quinta-feira, julho 31

COQUETEL: RAZÃO E SENSIBILIDADE

Ando pensando freqüentemente nas maiores banalidades desse cotidiano com hora marcada e lugar estipulado de quem quiser estar presente. Ando sonhando com você e acordo de madrugada já achando ser hora de sair. Que nome dar – sou obcecada por nomes! – ao que sinto? Não há coração acelerado, não há admiração irrestrita, não há toques. Há, no entanto, um fio que se estabelece quando os olhares se cruzam e não conseguem se desprender: mergulho no outro em uma quase projeção astral.
Hoje sai triste, triste, triste. Houve uma frustração dessa expectativa estranha e fora dos padrões. Hoje era sua outra face que estava presente. Hoje tudo estava amaríssimo nesse imã de olhares. Hoje se fez presente apenas corpos. Hoje as almas saíram para passear por aí e nem disseram quando voltariam e, que chato, chegaram quando já estava principiando meu caminho de casa. E elas voltaram tão abruptamente que a minha chegou e ficou meio tonta, meio a flor da pele, meio menina de dez anos e a sua só passou e deu um alô de exatamente três minutos. Fatalidade: confronto entre um corpo tosco e uma alma cândida demais. Resultado: uma tarde de soluços e orações seguidos de verdadeiro desejo de não sonhar mais, dormindo ou acordada, com você.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 31 de julho de 2008.
O VAMPIRO

Tarde ensolarada e fria. Faxina na casa. Telefone tocando. Pasmo do passado rondando a porta, vigiando lares pela cidade, lendo textos e fotos, revirando lixo, colhendo dados, bebendo em fontes de injúrias. A voz de Clara tinha dado o semidesfalecer e a dormência em anúncio. Odô ia! Odô ia! O abebé faz vento para afastar. A tríplice aliança sendo usada e dois corações entre as armas de Ogum e de Iemanjá. O distanciamento da história confere tom surreal: teatro do absurdo. Restava fincar a estaca mais uma vez. Missão cumprida!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2008.

segunda-feira, julho 28


BOA SORTE / GOOD LUCK
Vanessa Da Mata


É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte!
Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

That's it
There's no way
It's over, Good luck!
I've nothing left to say
It’s only words
And what l feel
Won’t change
Tudo o que quer me dar
Everything you want to give me
É demais
It's too much
É pesado
It’s heavy
Não há paz
There is no peace
Tudo o que quer de mim
All you want from meIrreais
Isn’t real
Expectativas
Expectations
Desleais
Mesmo se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha
Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais

Now even if you hold yourse
lf I want you to get cured
From this person
Who advises you
There is a disconnection
See through this point of view
There are so many special people in the world
So many special people in the world, in the world
All you want
All you want
Tudo o que quer me dar
Everything you want to give me
É demais
It's too much
É pesado
It's heavyNão há paz
There's no peaceTudo o que quer de mim
All you want from me
Irreais
isn’t real
Expectativas
That expectations
Desleais
Now we're falling, falling, falling,
falling into the night, into the night
Falling, falling, falling, falling into the night
Um bom encontro é de dois
Now we're falling, falling, falling,
falling into the night, into the night
Falling, falling, falling, falling into the night



As horas nuas Lygia Fagundes Telles

Eu confessava que colhia as flores matinais e depressa antes que viessem as ventanias e as tempestades. Fui armando o meu enorme buquê, fui compondo o arranjo floral a meu modo quando então começaram os imprevistos, os sustos, ah! Como fugiam do meu controle as flores que foram murchando, as pétalas que foram caindo. Começaram a aparecer buracos. Mais buracos e o arranjo se desarranjou, perdeu o brilho e eu mesma, hein?! Onde a graça da colhedora da manhã? (As horas nuas, de Lygia Fagundes Telles, 1989, p. 181)

sexta-feira, julho 25


DICIONARIZANDO

Figura, plástica, forma, aspecto, aparência
respectivamente nos impele a
modelar, compor, imaginar, inventar, fingir.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de julho de 2008.

quinta-feira, julho 24


DIA A DIA

A solidez se encontra no que não há.
O vago reserva todas as possibilidades,
É o mais seguro dos contratos.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 23 de julho de 2008.

domingo, julho 20

AO VENCEDOR AS BATATAS

É difícil aceitar que quem é amado por nós nos odeia
E nós, porque somos uns babacas no final das contas, nem percebemos...
O amor leva à salvação! O amor leva à danação!
Mas nunca sabemos quando estamos no caminho.
Só o pódio revela trono ou sepultura.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de julho de 2008.

CONNHECER-SE-TE

Quem é esse eu que responde por mim
Quando meu eu não está aqui?

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 19 de julho de 2008.

PARÊNTESIS

Soluçar em seco
É a mais triste metáfora
Criada para a saudade
Irremediável de alguém.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

PRESENÇA

A lembrança é tão forte
que juro que senti teu abraço.
Inevitável não chorar.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

CRÔNICA DE NÓS DOIS

A volta é sempre triste.
São Paulo vem em imagens cortadas de frio. E os versos de Oswald cantam baixinho, baixinho acompanhados de jazz. Seus passos largos marcam o ritmo da nossa fala, do nosso riso. O aconchego das mãos nos ombros, no rosto. O cabelo que se solta e se prende entre os dedos. Os copos esquecidos na mesa de bar... Bebe-se para lembrar o rodopiar dos eus que somos e negamos, e que, por isso, deixamos trancados num quarto anônimo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

SABÁ

Purificação através do fogo:
Mergulho em línguas-chicotes.
Desatino!
Queima de concepções e sentidos,
Sabendo que não se é fênix,
Sabendo que morre-se e pronto.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

INTERLOCUÇÃO

O que me faz egoísta? Amei pessoas egoístas. E, nesse exercício, fui vassalo em doação por causa nobre. Para recompor a inteireza, me despi de todos. Fui compondo um estado de solidão. Agora, amigo, fudeu!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

quinta-feira, julho 17


EXCESSO

O ultrapassar de mim em ti cega
E faz do tato meus olhos,
navegador que se arrasta em superfície estranha:
o novo mundo!
Confirmações de posse em paladar, aromas.
O corpo toma seu igual
E cai semimorto
No campo de batalha,
Mas vencedor.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 14 de julho de 2008.



BRAVO!

Já não estou mais aqui.
Sou um todo projetado
para um futuro:
temor e ânsia.
Já estou lá.
É urgente
esse deslocar de estado.
Sou já um outro
e como tal me comporto.
Assumo outra face:
meus intervalos e meus recantos
já são outros.
Minha cama não é mais minha
nem o caminho tão habitual
recebe o mesmo olhar.
Não há mais um ponto conhecido.
E há a certeza de outro ancorar.
Mas onde?

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 07 de julho de 2008.

domingo, julho 6


CHEIRO DE ÂMBAR

Faz de conta que é uma festa!
O mais a gente inventa,
tenta, sua, grita, bate, dança,
corre, goza, chora, canta,
esperneia, sonha, arranha,
amassa, encaixa, desata,
dorme, sorve, abraça,
lambuza, ri... quase morre.
Adequar o canto dual
ao ritmo uno
nos faz – por momentos – deuses.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
DOR

Por que não é de verdade?

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
CONDICIONAIS

Se fosse fácil eu sorriria.
Se fosse bom eu aceitaria.
Se fosse possível eu lutaria.
Mas não há chão
Que conduza os passos até a outra ponta,
Não há arrebatamento de sentimentos,
Não há!
E esse vazio de sentidos
Atormenta febrilmente
O corpo imóvel diante do abismo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
DOMINICAL

Tinha apenas um dia de sossego e ninguém para ver, nada para fazer, nada para ser. Um dia interiro e não existir. Caminho longo de existir que nos lança no pior dos castigos e das salvações: pensar o pronto e o por-fazer. Mas que nada... Resta dormir! Mas como fugir dos sonhos que dizem tudo em charadas totalmente cifradas, apesar da gente se fazer de bobo sempre...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.