
domingo, outubro 21
ADVERTÊNCIA
Não tentem procurar a Angélica aqui.
Por favor, não.
Ela está solta pelas ruas,
Pulando carnaval,
Envolvida em filosóficas conversas de botequim,
Lendo Clarice e Nelson,
Indo ao Anima Mundi,
Caminhando nas areias da Barra.
Quem surge aqui
Não tem nome nem rosto nem gostos
E talvez nem exista!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2003.
Não tentem procurar a Angélica aqui.
Por favor, não.
Ela está solta pelas ruas,
Pulando carnaval,
Envolvida em filosóficas conversas de botequim,
Lendo Clarice e Nelson,
Indo ao Anima Mundi,
Caminhando nas areias da Barra.
Quem surge aqui
Não tem nome nem rosto nem gostos
E talvez nem exista!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2003.
MATURIDADE
Na adolescência, confundia paixão com tesão.
Agonicamente, tomava um sentir pelo outro
E como me consumia com culpa
Por meu caráter volúvel!
Hoje sei que as pessoas se apaixonam
Não só por corpos, mas pelo conjunto da obra.
Vivo mais sossegada.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2003.
Na adolescência, confundia paixão com tesão.
Agonicamente, tomava um sentir pelo outro
E como me consumia com culpa
Por meu caráter volúvel!
Hoje sei que as pessoas se apaixonam
Não só por corpos, mas pelo conjunto da obra.
Vivo mais sossegada.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2003.

ÀS MUSAS
Fui mordida pelo fruto do Bem e do Mal.
O conhecimento que desejava ter
Agora me tem.
E o desejo, serpente astuta,
Se mascara com as mais fascinantes promessas
“Bonheur! Bonheur! Bonheur!”, diz
E meu espírito leva.
O pecado não existe,
Sabedoria é salvação.
Deus a deu a Salomão em doses generosas.
A perdição e saber que é curta a vida para compreender tudo que se dela deseja
O dilaceramento está na escolha:
vivê-la sem questionar mais nada
ou buscar as coisas saber.
Ah, como é curto o tempo...
Vive melhor quem ignora?!
Não tenho coragem de vomitar o fruto,
Seu sabor é único e vem à boca
A cada livro entendido,
A cada observação feita
A cada olhar que enxerga.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2003.
Fui mordida pelo fruto do Bem e do Mal.
O conhecimento que desejava ter
Agora me tem.
E o desejo, serpente astuta,
Se mascara com as mais fascinantes promessas
“Bonheur! Bonheur! Bonheur!”, diz
E meu espírito leva.
O pecado não existe,
Sabedoria é salvação.
Deus a deu a Salomão em doses generosas.
A perdição e saber que é curta a vida para compreender tudo que se dela deseja
O dilaceramento está na escolha:
vivê-la sem questionar mais nada
ou buscar as coisas saber.
Ah, como é curto o tempo...
Vive melhor quem ignora?!
Não tenho coragem de vomitar o fruto,
Seu sabor é único e vem à boca
A cada livro entendido,
A cada observação feita
A cada olhar que enxerga.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2003.
PEDIDO
Os arcos como cenário
de meus amores –
batucadas cardíacas marcadas pelo surdo.
Nossa Senhora da Lapa,
dai-me um amor de verdade...
Iemanjá, olhai sua filha
que sofre nas quedas pelas ladeiras
de subida para Santa Tereza,
mas insiste na continuar!
Ela quer o céu da cidade,
contemplar a Marina
no aconchego de um abraço,
descer, depois, pelas vielas que se espalham:
Joaquim Silva, Mem de Sá, Lavradio, Senado.
Ela quer o samba que escorre dos sobrados.
Mamãe Oxum,
Ora iyê iyê ô!
Ajudai sua menina
Que chora perda do que não teve.
Epa hei oyá!
Iansã, trovejai!
Iansã, relampeai,
Clareai o olhar que procura!
Curais, mãezinhas,
O espírito espancado,
Revigorais a esperança
jogada entre os paralelepípedos,
caída moribunda aos saltos altos.
Já são muitos
os gritos que borram o batom,
as lágrimas que escorrem o rimel,
as mãos que desfazem o perfume
o suor que deixa a carne nua.
Piedade, todas vós!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2003.
Os arcos como cenário
de meus amores –
batucadas cardíacas marcadas pelo surdo.
Nossa Senhora da Lapa,
dai-me um amor de verdade...
Iemanjá, olhai sua filha
que sofre nas quedas pelas ladeiras
de subida para Santa Tereza,
mas insiste na continuar!
Ela quer o céu da cidade,
contemplar a Marina
no aconchego de um abraço,
descer, depois, pelas vielas que se espalham:
Joaquim Silva, Mem de Sá, Lavradio, Senado.
Ela quer o samba que escorre dos sobrados.
Mamãe Oxum,
Ora iyê iyê ô!
Ajudai sua menina
Que chora perda do que não teve.
Epa hei oyá!
Iansã, trovejai!
Iansã, relampeai,
Clareai o olhar que procura!
Curais, mãezinhas,
O espírito espancado,
Revigorais a esperança
jogada entre os paralelepípedos,
caída moribunda aos saltos altos.
Já são muitos
os gritos que borram o batom,
as lágrimas que escorrem o rimel,
as mãos que desfazem o perfume
o suor que deixa a carne nua.
Piedade, todas vós!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2003.

CONTINHO
Ele brinca com a aliança dela. A moça pedia-se no ato. Era como se entrasse num mundo único. Eles perderam-se no tempo... No toque leve, atingia-se o mais íntimo. Havia um erotismo tão latente que não precisavam de palavras, de olhares. Deram-se um ao outro e retomaram à prática ancestral da entrega de forma tão sofrida e alegre que se passaram séculos. E forma um e foram muitos.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2003.
Ele brinca com a aliança dela. A moça pedia-se no ato. Era como se entrasse num mundo único. Eles perderam-se no tempo... No toque leve, atingia-se o mais íntimo. Havia um erotismo tão latente que não precisavam de palavras, de olhares. Deram-se um ao outro e retomaram à prática ancestral da entrega de forma tão sofrida e alegre que se passaram séculos. E forma um e foram muitos.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2003.
DESNECESSÁRIO
Não preciso passar por você
Que é rio caudaloso
Cheio de destroços
Que volta e meia esbarro.
No meio da travessia
Me pergunto por que,
Se já atravessei meu próprio rio
E meu próprio deserto.
Minha insistência
Não altera a voracidade
Com que as águas me cobrem,
Não ameniza o fluxo constante
Magoando músculos,
Desorientando pensamentos.
Não me afogo,
Não me é dada a opção de morte.
Talvez eu saia encharcada de ti
Entre exaustão e tranqüilidade.
Talvez... Talvez tantas coisas!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de março de 2003.
Não preciso passar por você
Que é rio caudaloso
Cheio de destroços
Que volta e meia esbarro.
No meio da travessia
Me pergunto por que,
Se já atravessei meu próprio rio
E meu próprio deserto.
Minha insistência
Não altera a voracidade
Com que as águas me cobrem,
Não ameniza o fluxo constante
Magoando músculos,
Desorientando pensamentos.
Não me afogo,
Não me é dada a opção de morte.
Talvez eu saia encharcada de ti
Entre exaustão e tranqüilidade.
Talvez... Talvez tantas coisas!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de março de 2003.
VIA TRANSVERSA
Dilacerada!
Pedaços de mim flutuam pela casa.
Outros estão largados
Na Letras,
Na Linha Vermelha,
No Túnel Santa Bárbara,
Na Lagoa,
No Humaitá – campo de batalha! –,
Em Santa Tereza – nas ladeiras
a caminho do calvário onde
me sacrifiquei ao Homem
e de onde correu meu sangue
que banhou a nós
que banhou a cidade
em explosão sôfrega
de beijo-chorado
entre abraços-espadas
olhares-meteoros
palavras-cadentes.
No Santos Drumont...
Eu era Cristo, Joana D’arc,
São Jorge em suas mortes,
Em suas vidas...
Eu entendia, enfim,
Que a suprema alegria do encontro
Pode ser, igualmente,
A dor absoluta da perda.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de março de 2003.
Dilacerada!
Pedaços de mim flutuam pela casa.
Outros estão largados
Na Letras,
Na Linha Vermelha,
No Túnel Santa Bárbara,
Na Lagoa,
No Humaitá – campo de batalha! –,
Em Santa Tereza – nas ladeiras
a caminho do calvário onde
me sacrifiquei ao Homem
e de onde correu meu sangue
que banhou a nós
que banhou a cidade
em explosão sôfrega
de beijo-chorado
entre abraços-espadas
olhares-meteoros
palavras-cadentes.
No Santos Drumont...
Eu era Cristo, Joana D’arc,
São Jorge em suas mortes,
Em suas vidas...
Eu entendia, enfim,
Que a suprema alegria do encontro
Pode ser, igualmente,
A dor absoluta da perda.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de março de 2003.
Assinar:
Postagens (Atom)