quarta-feira, dezembro 23

Manacá, Tarsila do Amaral

Amigos,

Ótimo Natal e muita alegria! Como afirma Oswald de Andrade "A alegria é a prova dos nove." Sendo assim, desejo o exercício e o prazer da alegria a vocês em 2010 e sempre!

Um beijo a todos,

Angélica Castilho


Glorioso São Jorge,

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem pensamentos eles possam ter, para me fazerem mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

O glorioso São Jorge, em nome de Deus, em nome de Maria, em nome da falange do Divino Espírito Santo, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas aramas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, do poder dos meus inimigos carnais e espirituais e de todas as suas más influências, e que debaixo das patas do seu fiel ginete, meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós, sem se atreverem a ter um olhar sequer, que me possa prejudicar. Amém.
Anjos, Tarsila do Amaral
A família, Tarsila do Amaral

domingo, dezembro 20

Coração de Jesus, Tarsila do Amaral.
Morro da Favela, de Tarsila do Amaral.

Construção

Espaço em branco até um instante que não se sabe.
Evasão para workshops: choque!
Satisfação na exaustão de ser cotidianamente ativo.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de dezembro de 2009.



quinta-feira, outubro 15

NO CAMINHO DO AR

não sei se fico ou se passo.
não sei o acaso ou a certeza.
não sei nada além do vento intenso dentro e fora de mim.
não sei nada além do sim, Oiá.
Oiá,força e grandeza,
vento brando e vento forte,
moça de bailado alongado e de caminhar firme.
Oiá, Oiá! só sei o sim.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de outubro de 2009.

terça-feira, setembro 15

PASMO BEATIFICADOR

Amor é a dor de um dedo o olho:
Incomoda e desperta
Imobiliza o corpo em desorientação profunda
Interroga cada sorriso louco de gato de Alice.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2009.
IFÁ

Hoje falei mal e bem de alguém que não é. Não é porque não penso nele/nela, mas que existe substancialmente: é massa, é corpo, é voz.
Passei pelo alívio da confissão e pelo sentimento de culpa por ter visto a tinta negra de um rosto por baixo de uma máscara. Constatei o sim e o não de alguém e o meu sim e não. Constatei que as relações são fatais no bem e no mal e que os conflitos aparecem na sua frente calmamente como um convite para passeio.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2009.
16h39min

terça-feira, setembro 8

Vampire, Edvard Munch.

DEMÊNCIA



Não há motivo algum para sermos felizes

e mesmo assim somos

Apesar de!



O que salva o homem de si mesmo

é o grito:

uivo doente em forma de riso,

gargalhadas

por trás dos rostos partidos

que

ninguém vê

ninguém vê

ninguém vê...



A dor de mim e do outro

no picadeiro em forma de estradas -

muitos e muitos caminhos se cruzam,

vozes que passam,

sinos de despedida de hora em hora

em um mar de lápides

vê-se na sombra o seu próprio corpo morto

corpo, corpo, corpo!

Não quero ser corpo...



Roda! Roda! Roda!

Não há mais samba e a náusea cresce

embora a multidão peça o que foi busca:

êxtase do não-lugar, do não-eu, do não-sentir

no compasso da bateria.



Cabrocha rouca deslcaça

massa de carne

apagando o sorriso.



Quem irá ver a alma que cai em gotas

pela boca entreaberta do bêbado encostado ao muro?

Quem viu o espanto em mim?



Angélica Castilho

Rio de Janeiro, 08 de setembro de 2009.



terça-feira, agosto 25

The Scream, 1893.
SUSANINHA

E o dia do aniversário
é o instante cego
do agora-quem-sou-eu?
do sentir-se em uma ponte
(lembra do quadro O Grito,
Edvard Munch?)
entre duas certezas:
nascer e morrer.
Nossa sorte
é que a ponte
é/está na vida,
e o eterno de antes
e a dúvida
do depois
são apenas especulações.
Quem se importa com as indagações?
Eu, você, Clarice Lispector.
Mas pra quê?
Pra que se perguntar,
se a vida se faz tão
luminosa e infinitamente
prazerosa no "já!"
do "parabéns pra você,
nessa data querida,
muitas felicidades,
muitos anos de vida"!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2009.


Route à Saint-Rémy,Van Gogh.




sexta-feira, agosto 21

MARRIAGE AU GLÓRIA

I

Unindo...

Negra
Só as luzes da Marina tremem e anunciam vida
Só as luzes que escapam pelas portas e invadem o adro dizem

Solene e única e tão só ela segue:
Marcha em êxtase do que é ser mulher

Cobre o véu e eis que é luminária humana
A figura que entra banhada por rios e mares,
Adornada pelas horas
Dos tempos que vão vir.

Unidos.


II

Festa
Rosas murchas

Muro de vozes

Olhara atento:
tentação do corpo do outro
Querer: tato e gosto de champanha, docinhos e saliva.

Vida em botão
Flor e ser

As pinturas observam os homens

Rodopiar em passos
Animados riscando o assoalho

Papeis pelo salão
Em desordem deliciosa doce dúbia dupla doida

Festa (!) de dois após a multidão.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2009.

Marc Chagall, pintor judeu-russo surrealista.


Bouquet with flying lovers, 1947.



Branch, 1956.


Os noivos no céu de Paris.


View of Paris.

The wedding candles, 1945.

Le couple, 1977.



La fête du marriage, 1978.

quarta-feira, julho 22

DESDOBRAMENTOS

Romântico:
- O amor possível é o fim do amor...
Moderno:
- O amor possível são todas as possibilidades de amor.
Pós-Moderno:
- Amor? Vende onde?

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 13 de julho de 2009.

quarta-feira, julho 15


CAPA DE CADERNO

Loucura maior é não ter mais orelhas para decepar...

E essa tela que me acompanha...
Lembrança de infância,
misto de espanto e indagação,
curiosidade de quem vê o mundo e só sente – visão não associada à explicações formais, visão com o tato e com o cheiro das situações –,
explosão de sentir,
um mundo inteiro – redondo como cada girassol –
se abrindo em flor macia e gostosa.

Se eu pudesse saber o que era, não teria visto
Se eu pudesse fugir do que previa, não teria acontecido
Se eu pudesse não sofrer as alegrias, não teria sido!

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de julho de 2009.
19h 04min

Sunflowers, 1888
Vincent Van Gogh Pintor Holandês (Pós-Impressionismo) 1853 – 1890

quinta-feira, julho 9

CAMINHOS

Fascinante
Delírio
Vertigem

Abismo do não eu
que me diz na totalidade.
Ser a queda que é transcendência
é o estado de glória verdadeiro,
dá a dimensão da humanidade - neuf sur dix.

Descer de escadas para crescer na contramão
Coroa invisível de louros
Humildade
Acesso eterno a você mesmo


Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 2 de julho de 2009.

quinta-feira, julho 2



AMOR DE LOBOS

... vou-vos contar uma história de assombrar... e de magia... e de feitiços... e de poesia...uma história de amor, onde se mistura a racionalidade com a irracionalidade... poderei dizer que é uma história sobre a descoberta do amor... aquele amor que está muito dentro de nós, escondido e que, um dia, sem darmos por isso, brota cá para fora e como uma flor bonita, desabrocha aos primeiros raios de sol da manhã...

..seriam cerca das 3 da madrugada quando na esquina da velha igreja daquela velha aldeia lá muito ao norte, quase a perder de vista a sua própria existência, se juntaram em silêncio 4 esbeltas mulheres de longos cabelos à solta, todas elas vestidas de branco... um branco alvo, como vestidas de noivas, sem véus nem grinaldas mas de branco... sentia-se um vento meio gélido naquele campo verde que se estendia para além das traseiras daquela velha igreja daquela velha aldeia... mas não se notou qualquer tremor de frio em nenhuma daquelas 4 esbeltas mulheres... a cor dos seus corpos roçava a cor do leite que, momentos antes haviam bebido dum mesmo canado... seus olhos negros, profundos, brilhavam quando os raios do luar daquela lua cheia lhes batiam nas faces em todo o seu fulgor... era uma lua grande, de prata, brilhando num brilho baço mas ao mesmo tempo ofuscante... deram-se as mãos umas às outras e continuaram o seu caminho... para trás ficava tão-somente um cheiro a flores... seus pés estavam nus e pareciam caminhar por sobre a erva daninha daquele campo verde... lá ao longe, um pouco mais para cima, divisava-se um morro e no cimo desse morro uma frondosa árvore, erguia os seus ramos numa espécie de posicionamento de espera e de aceitação... como que esperando por elas e pronta a abraçá-las... o silêncio era total e entre elas não se ouvia um único som... quem as visse de longe para cá daquela velha igreja daquela velha aldeia, pensaria que as 4 visões voavam ou pelo menos deslizavam...
...cada uma das que ficavam na ponta levava um cesto de verga coberto por pano branco de linho feito... ...e eis que chegaram aos pés da árvore...
...pousaram os 2 cestos de verga no chão e deram-se as mãos num círculo que abraçou o tronco da árvore frondosa e num misto de magia a árvore como que se baixou sobre elas como que as cobrindo num acto fálico enquanto as suas folhas roçavam os seus corpos...
...dos cestos, depois de terem desfeito o círculo, tiraram algo que não era visível aos olhos dos outros seres humanos e que não era possível descrever...
...entretanto, algures, num outro ponto daquela aldeia, deitado numa cama de doces sonhos, um homem alto, bem constituído fisicamente, com o corpo nu coberto de pelos negros, dormia e via-se que estava possuído por algum sonho de lascívio prazer, pois notava-se através da roupa da cama que o cobria que o seu sexo estava excitado e algumas gotas de suor lhe cobriam o peito forte...
...repentinamente, num passe de feitiço, esse "sonho" transportou-o para os pés daquela árvore frondosa onde se encontravam as 4 mulheres lindas vestidas de branco... ele olhou para ele mesmo e viu-se nu, tal como viera ao mundo e ao ver aquelas mulheres instintivamente levou as mãos numa tentativa de tapar o seu sexo erecto...
... a partir desse momento aquele homem entrou num espanto e seus olhos não queriam crer naquilo que estavam a ver...
... elas se começaram a despir e apenas tinham aquele vestido branco sobre as suas peles acetinadas cor de leite... e ele olhava... elas começaram a sorrir e os seus sorrisos eram como um convite ao sonho... daqueles cestos retiraram uns frascos que continham vários fluidos e começaram a untar os seus corpos... e ele olhava e começava a compreender o que via... elas o fizeram ver... uma se untava de mel, uma outra de untava de leite puro de ovelha uma outra de água salgada do mar e a outra de um creme que cheirava a jasmim... e ele não resistiu e o sexo se tornou novamente erecto e o seu corpo parou de tremer...
... aqueles corpos untados cintilavam quando os raios da lua cheia lhes batia na pele e elas continuaram com o ritual... todo o seu corpo foi untado incluindo os seios, o pescoço, as pernas,... apenas os cabelos soltos ficaram secos...
...então, elas se aproximaram daquele homem e se roçaram por ele de tal forma que o corpo dele ficou totalmente embebido daquela mistura de fluidos...apenas as mãos dele ficaram secas... e num acto quase que instintivo elas se deitaram no chão sobre os vestidos brancos que faziam de leito, o leito do amor, o leito da procura do amor, o leito da descoberta do amor... e ele se misturou com elas e começou a possuí-las, uma a uma, e também numa mistura arbitrária de escolha... o seu corpo confundia-se agora com o corpo delas e já não existiam 4 mulheres ali... apenas existia uma única mulher onde ele se fundia numa escolha impossível... os ventres juntavam-se e os costados também... ele as tomou por detrás agarrando-se aos cabelos delas com as suas mãos possantes e puxava as cabeças delas num misto de prazer e dor, de agonia e êxtase, como se tudo se pudesse perder num só instante, numa avidez de gozo indescritível ... de repente ele sentiu os diversos odores que o cercavam e aos poucos foi deixando uma a uma até que ficou olhando aquela que cheirava a mar... e, nesse momento, algo de mágico se passou: um raio de luar atingiu-o e ele numa nova forma de sentir, viu lentamente o seu corpo transformar-se em lobo, um corpo coberto de pelo sedoso negro e brilhante ao mesmo tempo que a mulher que cheirava a mar se posicionava como fêmea do lobo... e ele a agarrou pelos cabelos puxando a sua cabeça para o seu peito e com firmeza a penetrou fundo num acto de posse total, num acto de prazer inimaginável onde a fusão foi possível tão-somente por magia... o seu corpo ofegou e o instinto animal veio ao de cima e, no mesmo momento em que lambia todo aquele mar, ele, num último uivo lancinante de prazer, espalhou sobre ela todo o fruto do seu amor... então os corpos se misturaram e apenas se divisava um casal de lobos fazendo amor... os seus corpos não conseguiam parar e num espasmo final ela se transformou em maresia, como que alva espuma misturada com o fluído dele...
...então, naquele silêncio de corpos se amando, um último uivo, não o dele mas o dela, se fez ouvir por aquela encosta abaixo, no preciso momento em que os primeiros raios de sol começavam ao longe, bem perto daquela velha igreja daquela velha aldeia, a despontar...
...nesse momento, o homem acordou de repente na sua cama e olhou e viu: uma mulher linda, vestida de branco, dormia profundamente ao seu lado..."


AUTOR DESCONHECIDO

terça-feira, junho 9

As Praias Desertas

As praias desertas continuam

Esperando por nós dois
A este encontro eu não devo faltar
O mar que brinca na areia
Está sempre a chamar
Agora eu sei que não posso faltar
O vento que venta lá fora
O mato onde não vai ninguém
Tudo me diz
Não podes mais fingir
Porque tudo na vida há de ser sempre assim
Se eu gosto de você
E você gosta de mim
As praias desertas continuam
Esperando por nós dois

Antonio Carlos Jobim

Eu e Água
A água arrepiada pelo vento

A água e seu cochicho
A água e seu rugido
A água e seu silência
A água me contou muitos segredos
Guardou os meus segredos
Refez os meus desenhos
Trouxe e levou meus medos
A grande mãe me viu num quarto cheio d'água
Num enorme quarto lindo e cheio d'água
E eu nunca me afogava
O mar total e eu dentro do enterno ventre
E voz de meu pai, voz de muitas águas
Depois o rio passa
Eu e água, eu e água
Eu
Cachoeira, lago, onda, gota
Chuva miúda, fonte, neve, mar
A vida que me é dada
Eu e água
A água
Lava as mazelas do mundo
E lava a minha alma

Caetano Veloso

























ROTAÇÃO

Tenho um mundo girando na minha frente,
no qual às vezes eu caio dentro
e fujo do mundo –
porque os mundos são muitos
e o outro-mundo é fascinante –,
e do qual salto às vezes
e fico perdida com sensação de achada –
porque vejo tudo diferente,
porque, afinal de contas,
tudo está diferente!
Os olhos que veem são diferentes...

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 05 de junho de 2009.

MORADA

Força de ventos

em sorrisos no

ar. Tom de cores

cinza-azul

de sonhos.

Castelo sem muros.

Odô ia!

Angélica Castilho

maio de 2009

sexta-feira, março 6


Gratia Plena

Esse gosto de futuro invade os poros
E faz sentir-me já sendo outra de mim mesma,
Transtornada, transfigurada, translúcida, transcendental
Em catarse dionisíaca do (in)ter-you.
Apenas o rosto é o mesmo
E segue pelas ruas com se nada estivesse acontecendo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de janeiro, 04 de março de 2009.
Menininha Sapeca

Nessa felicidade
Que é luz
De fogos
E
Beijos debaixo de chuva,
Fico pelos vãos
Me escondendo
Com um sorriso sonso:
Disfarce de alegria...
Ah! Alegria...
Que é tanta
Que é pura
Que é tão íntima e secreta,
Tesouro trancafiado por trás do olhar
Entre abraços e palavras dengosas e ronronar de amantes.
Por toda essa grandeza, uma alegria frágil:
Criança comendo doce roubado que não pode ser vista,
Mas lambuza o rosto...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de janeiro, 04 de março de 2009.