PLEINE LUNE*
Solte sua irracionalidade
Em cima de mim!
Deixe
Que venha
E me devore
Como cães famintos,
Que me morda inteira.
Deixe
Que ela entre
Por olhos, mãos, boca, garganta.
Deixe
Que ela seja insânia!
Que suba por minhas pernas,
Por baixo da saia: deleite!
Ferindo a pele em gozo.
Deixe-a dormir exaurida
Recostada em meu pescoço
Entre meus cabelos.
Não a deixe presa
Em um quarto qualquer,
Esquecida no último andar.
Ela ficará
Nos olhando pela janela
Partir os caminhos.
Ela ficará surda,
Desejando a rua
Vista através de uma nesga,
Farejando os suores, o mar, o calor do asfalto.
E se ela escapar cega, cega
Esbarrando em tudo que vir?
E se ela desandar a subir vielas tontas?
E pior! E se ela se atirar no mar? Naufragar?
Estado de espírito
Boiando e lançando-se
Em vai-e-vem
– balé desengonçado –
Até aportar nas areias de madrugada.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 21 de março de 2008.
6h 40min
* Lua cheia
domingo, março 23
quinta-feira, março 20
segunda-feira, março 17
SER TÃO!
– Seja homem! – imperativo tachativo lançado a uma aluna que, com medo de uma quase inofensiva abelha, corria pela rua no memento de entrar no colégio. A abelha, creio que mais assustada, voava desnorteada com o pavor da menina. O que esperar da abelha? Ataque. O que esperar da menina?
Ser homem assume um peso ético: moral e comportamental que implica bravura, coragem, decisão, clareza e capacidade de resolução eficaz e acertada das situações-problemas da vida. Enfim, ser homem não é nada fácil.
A menina riu. O curioso é que no mesmo instante, entre o art sem graça e o medo da abelha, procurou se recompor e se vestir de uma armadura medieval de equilíbrio e sensatez: “O que é uma abelha? Um serzinho... E eu? Um serzão!” Talvez tenha pensado. E fez-se homem, como muitos homens de certidão de nascimento não são. Enfrentou a situação. Voltou a subir a rua e atravessou o portão sorrindo, sem – aparentemente – medo da abelha. Gloriosamente, com cabelos laureados, segue em frente!
Já na sala de aula, me abordou na porta: – Professora, não fale nada com a turma do mico que eu paguei não... – ainda sorria, mas superada a crise apídea, o sorriso era de efetiva alegria. Sorri cúmplice e entrei. O que mudou? O enfrentamento.
Seja homem também! Quem sabe os cacos ficam para trás e você sai livre e leve por aí?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de março de 2008.
– Seja homem! – imperativo tachativo lançado a uma aluna que, com medo de uma quase inofensiva abelha, corria pela rua no memento de entrar no colégio. A abelha, creio que mais assustada, voava desnorteada com o pavor da menina. O que esperar da abelha? Ataque. O que esperar da menina?
Ser homem assume um peso ético: moral e comportamental que implica bravura, coragem, decisão, clareza e capacidade de resolução eficaz e acertada das situações-problemas da vida. Enfim, ser homem não é nada fácil.
A menina riu. O curioso é que no mesmo instante, entre o art sem graça e o medo da abelha, procurou se recompor e se vestir de uma armadura medieval de equilíbrio e sensatez: “O que é uma abelha? Um serzinho... E eu? Um serzão!” Talvez tenha pensado. E fez-se homem, como muitos homens de certidão de nascimento não são. Enfrentou a situação. Voltou a subir a rua e atravessou o portão sorrindo, sem – aparentemente – medo da abelha. Gloriosamente, com cabelos laureados, segue em frente!
Já na sala de aula, me abordou na porta: – Professora, não fale nada com a turma do mico que eu paguei não... – ainda sorria, mas superada a crise apídea, o sorriso era de efetiva alegria. Sorri cúmplice e entrei. O que mudou? O enfrentamento.
Seja homem também! Quem sabe os cacos ficam para trás e você sai livre e leve por aí?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de março de 2008.
quinta-feira, março 6
PÓS-ROMANTISMO
Perdi a vontade sadia da espera.
Gosto de cabo de guarda-chuva
Na boca, olhar vagando.
E se vive mais assim,
Na acepção cotidiana do termo;
E se vive melhor assim,
Na concepção covarde e frouxa da vida;
E se anula mais assim
A tempestade que dá sentido a tudo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2008.
Perdi a vontade sadia da espera.
Gosto de cabo de guarda-chuva
Na boca, olhar vagando.
E se vive mais assim,
Na acepção cotidiana do termo;
E se vive melhor assim,
Na concepção covarde e frouxa da vida;
E se anula mais assim
A tempestade que dá sentido a tudo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2008.
domingo, março 2
ATENTA
Lançada no olho do furacão
Por um simples vibrar.
Tudo negro ao redor:
Apenas a luz pisca verde em chamado de alegria.
Arrebatamento pela voz...
Um precipitar,
Um desejo,
Um frenesi,
Um sorriso franco.
Todas as cores de sensações e sentimentos e sentidos
Suspensas no ar,
Prontas para desabarem em minha cabeça
– bolha de sabão! –
No ato do reencontro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de março de 2008.
Lançada no olho do furacão
Por um simples vibrar.
Tudo negro ao redor:
Apenas a luz pisca verde em chamado de alegria.
Arrebatamento pela voz...
Um precipitar,
Um desejo,
Um frenesi,
Um sorriso franco.
Todas as cores de sensações e sentimentos e sentidos
Suspensas no ar,
Prontas para desabarem em minha cabeça
– bolha de sabão! –
No ato do reencontro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de março de 2008.
sábado, março 1

VAGO
Não cessa o ir e vir de amores...
A onda que arrebata
Quando o toque grita na pele
À presença quente e úmida do outro
No momento de reconhecimento
– cicatriz de Ulisses! –
É a mesma que carrega vida e traz corpos,
É a mesma do mergulho mudo e extático dos dias de verão,
É a mesma que afoga pesadelos,
É a mesma que me salva todos os dias do tédio,
É a mesma que não me dá certezas,
É a mesma que cultiva saudades e ansiedade do porvir.
Angélica de Oliveira Castilho
Não cessa o ir e vir de amores...
A onda que arrebata
Quando o toque grita na pele
À presença quente e úmida do outro
No momento de reconhecimento
– cicatriz de Ulisses! –
É a mesma que carrega vida e traz corpos,
É a mesma do mergulho mudo e extático dos dias de verão,
É a mesma que afoga pesadelos,
É a mesma que me salva todos os dias do tédio,
É a mesma que não me dá certezas,
É a mesma que cultiva saudades e ansiedade do porvir.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 2008.
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