sábado, abril 26



CAUSAS E PARCAS CONSEQÜÊNCIAS

Flô, suncê tá cum frebe.
Di deve di sê
Dus oio ruim,
Dus dia di farra,
Du ganha pão
Du vai e vem das perna di calça.
Di deve di sê mermo
Di mau di amô,
causa Nhozinho tá
em outra parage
tristonho, tristonho
qui nem vosmicê.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de abril de 2008.
ORKUTICÍDIO

Quero minha vida albertocaeiriana de volta e poder passear ricardeando por entre as rosas no jardim da múltipla Lídia, jardim de perdição, jardim hibernal, jardim seco, jardim de fogo.
Abdico e abjuro o roer das intimidades, das dores, dos espantos de viver. Abaixo o Futurismo! Abro mão desse eu que me expõe e que de fato não sou eu.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de abril de 2008.
BAILADO

O alheio é meu.
Me reconheço
Nesse outro que passa
E é feliz e é triste e chora
E bebe sorrisos, abraços, gozos
E toca dentro e fora
E pede mais
No último minuto de festa.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de abril de 2008.
FILOSOFANDO EM QUINTINO

É um absurdo
pautar a vida
na ignorância dos outros.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 23 de abril de 2008.
LICENÇA À POÉTICA

Essa história
de nunca mais
é foda!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 23 de abril de 2008.
COLHEITA DE FLORES DE CACTOS

Não há salvação laica.
O mergulho no pulsante
E no fazer das horas
Exige o despertar
Do estado paradisíaco.

A salvação dá-se
pela entrada
definitiva
no inferno.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de abril de 2008.

domingo, abril 20




ESTADO POÉTICO

Mofou.
Sem lida
Não há lira.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de abril de 2008.
PERSONAGEM VALETE

Cheguei tarde
para minha vida.
Perdi a hora
e a roupa
não está mais apropriada.
Compasso frouxo,
salto em vírgula,
mas já é ponto final.
O enredo agora
é pasticho, kitsch.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de abril de 2008.
LATAS VIRADAS

As pessoas as quais escolho
Já têm alguém – real ou esperado – para amar,
Já são o outro de um outro.
Logo, existo aos pedaços,
Na intermitência de projetos feitos, inacabados, retomados,
Estado de gato do País das Maravilhas
Com sorriso demente e congelado,
Surgindo e sumindo,
Espantada e deslocada no espaço.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de abril de 2008.

quarta-feira, abril 16

TRANSITORIEDADE

Ex-amigo é algo gramaticalmente aceito e impossível de ser concebido no plano existencial. É como ex-filho, ex-mãe, todos impossíveis na prática. Porém, existem ex-amigos! Existem! Existem! O que abre uma discussão filosófica, ética e social, o que faz desabar sobre qualquer cidadão confetes e serpentinas de angústia que se grudam com fome de ação, mas a pessoa não pode dar um passo.
Afinal, a pessoa se vê com um ex-amigo a sua frente, ou melhor, pelas costas... e só tem capacidade de formular perguntas confusas: o que é amizade? Tem prazo de validade? A história vivida foi real? É unilateral ou bilateral essa coisa de amizade?
Ex-namorado, ex-ladrão e até ex-presidente podem voltar aos postos anteriores. Agora, ex-amigo, minha gente, é para sempre.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de abril de 2008.
ICH

Não sei o que é
Imanente em mim.
Faço uma busca cega
Que queima pés e mãos
Que deixa apenas uma face marota
E um corpo de gavetas:
Da Vinci e Dalí
Em um único ser.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 15 de abril de 2008.

terça-feira, abril 8

EPISÓDIOS VI

Porque sou poeta
Tenho a dimensão
Exata do sofrimento.
Valeria mais
Ser unicamente
engenheiro civil
e medir prédios e
pátios e áreas verdes
e me perder de mim.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 04 de abril de 2008.

domingo, abril 6

DECLINANDO POSSIBILIDADES

Belíssimo achado... Ser aquele violão: projeto satisfatório de uma vida. Cantos pelos cantos de Copacabana. Sussurros em fá menor. Barba na nuca, pescoço, seios, ventre, entre o mundo! Mas meu coração continua em paulicéia, desvairado, arvorado, virando latas, roendo osso, comendo se-midão, ganindo baixinho pra não incomodar a vizinhança.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 6 de abril de 2008.
VALSA PUNK

Acredito em Deus. E quem mais ao meu redor crê também nos anjos do Senhor? Sou anacrônica por isso. Eu e pouquíssimos amigos – cada qual com seus motivos – também.
Sou anacrônica por esperar que pessoas diferentes em uma miscelânea de classes, bairros, cores, fés possam se relacionar e fazer da vida privada, en cachette, um hino porque toda forma de amor vale a pena.
Sou anacrônica porque sei que o homem é o sim e o não. E ninguém é o que aparenta, nem eu.
Sou anacrônica porque compro roupas novas quando estou triste e isso não me basta: paliativo de cinco minutos até a tristeza voltar.
Sou ana como cisão, anúncio de quebra, ruptura. Me parto quase diariamente. São muitos muros a derrubar, a escalar e ser bem-sucedida não garante satisfação, au contraire, isola, causa espanto ao outro. Nunca se viveu tão seriamente em busca das semelhanças e equivalências. E anacronicamente, insisto na contramão, acidentes interiores: visão de rochas derretidas mergulhando em águas geladas no Pacífico.
Sou anacrônica porque meus olhos encheram d’água quando uma amiga me contou que secam rios e afetam o ecossistema para construírem hidroelétricas e pessoas perdem suas referências de mundo por isso.
Sou anacrônica porque me afeta o degelo pelo mundo e sofro ao ver um urso polar nadando em vão.
Sobreviver como?

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2008.
RAGNARÖK *

Valquíria louca
Cavalgando um corpo,
Compartilhando um gozo.
Cada vão, cada gesto, cada fluido
Sorvidos todos.
Tolos guerreiros
Em solo de paz
Desencontrados, suspensos no tempo
Entre os lençóis – anzóis! –
À beira de um hiato.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de abril de 2008.
22h 10min
* O crepúsculo dos deuses
SEMANA SANTA

Uma aura de tristeza ficou
Paixão no sentido total do vernáculo
Via crucis tatuada pelos cantos do corpo
Cantos de procissão ecoando: vozes assombradas
Vazios
Ressurreição não houve
Suspiros em dó maior

Olhar vagando
Através da janela,
Através de tudo...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, abril de 2008.
20h 09min

terça-feira, abril 1

DEPOIS DO FIM

Agressão de leão
Chefe de um bando faminto
em território desconhecido.
Alarido de crianças
No horário do recreio.
Espasmo e dor
De parturiente.
Alegria da chegada
do muito esperado.
Caminhadas e recuos
de amar...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 1O. abril de 2008.
EMBATES

Preconceito:
Grito agonizante
de quem
não quer (re)conhecer
nem em sonho
o que vê
no outro.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 30 de março de 2008.