sexta-feira, agosto 21

MARRIAGE AU GLÓRIA

I

Unindo...

Negra
Só as luzes da Marina tremem e anunciam vida
Só as luzes que escapam pelas portas e invadem o adro dizem

Solene e única e tão só ela segue:
Marcha em êxtase do que é ser mulher

Cobre o véu e eis que é luminária humana
A figura que entra banhada por rios e mares,
Adornada pelas horas
Dos tempos que vão vir.

Unidos.


II

Festa
Rosas murchas

Muro de vozes

Olhara atento:
tentação do corpo do outro
Querer: tato e gosto de champanha, docinhos e saliva.

Vida em botão
Flor e ser

As pinturas observam os homens

Rodopiar em passos
Animados riscando o assoalho

Papeis pelo salão
Em desordem deliciosa doce dúbia dupla doida

Festa (!) de dois após a multidão.

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2009.

Marc Chagall, pintor judeu-russo surrealista.


Bouquet with flying lovers, 1947.



Branch, 1956.


Os noivos no céu de Paris.


View of Paris.

The wedding candles, 1945.

Le couple, 1977.



La fête du marriage, 1978.

quarta-feira, julho 22

DESDOBRAMENTOS

Romântico:
- O amor possível é o fim do amor...
Moderno:
- O amor possível são todas as possibilidades de amor.
Pós-Moderno:
- Amor? Vende onde?

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 13 de julho de 2009.

quarta-feira, julho 15


CAPA DE CADERNO

Loucura maior é não ter mais orelhas para decepar...

E essa tela que me acompanha...
Lembrança de infância,
misto de espanto e indagação,
curiosidade de quem vê o mundo e só sente – visão não associada à explicações formais, visão com o tato e com o cheiro das situações –,
explosão de sentir,
um mundo inteiro – redondo como cada girassol –
se abrindo em flor macia e gostosa.

Se eu pudesse saber o que era, não teria visto
Se eu pudesse fugir do que previa, não teria acontecido
Se eu pudesse não sofrer as alegrias, não teria sido!

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de julho de 2009.
19h 04min

Sunflowers, 1888
Vincent Van Gogh Pintor Holandês (Pós-Impressionismo) 1853 – 1890

quinta-feira, julho 9

CAMINHOS

Fascinante
Delírio
Vertigem

Abismo do não eu
que me diz na totalidade.
Ser a queda que é transcendência
é o estado de glória verdadeiro,
dá a dimensão da humanidade - neuf sur dix.

Descer de escadas para crescer na contramão
Coroa invisível de louros
Humildade
Acesso eterno a você mesmo


Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 2 de julho de 2009.

quinta-feira, julho 2



AMOR DE LOBOS

... vou-vos contar uma história de assombrar... e de magia... e de feitiços... e de poesia...uma história de amor, onde se mistura a racionalidade com a irracionalidade... poderei dizer que é uma história sobre a descoberta do amor... aquele amor que está muito dentro de nós, escondido e que, um dia, sem darmos por isso, brota cá para fora e como uma flor bonita, desabrocha aos primeiros raios de sol da manhã...

..seriam cerca das 3 da madrugada quando na esquina da velha igreja daquela velha aldeia lá muito ao norte, quase a perder de vista a sua própria existência, se juntaram em silêncio 4 esbeltas mulheres de longos cabelos à solta, todas elas vestidas de branco... um branco alvo, como vestidas de noivas, sem véus nem grinaldas mas de branco... sentia-se um vento meio gélido naquele campo verde que se estendia para além das traseiras daquela velha igreja daquela velha aldeia... mas não se notou qualquer tremor de frio em nenhuma daquelas 4 esbeltas mulheres... a cor dos seus corpos roçava a cor do leite que, momentos antes haviam bebido dum mesmo canado... seus olhos negros, profundos, brilhavam quando os raios do luar daquela lua cheia lhes batiam nas faces em todo o seu fulgor... era uma lua grande, de prata, brilhando num brilho baço mas ao mesmo tempo ofuscante... deram-se as mãos umas às outras e continuaram o seu caminho... para trás ficava tão-somente um cheiro a flores... seus pés estavam nus e pareciam caminhar por sobre a erva daninha daquele campo verde... lá ao longe, um pouco mais para cima, divisava-se um morro e no cimo desse morro uma frondosa árvore, erguia os seus ramos numa espécie de posicionamento de espera e de aceitação... como que esperando por elas e pronta a abraçá-las... o silêncio era total e entre elas não se ouvia um único som... quem as visse de longe para cá daquela velha igreja daquela velha aldeia, pensaria que as 4 visões voavam ou pelo menos deslizavam...
...cada uma das que ficavam na ponta levava um cesto de verga coberto por pano branco de linho feito... ...e eis que chegaram aos pés da árvore...
...pousaram os 2 cestos de verga no chão e deram-se as mãos num círculo que abraçou o tronco da árvore frondosa e num misto de magia a árvore como que se baixou sobre elas como que as cobrindo num acto fálico enquanto as suas folhas roçavam os seus corpos...
...dos cestos, depois de terem desfeito o círculo, tiraram algo que não era visível aos olhos dos outros seres humanos e que não era possível descrever...
...entretanto, algures, num outro ponto daquela aldeia, deitado numa cama de doces sonhos, um homem alto, bem constituído fisicamente, com o corpo nu coberto de pelos negros, dormia e via-se que estava possuído por algum sonho de lascívio prazer, pois notava-se através da roupa da cama que o cobria que o seu sexo estava excitado e algumas gotas de suor lhe cobriam o peito forte...
...repentinamente, num passe de feitiço, esse "sonho" transportou-o para os pés daquela árvore frondosa onde se encontravam as 4 mulheres lindas vestidas de branco... ele olhou para ele mesmo e viu-se nu, tal como viera ao mundo e ao ver aquelas mulheres instintivamente levou as mãos numa tentativa de tapar o seu sexo erecto...
... a partir desse momento aquele homem entrou num espanto e seus olhos não queriam crer naquilo que estavam a ver...
... elas se começaram a despir e apenas tinham aquele vestido branco sobre as suas peles acetinadas cor de leite... e ele olhava... elas começaram a sorrir e os seus sorrisos eram como um convite ao sonho... daqueles cestos retiraram uns frascos que continham vários fluidos e começaram a untar os seus corpos... e ele olhava e começava a compreender o que via... elas o fizeram ver... uma se untava de mel, uma outra de untava de leite puro de ovelha uma outra de água salgada do mar e a outra de um creme que cheirava a jasmim... e ele não resistiu e o sexo se tornou novamente erecto e o seu corpo parou de tremer...
... aqueles corpos untados cintilavam quando os raios da lua cheia lhes batia na pele e elas continuaram com o ritual... todo o seu corpo foi untado incluindo os seios, o pescoço, as pernas,... apenas os cabelos soltos ficaram secos...
...então, elas se aproximaram daquele homem e se roçaram por ele de tal forma que o corpo dele ficou totalmente embebido daquela mistura de fluidos...apenas as mãos dele ficaram secas... e num acto quase que instintivo elas se deitaram no chão sobre os vestidos brancos que faziam de leito, o leito do amor, o leito da procura do amor, o leito da descoberta do amor... e ele se misturou com elas e começou a possuí-las, uma a uma, e também numa mistura arbitrária de escolha... o seu corpo confundia-se agora com o corpo delas e já não existiam 4 mulheres ali... apenas existia uma única mulher onde ele se fundia numa escolha impossível... os ventres juntavam-se e os costados também... ele as tomou por detrás agarrando-se aos cabelos delas com as suas mãos possantes e puxava as cabeças delas num misto de prazer e dor, de agonia e êxtase, como se tudo se pudesse perder num só instante, numa avidez de gozo indescritível ... de repente ele sentiu os diversos odores que o cercavam e aos poucos foi deixando uma a uma até que ficou olhando aquela que cheirava a mar... e, nesse momento, algo de mágico se passou: um raio de luar atingiu-o e ele numa nova forma de sentir, viu lentamente o seu corpo transformar-se em lobo, um corpo coberto de pelo sedoso negro e brilhante ao mesmo tempo que a mulher que cheirava a mar se posicionava como fêmea do lobo... e ele a agarrou pelos cabelos puxando a sua cabeça para o seu peito e com firmeza a penetrou fundo num acto de posse total, num acto de prazer inimaginável onde a fusão foi possível tão-somente por magia... o seu corpo ofegou e o instinto animal veio ao de cima e, no mesmo momento em que lambia todo aquele mar, ele, num último uivo lancinante de prazer, espalhou sobre ela todo o fruto do seu amor... então os corpos se misturaram e apenas se divisava um casal de lobos fazendo amor... os seus corpos não conseguiam parar e num espasmo final ela se transformou em maresia, como que alva espuma misturada com o fluído dele...
...então, naquele silêncio de corpos se amando, um último uivo, não o dele mas o dela, se fez ouvir por aquela encosta abaixo, no preciso momento em que os primeiros raios de sol começavam ao longe, bem perto daquela velha igreja daquela velha aldeia, a despontar...
...nesse momento, o homem acordou de repente na sua cama e olhou e viu: uma mulher linda, vestida de branco, dormia profundamente ao seu lado..."


AUTOR DESCONHECIDO

terça-feira, junho 9

As Praias Desertas

As praias desertas continuam

Esperando por nós dois
A este encontro eu não devo faltar
O mar que brinca na areia
Está sempre a chamar
Agora eu sei que não posso faltar
O vento que venta lá fora
O mato onde não vai ninguém
Tudo me diz
Não podes mais fingir
Porque tudo na vida há de ser sempre assim
Se eu gosto de você
E você gosta de mim
As praias desertas continuam
Esperando por nós dois

Antonio Carlos Jobim

Eu e Água
A água arrepiada pelo vento

A água e seu cochicho
A água e seu rugido
A água e seu silência
A água me contou muitos segredos
Guardou os meus segredos
Refez os meus desenhos
Trouxe e levou meus medos
A grande mãe me viu num quarto cheio d'água
Num enorme quarto lindo e cheio d'água
E eu nunca me afogava
O mar total e eu dentro do enterno ventre
E voz de meu pai, voz de muitas águas
Depois o rio passa
Eu e água, eu e água
Eu
Cachoeira, lago, onda, gota
Chuva miúda, fonte, neve, mar
A vida que me é dada
Eu e água
A água
Lava as mazelas do mundo
E lava a minha alma

Caetano Veloso

























ROTAÇÃO

Tenho um mundo girando na minha frente,
no qual às vezes eu caio dentro
e fujo do mundo –
porque os mundos são muitos
e o outro-mundo é fascinante –,
e do qual salto às vezes
e fico perdida com sensação de achada –
porque vejo tudo diferente,
porque, afinal de contas,
tudo está diferente!
Os olhos que veem são diferentes...

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 05 de junho de 2009.

MORADA

Força de ventos

em sorrisos no

ar. Tom de cores

cinza-azul

de sonhos.

Castelo sem muros.

Odô ia!

Angélica Castilho

maio de 2009

sexta-feira, março 6


Gratia Plena

Esse gosto de futuro invade os poros
E faz sentir-me já sendo outra de mim mesma,
Transtornada, transfigurada, translúcida, transcendental
Em catarse dionisíaca do (in)ter-you.
Apenas o rosto é o mesmo
E segue pelas ruas com se nada estivesse acontecendo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de janeiro, 04 de março de 2009.
Menininha Sapeca

Nessa felicidade
Que é luz
De fogos
E
Beijos debaixo de chuva,
Fico pelos vãos
Me escondendo
Com um sorriso sonso:
Disfarce de alegria...
Ah! Alegria...
Que é tanta
Que é pura
Que é tão íntima e secreta,
Tesouro trancafiado por trás do olhar
Entre abraços e palavras dengosas e ronronar de amantes.
Por toda essa grandeza, uma alegria frágil:
Criança comendo doce roubado que não pode ser vista,
Mas lambuza o rosto...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de janeiro, 04 de março de 2009.

sábado, dezembro 20

HIDRA DE LERNA

Amor e suas muitas cabeças!
São tantas
E tão poço tempo pra entendê-las
E quando julga entender,
Ele já não mais é:
Entender é cortar cabeças para delas surgirem outras emdobro
E não se pode,
Em hipótese alguma, queimar-lhes o corte: morta a hidra, morta a vida.
Esse monstro deve ser domesticado e morder-nos
Calcanhares e sonhos.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2008.
OIÁ IANSÃ

Coragem é tudo!
Há pessoas que são pé de vento,
bailam nesse ir e vir da vida:
ida, ida, ida sem mas nem porquês.
Voltar em voltas, em rodopios,
pelo ar que é assim
que a Moça dos Ventos vive.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 2008.

quarta-feira, novembro 12

P.S.

Vida plena!
E quem disse que não se ama nessa cidade?

O sorriso único.
Corpos simplesmente flutuando.

Tudo já foi dito
Só nos resta viver.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 10 de novembro de 2008.
ATO

Felicidade tem nome:
Nós!
Amor em todas as faces.
Amor...
Simplesmente amor.
Eros e Psique
Flutuando pelos caminhos.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 05 de novembro de 2008.

LABIRINTO

Estar perdido é solução.
Caminho cego
Em fio de Ariadne de luz,
De olho para olho
De boca para boca
De pele para pele.
A chegada e a partida
São o mesmo ponto.
Paixão! Paixão!
Verdade única.
Não quero sair
E este é o lugar.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2008.
MIL E UMA NOITES

O quarto e universo e tudo.
As histórias somos nós.

Cherazarde às avessas,
contando para não acabar o tempo.
Amanhecer é o mesmo que saudades.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2008.
DELÍRIOS LAPIANOS

Cá, cá, cá
Carnaval
Na, na, na
Não interessa!
Vou beber todas
To, to aqui
Por aí
Pra pular carnaval
No aval com o
Momo que sorri
Ri! Ri! Rio!
Que maravilha
Nossa ilha de alegria
Não tem CPI nem mensalão
Tem alegria do povão
Que só quer rir
Ri1 Ri! Ri!
Rio!...

Angélica Castilho
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Bar do Juca

Rá, rá, ra´
Já vão nos expulsar
Vamos beber até cair
Mas vamos nos divertir
E quando o sol surgir
Pegar um táxi
Porque a lei seca ta aí!

Angélica Castilho
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Bar do Juca

(Esse site está em construção)

O que é xX?
Qd (Lim x)
è + (símbolo do infinito que não tem no meu micro para colocar...)
(o que são 15 dias quando
o tempo tende à eternidade?)
R: Tempo de c... é r...

Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII

“Eu sou um pós-lispectorano.”

Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Madrugada no Bar Arco-Íris.

NÓS

E para o além
Pós e tudo lacto e stricto
é sempre ontem sendo hoje!

Angélica Castilho
28/IX/MMVIII
Madrugada no Bar Arco-Íris.

terça-feira, outubro 14

ENCANTADOS

Sopro de Deus!...
Início...
E nada mais será como antes.
Química ancestral
De eus que se dão
E se reconhecem:
Espelhos sem inversão
Em mimetismo espontâneo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2008.

domingo, outubro 5

EROS E PSIQUÉ[1]

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
ergue a mão, e encontra hera,
e vê que ele mesmo era
a Princesa que dormia.


[1] PESSOA, Fernando. Poesias. 5. ed. Lisboa: Ática, 1958.

sexta-feira, outubro 3

DIALOGANDO COM OCTAVIO PAZ

Amor:
solo desnudo
onde
todas as faces
ficam expostas;
chão arifertil
de nós mesmos
no centro móvel
de eus itinerantes
ocm bússola circular;
ato de
caminhar,
caminhar,
caminhar,
caminhar,
caminhar
para chegar
onde
já se estava sem saber.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de outubro de 2008.

terça-feira, setembro 30

QUASE ANJOS

Essa candura
que se mistura
com saliva e roçar de pele
é o que nos humaniza.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2008.
ORAÇÃO

Medo de ser sonho
E acordar dando
Golfadas de alegria,
Sujar a camisola, as pernas, a cama –
contentamento se perdendo
pelo quarto
em estado de pranto de alma.
Queria Deus ser terno
No ermo de dois:
Amplidão azul de céu e de mar
No espaço de corpos.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2008.

segunda-feira, setembro 29

ÉBRIOS

Caras e caretas
eternas
cervejas
e veja

que tudo é
é, é, é...
beber e falar
sem ser olhos

de visão total e racional.
Isto é ser... eterno!

Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2008.

P.S.: II Encontro de LETRAS TORTAS

quinta-feira, setembro 25

SOL E CHUVA

Estou cansado e meus olhos projetam o futuro em branco:
as cores foram pintadas de luz!
Cadê o futuro?
Cadê o futuro?
O medo se infiltra pelos cabelos, pelas unhas.
Ternura e tédio ao pé do precipício.
Celeumas de mim!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de setembro de 2008.
BILHETES

Não sei mais suportar.
Os outros são tão outros que a mim não se estende a vós. Não há hermanos?! E o que faço para purgar o carinho que existe no espaço de fotos, sorrisos, palavras? O que faço agora que tenho a azeda visão de estar só. Estado único e uno, equívoco de gêmeos, perna sem par.

Constatei tarde que a procura é a mesma do andrógino partido que não é mais filho do Sol, nem filho da Terra, nem filho da Lua. Olhar cego para o umbigo: cicatriz da solidão. E agora?! O que faço? Logo eu que sempre fui multidão e desdenhava Eros por achá-lo tacanha, nhem-nhem-nhem e cacete? Pasmo de quem teimou ser philos a salvação.

Congelei de susto enquanto esperava um café expresso admirando o vai-e-vem da Cinelândia. Alma decepcionada tem a gravidade e quase a eternidade de um iceberg. “Não tenho em quem confiar...” Um slogan de camiseta em passeata. Definhar... Afiar... a espada para a guerra de ser só.

Não sei dizer que dor é essa diante da morte de tudo: morte de um homem, morte do sonho de ter um filho, morte da vontade de viver, morte da alegria adolescente, morte dos sorrisos. Só sei que dói e amassa por dentro. E não se tem fome, não se tem sede. Apenas choro.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2008.
ORIKÍ

Airosa
Ar
Em rosas
pétalas
no ar.
Dançar
de moça
vistosa
graciosa,
Oiá!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 09 de setembro de 2008.

quinta-feira, setembro 11

FÓSFORO

Só em total
Escuridão
há consciência
de ti.
A mínima claridade
te põe
a perder:
chama
que se acaba no ar,
gozo e morte.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 07 de setembro de 2008.
ATITUDE INFANTIL

Sempre que
topo com um espelho
dou a volta
para ver o que há atrás.
Espanto sempre!
Um vazio
inteiro e revelador.
Para onde foi o outro lado,
a face esquerda,
luz de tudo que não há?

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de setembro de 2008
.





RIO QUE PASSOU

Abismar-me
de azul e branco
em um mar de cerveja
com tamborins sussurrando ao fundo.
Verdade única e urgente de uma vida inteira.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de setembro de 2008.

segunda-feira, setembro 1

INTERVALO

Nosso herói vive entre parêntese. Narrativa interrompida por peripécias, esclarecimentos, silêncios, sem perspectiva de fechamento. Suspensão do curso sem mais nem menos. O tempo, entretanto, não pára! E essa vida paralítica, sifilítica, esquisita... em curto circuito.
Perigo de cair em abismo antes de terminar a história.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2008.
MORTE DA PORTA-BANDEIRA

Ebulição
atos desconexos
aço
ação
baque
o som do surdo
...
cascatas de
olhos de cristais
mares
no peito oco.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2008.

domingo, agosto 31

IDÉE FIXE

Moinhos de vento
Moinhos de vento
Moinhos de vento
Vento vendo
Veeeeem tudo triturado
Pelos cantos
Espalhado e insistindo em ficar
Embora seja sombra
Embora seja miragem
Embora seja névoa
Embora seja susto

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2008.

quinta-feira, agosto 21

HOMEM IDEAL

Que seja mais macho do que eu.
É pedir muito?

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 21 de agosto de 2008.
EROSÃO

Tu me ligaste, Ogro!
E já há tempos te desejava
E não vinhas.

Só ventanias
cortando rochas.
Só chuvas
abrindo fendas.
Só raios
rachando árvores
Só trovões
rompendo campos.

Solidão em três atos,
uma quase comédia de costumes.
A paisagem já é outra
novas fronteiras,
mapa-múndi mo(e)dificado.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2008.
AULA DE SEXTA

Uma moça com nome de flor guarda coisas do enxoval e as usa em uma rotina marital que não há. Rosa azul nos atos e no nome. Alma romântica, pois não? Mas e eu, meu Deus?! O que guardo ainda por não guardar coisa alguma? O que uso ainda com e nesse meu desapego pelo que não é utilitário, utilizável, último de nós? O que eu faço com essa imaterialidade que me assombra mais até do que os garfos da moça-botão-congelado usados casualmente nas refeições feitas no trabalho? E que nome eu dou ao vazio que psicanalista lacaniano algum ousaria investigar?

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
ESSÊNCIA DO AMOR

Transitivo e transitório:
amor em estado bruto.

O que estraga é burilar a pedra,
dá-la muitas faces lisas,
espelhos para o nada.
O que estraga é o adorno
de plástico
que fica fosco
com a poeira dos dias
sem primavera.
O que estraga
são os planos
sobre o que não virá.
O que estraga
somos nós!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
INCENDIÁRIOS

Arde-me todo o corpo.
Tenho sede, sede, sede!
Sede e nada mais.
Seda-me o mais:

Sois
Sóis em colisão.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
UM ARCANO MAIOR

Estrela caiu em mim
Queimou-me o corpo
Tornou-me prata
Renovou-me em composição de guerra,
dinossauros, perfumes, olhares, palavras, gozos.
Transformou-me em pontas agudas esparramadas:
antenas incessantes de e insaciáveis por
vida.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
VATICINANDO

Ando assim há dias! Adiar de felicidade que pressinto, logo, que já existe. Ela ronda ladina, mansa... Mançano! Mançano! Ah... morder o fruto... e ser arrebatada... Voltar, então, ao sentido da vida.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
CONVERSINHA ENTRE IRMÃOS

Tenho jeito não...
Perdida é que me encontro
O mais?!
É o beijo da Noite.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
ENTÃO...

Vivo a crise de Fausto estendida:
a vida é curta para tudo que desejo saber e para os amores que quero ter.
Estado de avessos rosianos:
Diadorim em síntese,
anjo e demônio,
cabala!
Perfeitamente
todas as possibilidades reinantes
na infância da maturidade.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
RELEITURA

De branco e com flores,
Ofélia ressuscitada e contemporânea.
Já é outra
E vive de amores
Pelos bares,
Pelas ruas assobiando um sambinha maroto
Pela Avenida de azul e branco desfilando.
Mergulho?! Só em palavras e copos
E destes volta sempre plena e renovada.
A visão frágil contrastando com um ser em armas:
Perfeitamente humana!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2008.
EXULTANTE

Tão, tão feliz!
E a felicidade
é aqui
é presente,
é factual,
in medias
Gravada no ah... de agora!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2008.

sábado, agosto 16


Bar do Juca, Lapa

15.08.2008

Carioca da Gema, Lapa

15.08.2008

Carioca da Gema, Lapa

15.08.2008

Carioca da Gema, Lapa

15.08.2008

Carioca da Gema, Lapa

15.08.2008

Carioca da Gema, Lapa

15.08.2008

Carioca da Gema, Lapa

15.08.2008

Carioca da Gema, Lapa

15.08.2008

Carioca da Gema, Lapa

15.08.2008

quinta-feira, agosto 14



FELICIDADE CLANDESTINA

Clarice Lispector

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos de blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do recife mesmo, onde escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranq6uilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que eu dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Cheguei em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem toca-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 9-12.

quarta-feira, agosto 13

OLHANDO ATRAVÉS DA VIDRAÇA

Ser que se pré-ocupa de tudo
E está sendo obrigado a viver um dia de cada vez,
Em crescimento paulatino e amarrado,
Contido em vinte e quatro horas.
Não há tempo para ansiedade
E tudo se resolve assustadoramente em tranqüilidade.
Há paz nesse viver sem amanhã,
É-se hoje, necessita-se se hoje.
Ser antes atormentado pelo devir,
É hoje em profusão, em ebulição,
Descanso no olho do furacão.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2008.
EM GRAÇA

Estou deliciosamente tomada por presente e por futuro,
Cega para tudo e terrivelmente tátil para o mundo!
Estou cinética! Fortemente expressiva em vozes e atos.
Estou texto e som e canto e dança.
Viver assim provoca uma fúria doce!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2008.

domingo, agosto 3

DESCOMPASSO

Eu queria poder ser
longe de todos.
Mas me amarraram aqui,
Mas não me deixam sair,
Mas ainda existe ar
nesse cubículo absurdo
que chamam de vida!

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 31 de julho de 2008.

quinta-feira, julho 31

COQUETEL: RAZÃO E SENSIBILIDADE

Ando pensando freqüentemente nas maiores banalidades desse cotidiano com hora marcada e lugar estipulado de quem quiser estar presente. Ando sonhando com você e acordo de madrugada já achando ser hora de sair. Que nome dar – sou obcecada por nomes! – ao que sinto? Não há coração acelerado, não há admiração irrestrita, não há toques. Há, no entanto, um fio que se estabelece quando os olhares se cruzam e não conseguem se desprender: mergulho no outro em uma quase projeção astral.
Hoje sai triste, triste, triste. Houve uma frustração dessa expectativa estranha e fora dos padrões. Hoje era sua outra face que estava presente. Hoje tudo estava amaríssimo nesse imã de olhares. Hoje se fez presente apenas corpos. Hoje as almas saíram para passear por aí e nem disseram quando voltariam e, que chato, chegaram quando já estava principiando meu caminho de casa. E elas voltaram tão abruptamente que a minha chegou e ficou meio tonta, meio a flor da pele, meio menina de dez anos e a sua só passou e deu um alô de exatamente três minutos. Fatalidade: confronto entre um corpo tosco e uma alma cândida demais. Resultado: uma tarde de soluços e orações seguidos de verdadeiro desejo de não sonhar mais, dormindo ou acordada, com você.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 31 de julho de 2008.
O VAMPIRO

Tarde ensolarada e fria. Faxina na casa. Telefone tocando. Pasmo do passado rondando a porta, vigiando lares pela cidade, lendo textos e fotos, revirando lixo, colhendo dados, bebendo em fontes de injúrias. A voz de Clara tinha dado o semidesfalecer e a dormência em anúncio. Odô ia! Odô ia! O abebé faz vento para afastar. A tríplice aliança sendo usada e dois corações entre as armas de Ogum e de Iemanjá. O distanciamento da história confere tom surreal: teatro do absurdo. Restava fincar a estaca mais uma vez. Missão cumprida!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2008.

segunda-feira, julho 28


BOA SORTE / GOOD LUCK
Vanessa Da Mata


É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte!
Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

That's it
There's no way
It's over, Good luck!
I've nothing left to say
It’s only words
And what l feel
Won’t change
Tudo o que quer me dar
Everything you want to give me
É demais
It's too much
É pesado
It’s heavy
Não há paz
There is no peace
Tudo o que quer de mim
All you want from meIrreais
Isn’t real
Expectativas
Expectations
Desleais
Mesmo se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha
Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais

Now even if you hold yourse
lf I want you to get cured
From this person
Who advises you
There is a disconnection
See through this point of view
There are so many special people in the world
So many special people in the world, in the world
All you want
All you want
Tudo o que quer me dar
Everything you want to give me
É demais
It's too much
É pesado
It's heavyNão há paz
There's no peaceTudo o que quer de mim
All you want from me
Irreais
isn’t real
Expectativas
That expectations
Desleais
Now we're falling, falling, falling,
falling into the night, into the night
Falling, falling, falling, falling into the night
Um bom encontro é de dois
Now we're falling, falling, falling,
falling into the night, into the night
Falling, falling, falling, falling into the night



As horas nuas Lygia Fagundes Telles

Eu confessava que colhia as flores matinais e depressa antes que viessem as ventanias e as tempestades. Fui armando o meu enorme buquê, fui compondo o arranjo floral a meu modo quando então começaram os imprevistos, os sustos, ah! Como fugiam do meu controle as flores que foram murchando, as pétalas que foram caindo. Começaram a aparecer buracos. Mais buracos e o arranjo se desarranjou, perdeu o brilho e eu mesma, hein?! Onde a graça da colhedora da manhã? (As horas nuas, de Lygia Fagundes Telles, 1989, p. 181)

sexta-feira, julho 25


DICIONARIZANDO

Figura, plástica, forma, aspecto, aparência
respectivamente nos impele a
modelar, compor, imaginar, inventar, fingir.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de julho de 2008.

quinta-feira, julho 24


DIA A DIA

A solidez se encontra no que não há.
O vago reserva todas as possibilidades,
É o mais seguro dos contratos.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 23 de julho de 2008.

domingo, julho 20

AO VENCEDOR AS BATATAS

É difícil aceitar que quem é amado por nós nos odeia
E nós, porque somos uns babacas no final das contas, nem percebemos...
O amor leva à salvação! O amor leva à danação!
Mas nunca sabemos quando estamos no caminho.
Só o pódio revela trono ou sepultura.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de julho de 2008.

CONNHECER-SE-TE

Quem é esse eu que responde por mim
Quando meu eu não está aqui?

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 19 de julho de 2008.

PARÊNTESIS

Soluçar em seco
É a mais triste metáfora
Criada para a saudade
Irremediável de alguém.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

PRESENÇA

A lembrança é tão forte
que juro que senti teu abraço.
Inevitável não chorar.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

CRÔNICA DE NÓS DOIS

A volta é sempre triste.
São Paulo vem em imagens cortadas de frio. E os versos de Oswald cantam baixinho, baixinho acompanhados de jazz. Seus passos largos marcam o ritmo da nossa fala, do nosso riso. O aconchego das mãos nos ombros, no rosto. O cabelo que se solta e se prende entre os dedos. Os copos esquecidos na mesa de bar... Bebe-se para lembrar o rodopiar dos eus que somos e negamos, e que, por isso, deixamos trancados num quarto anônimo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

SABÁ

Purificação através do fogo:
Mergulho em línguas-chicotes.
Desatino!
Queima de concepções e sentidos,
Sabendo que não se é fênix,
Sabendo que morre-se e pronto.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

INTERLOCUÇÃO

O que me faz egoísta? Amei pessoas egoístas. E, nesse exercício, fui vassalo em doação por causa nobre. Para recompor a inteireza, me despi de todos. Fui compondo um estado de solidão. Agora, amigo, fudeu!

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.

quinta-feira, julho 17


EXCESSO

O ultrapassar de mim em ti cega
E faz do tato meus olhos,
navegador que se arrasta em superfície estranha:
o novo mundo!
Confirmações de posse em paladar, aromas.
O corpo toma seu igual
E cai semimorto
No campo de batalha,
Mas vencedor.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 14 de julho de 2008.



BRAVO!

Já não estou mais aqui.
Sou um todo projetado
para um futuro:
temor e ânsia.
Já estou lá.
É urgente
esse deslocar de estado.
Sou já um outro
e como tal me comporto.
Assumo outra face:
meus intervalos e meus recantos
já são outros.
Minha cama não é mais minha
nem o caminho tão habitual
recebe o mesmo olhar.
Não há mais um ponto conhecido.
E há a certeza de outro ancorar.
Mas onde?

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 07 de julho de 2008.

domingo, julho 6


CHEIRO DE ÂMBAR

Faz de conta que é uma festa!
O mais a gente inventa,
tenta, sua, grita, bate, dança,
corre, goza, chora, canta,
esperneia, sonha, arranha,
amassa, encaixa, desata,
dorme, sorve, abraça,
lambuza, ri... quase morre.
Adequar o canto dual
ao ritmo uno
nos faz – por momentos – deuses.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
DOR

Por que não é de verdade?

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
CONDICIONAIS

Se fosse fácil eu sorriria.
Se fosse bom eu aceitaria.
Se fosse possível eu lutaria.
Mas não há chão
Que conduza os passos até a outra ponta,
Não há arrebatamento de sentimentos,
Não há!
E esse vazio de sentidos
Atormenta febrilmente
O corpo imóvel diante do abismo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
DOMINICAL

Tinha apenas um dia de sossego e ninguém para ver, nada para fazer, nada para ser. Um dia interiro e não existir. Caminho longo de existir que nos lança no pior dos castigos e das salvações: pensar o pronto e o por-fazer. Mas que nada... Resta dormir! Mas como fugir dos sonhos que dizem tudo em charadas totalmente cifradas, apesar da gente se fazer de bobo sempre...

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.

domingo, junho 29

PAUX-DE-DEUX

Saudades, muitas saudades de ti, amiga.
Ontem fomos pela vida... andando pelo Centro, por Copacabana, pela Lapa. Dançamos a noite toda: o ritmo de nossos corpos era um só dentro da variedade de sons. Passos intensos e desencontrados de nós mesmos, monocórdios. Essas nossas loucuras de sempre que, parafraseando Chico, esperam o carnaval chegar...

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 29 de junho de 2008.
ANAGNÓRISIS

Um olhar apenas
que me reconheça:
ato de salvação!
Um ato apenas
que arrume o enredo
e traga um sentido a tudo.
Uma palavra
que seja
sentença e mais nada.

Angélica de Oliveira Castilho

Rio de Janeiro, 27 de junho de 2008.

quinta-feira, junho 19

POÈTES MAUDIS

Condição única e cabal
de saber-se
quando é consciência
e de intuir-se
quando é paixão.
E, por isso, se arrasta
e flutua, se entrega
e vence,
é só, profundamente só,
porque conhecer não implica solução.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2008.

domingo, junho 15

CLOWN

Andando em passos lentos, com olhar baixo, cigarro apagado pelo vento e pela chuva, entre tropeços pelos paralelepípedos, segue a dama de triste figura. Maquiagem borrada, meio sorriso, cabelos escorridos, olhar aceso: faróis! Passa invisível a ex-metonímia da alegria pelas portas dos bares. É tarde! Cadeiras sobre as mesas, chão sendo lavado. Daqui a pouco será dia... Apressa o passo para fugir do sol.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2008.

quinta-feira, junho 12

PÁGINA DE DIÁRIO

Não tenho tido paz.
Os sonhos confusos trazem festas, rosas e rosas em buquês sobre uma cama que não dividimos. De todos, um era pra mim e não se fazia segredo disso. Todos os nossos conhecidos nos olhavam e sabiam.
Os sonhos tortos trazem o corpo de um e o nome de outro em almoços fartos de família, mas nós sabíamos quem éramos.
Os sonhos táteis trazem aconchego, diminuem a saudade, embora não possuam enredos diferentes da realidade.
Sobem pela garganta angústia e choro todas as manhãs.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de junho de 2008.
PALIATIVO

Caçada
Em noite escura.
Todos os gatos são,
Isto basta
A quem não tem pão
E a fome é grande.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 10 de junho de 2008.

terça-feira, junho 10

ROSTOS E RETRATOS

Ais abafados
No corpo vivo.
Negação!

A mão abre e deixa escapar o pássaro,
O braço estende-se em posição de soldado,
O joelho quebra,
Mas a lágrima não vem.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 08 de junho de 2008.
IMPROFÍCUO

Falas, buzinas, apitos,
Gritos
Risos, freadas
Semáforos, calçadas, tumulto
Ambulantes, Kombis
Crianças, embrulhos.

Um corpo parado espera

Alheio a tudo.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 08 de junho de 2008.

sexta-feira, junho 6

LUTA AFOBADA

A verdade
em mutações delirantes
tem passos de capoeirista,
dá golpes,
lança ao chão
o corpo crente
entre os gritos da roda
e o som do berimbau.
O que segue
são as esparrelas do acaso.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de junho de 2008.

quinta-feira, junho 5

FAIRE DE PROMENADE

Não estou na vida a passeio
A postura de colombina
Esconde um monge e uma tecelã
Atentos e intensos,
apaixonados por produção de sentidos e sabores.

Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de junho de 2008.