domingo, março 11

UM DIA DE SÁBADO

Amanheci melancólica. Aparentemente mal-humorada, no entanto, era só tristeza. No decorrer do dia, me dei conta de que fico assim após um encontro romântico, e não importa a natureza do encontro. Pode ser um simples chope ou uma torrencial aventura a dois.
O fato é o porquê da melancolia, caro leitor. Descobri que a melancolia se dá por ter um pó brilhante pairando os tais momentos que gela a cervical e aperta o estômago em ondas de angústia a cada manifestação de afeto, palavra meiga, gesto terno, olhar cândido dados ou recebidos. Gera-se um desconforto interrogativo: “o que faço agora?”, “Agi bem?...”, “Socorro!”
Leitor, descobri! É proibido qualquer tipo de afeição! Minha melancolia há muito avisava que as pessoas estão se proibindo de amar. Eu, você, todos e em todos os tipos de relacionamento. Todos são adeptos de atos reflexivos. Todos admiradores de auto-retratos...
Não acuso o outro. E sim, a mim... A melancolia nasceu da minha crescente incapacidade de demonstrar afeto e de indagações perpétuas e infrutíferas que começavam sempre com um “E se?...”
Mesmo que nenhum ex, atual ou futuro qualquer-coisa venha a ler essa crônica urbana (inumana...), quero deixar claro que não se trata de uma infelicidade causada por não encontrar o príncipe encantado, mesmo porque coleciono sapinhos lindos e não acredito em alma gêmea! Apenas estou infeliz por ter me tornado técnica em encontros “amorosos”.
O outro tornou-se uma esfinge que devora minha espontaneidade... Putz! Mas, como dizem na Psicanálise, achado o porquê do incômodo parte do problema está resolvido. Acredito, então, que daqui para frente irei me apresentar assim:
“Companheiro, eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando, eu poderia, enfim, estar mentindo... Mas eu estou aqui apenas querendo viver algo de bom com você, que vai de caminhadas pela praia, passa por rodas de samba em noites autenticamente cariocas até a prática dedicada e contínua do Kama Sutra.”
Quem sabe no dia seguinte eu acorde com um sorriso no rosto...

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 10 de março de 2007.

Um comentário:

Unknown disse...

Um dia de sábado? Muito mais que isso. Muito mais que algo apenas sobre relações, é sobre relacionamentos de todos os tipos e sobre os sintomas de uma síndrome que domina esse mundo de superfícies e amores apenas indiciais. Sentimentos que não vão além dos ícones que representam. Alguns não chegam nem a unir significante a qualquer significado e fica tudo muito solto. Um retrato de nossos dias. Sinal dos tempos? Você captou e traduziu. Li numa orelha de livro que o artista é uma antena. Foi isso que você foi com esse texto. Parabéns! Beijinho