quinta-feira, junho 28






A SERVIÇO DO PORRE E DA AMIZADE*

É, minha gente... Quem disse que o espírito junino acabou? Saibam que em uma casa do bairro de Colégio amigos se reuniam para celebrar a vida diante de uma fogueira, em noite estrelada, com balões no céu, fogos, enfim, um cenário perfeito – tirando os balões devido a toda problemática de incêndio e coisa e tal, mas que tem sempre uns filhos da puta para soltar... – de véspera de são João.
Teve de tudo: elfos pulando fogueira, batata-doce carbonizada, meninas de Maria-chiquinha e pintinhas, pastel de carne de soja, quentão incrementado, salsichão e bolo de milho divididos irmanamente, uma noiva acidental, banho de cerveja com direito a hidratação capilar.
Como o que importa é a filosofia improvisada e cotidiana, chegamos a muitas considerações – nenhuma conclusão, afinal tudo é possível e qualquer equação quebrar-se diante da subjetividade. Ao longo da bebedeira seriedade, bobeira e dores e felicidades extremas foram aparecendo:
1. Homem é tudo igual, só muda o CPF, porque, na verdade, mulher também é tudo igual... E tanto um quanto outro se igualam, logo, é o ser humano que não presta... Que merda, hein?
2. Ninguém ajuda ninguém a subir na vida. Até o ditado de “quem tem padrinho não morre pagão” está perdendo a validade.
3. Que se até um certa idade não se aprendeu a cavalgar, já era... Mas a esperança fica sempre a espreitar machadianamente com seus olhos verdes pelos cantos de nos mesmos.
4. Conseqüência do item acima: quando nos vemos com um tempo que nunca tivemos, procuramos realizar desejos guardados e graças a Deus que o tempo de executá-los chegou! Então, vale tudo: equitação, hidroginástica, puxar ferro, meditação, caminhadas e trilhas, noitadas, fumar, carimbos de sapinhos, teatro toda semana, ler Vogue, Boa Forma e Elle, comprar perfumes caros, matar aula para beber.
5. a vida é um carpe diem injusto, porque a cada dia que passa o nosso corpo morre um pouco, não importa se aproveitamos ou não... So, baby... o Sul é perto. Viva o shype! Viva a teoria do “L”!
6. Toda transgressão implica um nível de subjetivismo. Cada ultrapassagem de limite é mesmo que subconscientemente pré-determinada, sendo assim, os limites individuais nunca são ultrapassados... Piração? Que nada! Faremos até camisetas que sintetizam metaforicamente essa questão complexa com o seguinte dizer: “fumar maconha é mole. Quero ver dar o cu”. Trash? Mas cabal! Quem se sentir muito radical vai adaptar por “elemento químico”.
7. As comunidades do orkut são a liberação de toda forma criativa e anti-repressiva. A maioria de ídolos urbanos que refletem nosso imaginário coletivo. A comunidade “Kinoplex” é uma delas. O termo é uma grande metáfora! Tudo pode ser kinoplex, o que torna o uso extremamente lúdico. Ele continua rendendo gargalhadas até hoje. Outra comunidade que precisa surgir é “Porra, Nenhém!” – o autor do aforismo, por motivos de segurança de todos os citados nos créditos, precisa permanecer anônimo... ela dá a dimensão de um relacionamento, seja ela qual for, é um misto de doçura e rispidez e é exatamente esse tempero que torna interessante o convívio. Na verdade, o ser inominado é ídolo de parte da galera, cada qual por seus motivos... Ele é o brucutu mais terno das redondezas, ou seria o terno mais brucutu? Vai entender a alma humana...
8. O dark room é um reflexo de uma dark mind: se um não vê, não toma consciência nem registra plasticamente os fatos, logo, o seu interior não é motivado a participar de uma interação completa o que poderia conduzir a um envolvimento. Quem não vê isola-se mesmo na extrema torça com corpos. Considerações psicológicas seriíssimas... O mundo hipermoderno despersonifica, é um fato.
9. Vender cabelo e fotos para própria namora é uma forma de capitalizar. E por que não seria?
Ninguém soube ao certo quando a fesa acabou, mas certamente todos devem ter dormido com um meio sorriso. Afinal, como salientou uma alma sábia: “Falar besteira é muito bom!”

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 25 de junho de 2007.
* Parte do dizer encontrado no bar Bip-Bip em Copacabana: “38 anos a serviço do porre e da amizade.”
** Agradecimentos ao amiguinho Elfo por ceder sua casa, a Tatá, Naná e Peteleco, a Aninha, Amandita e Palmeirex por termos composto esse grupo enlouquecido e frutífero!!

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