domingo, outubro 21

PEDIDO

Os arcos como cenário
de meus amores –
batucadas cardíacas marcadas pelo surdo.
Nossa Senhora da Lapa,
dai-me um amor de verdade...
Iemanjá, olhai sua filha
que sofre nas quedas pelas ladeiras
de subida para Santa Tereza,
mas insiste na continuar!
Ela quer o céu da cidade,
contemplar a Marina
no aconchego de um abraço,
descer, depois, pelas vielas que se espalham:
Joaquim Silva, Mem de Sá, Lavradio, Senado.
Ela quer o samba que escorre dos sobrados.
Mamãe Oxum,
Ora iyê iyê ô!
Ajudai sua menina
Que chora perda do que não teve.
Epa hei oyá!
Iansã, trovejai!
Iansã, relampeai,
Clareai o olhar que procura!
Curais, mãezinhas,
O espírito espancado,
Revigorais a esperança
jogada entre os paralelepípedos,
caída moribunda aos saltos altos.
Já são muitos
os gritos que borram o batom,
as lágrimas que escorrem o rimel,
as mãos que desfazem o perfume
o suor que deixa a carne nua.
Piedade, todas vós!

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2003.

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