terça-feira, setembro 30

QUASE ANJOS

Essa candura
que se mistura
com saliva e roçar de pele
é o que nos humaniza.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2008.
ORAÇÃO

Medo de ser sonho
E acordar dando
Golfadas de alegria,
Sujar a camisola, as pernas, a cama –
contentamento se perdendo
pelo quarto
em estado de pranto de alma.
Queria Deus ser terno
No ermo de dois:
Amplidão azul de céu e de mar
No espaço de corpos.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2008.

segunda-feira, setembro 29

ÉBRIOS

Caras e caretas
eternas
cervejas
e veja

que tudo é
é, é, é...
beber e falar
sem ser olhos

de visão total e racional.
Isto é ser... eterno!

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2008.

P.S.: II Encontro de LETRAS TORTAS

quinta-feira, setembro 25

SOL E CHUVA

Estou cansado e meus olhos projetam o futuro em branco:
as cores foram pintadas de luz!
Cadê o futuro?
Cadê o futuro?
O medo se infiltra pelos cabelos, pelas unhas.
Ternura e tédio ao pé do precipício.
Celeumas de mim!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de setembro de 2008.
BILHETES

Não sei mais suportar.
Os outros são tão outros que a mim não se estende a vós. Não há hermanos?! E o que faço para purgar o carinho que existe no espaço de fotos, sorrisos, palavras? O que faço agora que tenho a azeda visão de estar só. Estado único e uno, equívoco de gêmeos, perna sem par.

Constatei tarde que a procura é a mesma do andrógino partido que não é mais filho do Sol, nem filho da Terra, nem filho da Lua. Olhar cego para o umbigo: cicatriz da solidão. E agora?! O que faço? Logo eu que sempre fui multidão e desdenhava Eros por achá-lo tacanha, nhem-nhem-nhem e cacete? Pasmo de quem teimou ser philos a salvação.

Congelei de susto enquanto esperava um café expresso admirando o vai-e-vem da Cinelândia. Alma decepcionada tem a gravidade e quase a eternidade de um iceberg. “Não tenho em quem confiar...” Um slogan de camiseta em passeata. Definhar... Afiar... a espada para a guerra de ser só.

Não sei dizer que dor é essa diante da morte de tudo: morte de um homem, morte do sonho de ter um filho, morte da vontade de viver, morte da alegria adolescente, morte dos sorrisos. Só sei que dói e amassa por dentro. E não se tem fome, não se tem sede. Apenas choro.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2008.
ORIKÍ

Airosa
Ar
Em rosas
pétalas
no ar.
Dançar
de moça
vistosa
graciosa,
Oiá!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 09 de setembro de 2008.

quinta-feira, setembro 11

FÓSFORO

Só em total
Escuridão
há consciência
de ti.
A mínima claridade
te põe
a perder:
chama
que se acaba no ar,
gozo e morte.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 07 de setembro de 2008.
ATITUDE INFANTIL

Sempre que
topo com um espelho
dou a volta
para ver o que há atrás.
Espanto sempre!
Um vazio
inteiro e revelador.
Para onde foi o outro lado,
a face esquerda,
luz de tudo que não há?

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de setembro de 2008
.





RIO QUE PASSOU

Abismar-me
de azul e branco
em um mar de cerveja
com tamborins sussurrando ao fundo.
Verdade única e urgente de uma vida inteira.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de setembro de 2008.

segunda-feira, setembro 1

INTERVALO

Nosso herói vive entre parêntese. Narrativa interrompida por peripécias, esclarecimentos, silêncios, sem perspectiva de fechamento. Suspensão do curso sem mais nem menos. O tempo, entretanto, não pára! E essa vida paralítica, sifilítica, esquisita... em curto circuito.
Perigo de cair em abismo antes de terminar a história.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2008.
MORTE DA PORTA-BANDEIRA

Ebulição
atos desconexos
aço
ação
baque
o som do surdo
...
cascatas de
olhos de cristais
mares
no peito oco.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2008.