paixões, tonturas.
E o inesperado bate na gente: caminhão ordenado pela ilogicidade.
E a vida se resolve (dissolve!)
entre as pernas dançarinas e bambas de tantas emoções.
E as correntes intermitentes entre a pele e a t-shirt
prendem mais que olhares:
arrasta pessoas em uma quadrilha drummondiana.
E o celular toca uma cantiga de amor latejante e em brasa.
E as lembranças visitam,
entre uma garfada e outra,
em letras de música.
E a intuição revela o insondável, o inimaginável!
Ana, Amanda, Angélica em roda de trágica poesia: a vida!


Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 2007.

P.S.: Era pra ser um scrap para dizer a Amanda que a amizade só existe na cumplicidade, mas saiu uma poesia... Minha alma não deixa os fatos passarem impunemente.