sábado, setembro 22


ROTEIRO POR SUZANA

Sorriso nos olhos em diálogo desconexo:
– Quer um pedaço?
– Não.
– Vai acabar...
– Meu pai trabalhou naquela obra.
– (Eu também te amo!)

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 11 de março de 2003.

MUITO PRAZER

Quem é você que foge
e se refugia em lucidez?
Quem é você que quer
o infrutífero e o solitário?

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2003.

CAIR EM SI

Quando se tem a dimensão
da felicidade prosaica
contida nos dias banais
passados a dois,
se tem a chave do Paraíso e do Inferno.
O cuidado está em perceber o seguinte:
se abrir apenas a porta do passado
é porque o indivíduo está ardendo em clamas.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2003.

PROTEÇÃO

Cruz credo!
Senhor, livrai-me das mulheres mal-amadas.

Angélica Castilho

Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2003.

VOLTA ÀS LETRAS

Um amigo me disse
Que ele só escrevia
Quando estava infeliz.
Hoje ele está casado,
Tem dois filhos lindos.
Disse também que
Quando eu estivesse com alguém pararia.
Não parei!
Meu processo é o transbordar
De tudo que sinto.
O que me castra, amigo,
Descobri há pouco,
É a racionalidade.

Angélica Castilho

Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2003.

CONVÍVIO INICIAL

Sabe aquela sensação de já
Conhecer a pessoa há muito tempo?
Pois é... Não é isto.
O que me dá conforto
É ter a profunda certeza
De que não conheço,
É o mistério.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2003.

ÊXTASE

Tua presença me purifica
Porque me faz pensar-me
Tão intensamente que me dói
E me consome cada centímetro dos órgãos.
Sinto-me lavada por fogo!

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2003.

SAVE OUR SOUL

E eram dois náufragos
nas ilhas deles mesmos,
enviando sinais ininteligíveis,
mensagens truncadas
de uma dor e de uma alegria loucas,
esperando numa angústia muda
o resgate do e pelo outro.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 09 de fevereiro de 2003.

FELICIDADE

Aprender-se através do outro é uma tarefa.
Dói tanto que fico sem ar às vezes
E me levanto no meio da noite
Despertada por um rosto
E preciso de ar, de água, de andar,
Enfim, de chorar a estranheza de descobrir-se.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 09 de fevereiro de 2003.

BONANÇA

Hoje estou em paz,
Absorta em músculos,
Suores, livros, aromas,
Líquidos, luminosidades.
A noite Anterior foi de tempestade,
Pranto e ranger de dentes,
Furações de dor!
Tudo causado pela mais
Devastadora solidão.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 07 de fevereiro de 2003.

CONSTATAÇÃO TRISTE

Mas é que as pessoas
não se permitem ser amadas
nem amarem as outras.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 07 de fevereiro de 2003.

ARROBO DE AUTOCONFIANÇA

O que falta em mim? Nada!
Tudo está completo
Porque o que não tenho já tive
E a lembrança é uma forma de prêmio.
Então, quando me pego em solidão,
Acho graça.
Afinal, tudo é transitório: felicidade, dor, amor, parto.
O que fica é fita de vídeo sentimental.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 07 de fevereiro de 2003.

NATURALIDADE

Encerro em mim
Todo ódio e todo amor da humanidade
Com a simplicidade de quem respira.
A questão é que rasga algo da ordem fortaleza
Impelir e expelir o ar.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 04 de fevereiro de 2003.

PURGAÇÃO DA ANIMA

Arriscar-se no outro
Implica adentrar-se
Primeiramente.
Ir abrindo trilhas,
Procurar visceralmente
As dores da existência de um eu escolhido.
E que força hercúlea,
Meu Deus, é necessário...
É um arrastar-se no deserto
Com as pernas quebradas à noite,
Com frio e fome,
Com medo e lágrimas,
Sabendo que nunca terá certeza alguma.
Não há promessas!

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 2003.

sábado, setembro 15


TRANSBORDANTE

Estou doente de vida
de tal forma
que, caso estivesse grávida,
morreria de excesso.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 2003.

CALVÁRIO

Nunca foi tão penoso existir.
Saber-se humano dilacera lentamente:
Facas de lembranças, constatações, descobertas.
Existir apavora e cativa.
Ama-se dolorosamente existir.
Fica-se a um segundo da loucura
Tanta é a lucidez de ser incapaz.
A mulher no reflexo do vidro da janela do metrô
É tão bela que dói.
Assustadoramente triste!
Ela sabe que existe e que também disfarça viver
E é só! Apenas isto!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2003.
AMOR

Pavodor!

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 2003.
DESCOBERTA

Um livro é potencialmente
presente de grego.
Dele podem saltar
Mundos, fatos, sentimentos, maldições
Na escuridão do vão entre uma página e outra
E tomar seus donos de repente.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 27 de janeiro de 2003.
TEMPO

Dê-me paciência, Senhor,
Para saber esperar o tempo,
Discernir entre
O certo e o errado – são momentos! –
E saber quando existir o pleno.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 2003.
LENDO DRUMMOND

Sento a dor do mundo
Passada de ombro em ombro,
Corações inflam e arrebentam,
Tristeza inundando
Uma vida inteira
Erros muitos, acertos vários
Escorrendo e ficando
Pelos cantos do quarto.
São fantasmas – Eu sei! – a se levantarem
No menor indício de angústia.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 07 de janeiro de 2003.

ESCAPULIDA

Qual seria o ponto eqüidistante
emocional entre nós?

Nelson Rodrigues me chama...

Continuo em lacunas,
vácuo.
O caos liberta?

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2002.

AO SOM DA VALSA NO. 6

Veio à lembrança o bilhete apressado com pergunta fatal. E a fatalidade é tudo que temos. E a fatalidade é tudo que somos nesse universo só nosso. È demasiadamente provável que eu seja a personagem clariceana que você acha e que se perde em si mesma tentando achar o outro.
A saudade agora é calmaria. Existe placidamente. Queria tanto nós e o mar... Olhos capitulinos os nossos que atraem e repelem em ondas diárias.
Cronos é um deus sádico e tirano, amarra nos minutos as mais intensas alegrias e agonias.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2002.
VIDA

Estar aqui
É como ser nublado:
Não se é uma coisa nem outra.
Se é intervalo, apenas inquietante intervalo,
Um por enquanto perene e só.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2002.
APRÈS

Dores que não senti
pelas verdades ilusórias
pelas quais fiquei insone minutos astrais.
Brevidade dos beijos
Furtados, sôfregos, proibidos
É a agonia estendida
Que não se torna ontem.
Felicidade tem disso:
Atropela a gente anestesicamente.
Só depois – depois do agora longo
De sua estadia – é que dói.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2002.

DESPENCAR

Precipito-me em ti
E fico a vagar
Em emaranhados de suspiros,
Dores, divagações, ansiedades,
Tesão, arrependimento, culpa! calmaria...
E a cair cada vez mais
Em relâmpagos de atos.
Tudo acontece sem ao menos
Me dar conta da queda.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2002.

SENTIMENTO INOMINADO

Que nomes recebem
A melancolia de te ver partir,
A ansiedade de te ver voltar?

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2002.


CRÔNICA DOS DIAS SEM VOCÊ

Ontem estava grávida de tua presença, impregnada de tuas lembranças e vi o ventre crescido dentro de roupas claras, o cabelo desalinhado, um sorriso. Felicidade intensa. Não era mais sonhar acordada. Deu uma certeza de que tudo era possível: senti tua boca fagueira, teu perfume ligeiro, tua voz calmamente.
A felicidade da hipnose e a realidade do momento preencheram o vazio deixado no adeus do embarque. Uma saudade quente, doce, úmida. Acalanto de sotaque pelo telefone. Mas hoje um banho de claridade limpou de mim o conforto de ti. Hoje, amanheci em processo de aborto: limpa, nua, cabelos molhados diante do espelho. Estou aterrorizadamente una, inegavelmente só!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2002.


DISTÂNCIA

O sol que nasce aqui – rio de inquietações –
morre em ti – plano alto –
estagnado, calado, isolado.
Só teu espírito vibra!
O olhar voltado para Sudeste no amanhecer
Não é o bastante,
Não atinge o outro olhar
Que se volta para o Centro Oeste ao entardecer.

Verdadeira súplica dos dias cíclicos...
Viciosamente ininterruptos...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2002.

DIVISÃO SEMÂNTICA

Baralho sem dono,
Quarto vazio,
Arroz no prato nu,
Cinema mudo,
Dança sem par,
Velório com música,
Bolo sem festa,
Quarta-feira de cinzas: eu.

Miragem,
Esfinge,
Cansaço: você.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2002.
NA ESTAÇÃO

Tristeza ao te ver passar
Seriamente outro, seriamente
Farto, seriamente estranho
E não seguir
Com meu todo perplexo e entusiasmado
Seu todo cabisbaixo,
Seus passos deslizantes,
Sua miragem.
Petrificada, triste, triste, triste
Me deixei entrar pela massa
Que em solavancos ocupava o vagão.
Meus passos também se desfizeram no ar,
Meus passos de solidão.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2002.

ORÍKI

Oraiyê iyê ô, mamãe Oxum
Que nas águas reina
Com beleza e harmonia,
Que agita olhos marejados:
Cascatas, rios para os martes.

Oraiyê iyê ô, minha mamãe
De águas doces
De muitos amortes
De espelhos enfeitados
De cabelos perfumeados
De alegrias e sorrisos – felicidade!

Oraiyê iyê ô!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 08 de maio de 2002.

TRÁGICA

Verdadeiramente, a única carta de amor foi
A derradeira e fatal de uma história de amor,
Dessas que se vive intensamente
Em turbilhões de pensamentos, pernas,
Sentimentos, bocas, corações sedentos,
Palpitações, gozos, vertigens,
Insônias, alegrias, ilusões,
Realidades, sofreguidão absoluta!
Esta foi a única carta, senhores.
A maior e a mais dolorida de todas...
Esta sim, foi de amor.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2001.
GATA VIRA-LATAS

Pulo muros,
Subo em telhados,
Quebro telhas e vidraças,
Brigo por um pedaço de carne,
Tenho sede constante,
Sumo noites e noites:
(des)encontros amorosos...
Volto dia clareando,
Exaurida das viagens físicas e anímicas.
Cada escapulida
cette une pettite morte.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de agosto de 2001.

REVIRAVOLTAS

Princesinha, o que sobrou do seu papel?
Um ser espreitando o mundo,
sagaz,
negando o desejo primeiro
por não ser – nem de fato nem de direito –
a sonhadora de outrora – Aurora sem Felipe, sem castelo, sem pai bondoso.
Anônima e catatônica!
Pessoa seca pelos anos vividos em poucos instantes:
Frustrações relâmpagos.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2001.
DÚVIDAS

Por que o outro
É um pântano
Que hesitamos/insistimos
em pisar?
Mas como amar
Sem fazer
A travessia por terreno incerto?
Mas como viver, meu Deus,
Sem o riso da mais profunda infelicidade?

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de junho de 2001.



TRISTEZA

E o frio
que invade...
é um guerreiro forte
destemido
audível!
Seus passos pesados
Oprimem meu estômago
meu peito
impiedosamente...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 13 de maio de 2001.

segunda-feira, setembro 3



PÓTHOS

E é grande
O vazio.
Não há penar,
Há apenas
Um errar de desejos
Sem objeto em que se fixar,
Há falta do que não há.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 10 de maio de 2001.


DÃO LALALÃO

Me surpreendi amando
Em uma madrugada dessas.
Então, como boa menina que sou,
Chorei aos soluços, baixinho.
Olhei as horas,
Pela janela, vi a rua calma.
Tudo em mim pulsava!
Era o susto de se saber
Dentro do olho do furacão.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2000.


PERFIL

Que saudade!
E que falta de coragem de amar...

Um dia desses
Divorcio-me de mim
Só para não ter que conviver
Com a covardia desse
(e de tantos outros!) caso.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2000.
HERESIA SENTIMENTAL

Amor? Do melhor que pode haver.
Amor daqueles que têm medo de magoar,
De estragar o amor que já há.
Amor daqueles que são negados
Até para si mesmo –
nem a deus se permite confessar.
Amor reafirmado em cada negação.
Amor dos bons mesmo!
Amor para ser lembrado com os mais variados nomes,
Menos ser lembrado como amor...
Porque não se admite – que hipocrisia! – a palavra amor.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2000.


MUDANÇA DE ARCANOS

Se o Enforcado cedesse lugar ao Mago e ao Sol,
Poderíamos sair de mãos dadas
Tal qual os gêmeos pelo mundo.
Então, seria eu Imperatriz e Estrela,
Serias tu Imperador e cavalheiro de copas.
Nosso mundo, um império entre quatro paredes,
Nosso trono, cama cor de mar,
Nosso manto, ar em movimento.
Um reinado que se estenderia pelas madrugadas,
tendo o silêncio como moldura.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2000.
LATÊNCIA

O não tem sido todos os toques
olhares, paladares, frios, tragos.
Há pulsão de vida
em nossas faces alegres,
E o sorriso em movimento na fotografia
fala todo amor que existe
sem nunca ter acontecido.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 27 de novembro de 2000.
BICHO DO MATO

Onde está
com quem não sonho,
quem não espero
e nem mesmo desejo?

Sei que vai chegar
uma noite dessas
e não vou deixar,
seja quem for
que se proponha a ser.

Mais um ou mais o,
tanto faz... a vida está suspensa
e não volto a terra!

Angélica de Oliveira Castilho
Saquarema, 24 de junho de 2000.


UM ADENDO

Às vezes, a vida se torna uma rocha: fria – se inverno –, quente – se verão –, dura, imóvel. E é tão difícil apreciar um beija-flor quando se é rocha, e é tão chato ser flor de novo. A previsibilidade da dor não faz voltar a ser flor.

Angélica de Oliveira Castilho
Saquarema, 24 de junho de 2000.
LA VIE

Quando tudo mais é
solidão,
La solitude viens
comme
la mer
la campagne
la niege
E as lágrimas
congelam no frio
que fatia lembranças
sensações
previsões
esperanças.
Mesmo assim,
solidão a um é melhor do que a dois.

Angélica de Oliveira Castilho
Saquarema, 24 de junho de 2000.
O RIDÍCULO DA COISA

A vida é estúpida:
as pessoas morrem sem saberem quem são.
Sinto muito,
mas as pessoas morrem,
erram o passo e morrem.

Escuridão sem luar.

A vida é estúpida, camarada.
Por isso, não há mais tempo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2000.
POEMA AO PRIMEIRO NAMORADO

Por nunca ter feito um poema,
Escrevo este assim meio sem jeito.
Já se passou tanto tempo
Que não lembro do cheiro nem do gosto,
Mas algo ficou, se a memória não me trai:
A textura da barba rala, da pele clara.
Ficou ainda a lembrança do nervosismo e do enjôo
Causados pelo primeiro beijo.

Hoje sinto ainda a falta de aconchego.
Está vivo o meu primeiro namorado?
Tudo já não é depois do que foi.
O meu primeiro namorado está morto.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1999.
COMENTÁRIOS

Por que é tão difícil ver o outro?

A dificuldade
(produto da nossa idade, dos tombos, dos pés atrás,
de ter um olho no padre e outro na missa...)
corrói o desejo
as especulações feitas
em torno das atitudes e da falta delas.
Uma única vírgula muda o cenário.
E nós estivemos com o livro sobre isso nas mãos e não lemos...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de agosto de 1999.
SALÃO

Deixa pra lá,
Que os sentimentos pedem nomes
Que não sei dar,
Pedem tanto dos corpos, das almas,
Que as pessoas não sabem mais
Agir, pensar.
O melhor é deixar pra lá,
Que a vida dá seu jeito,
Que a vida passa
E o que não se sabe
O que é também.
Deixa pra lá
O que está inquieto e inquietante,
Dentro do peito.
Deixa pra lá,
Peça mais uma cerveja,
Olhe as pessoas cantando, sambando,
Sinta o corpo vagar
E deixe este fazer da própria alma sua dama.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de junho de 1999.
DESNECESSÁRIO

As provas de amor
foram dadas
dadas em olhares cândidos
que não se desviavam,
do corpo teu,
dadas em frase soltas
por acaso
no caso das decisões
dos beijos e dos abraços
calados,
dadas até nas noites,
nos sonos, nos sonhos
mudos e escuros.
Cada dia comum
ao lado era uma prova
de que não se dão provas.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de junho de 1999.