LATAS VIRADAS
As pessoas as quais escolho
Já têm alguém – real ou esperado – para amar,
Já são o outro de um outro.
Logo, existo aos pedaços,
Na intermitência de projetos feitos, inacabados, retomados,
Estado de gato do País das Maravilhas
Com sorriso demente e congelado,
Surgindo e sumindo,
Espantada e deslocada no espaço.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de abril de 2008.
domingo, abril 20
quarta-feira, abril 16
TRANSITORIEDADE
Ex-amigo é algo gramaticalmente aceito e impossível de ser concebido no plano existencial. É como ex-filho, ex-mãe, todos impossíveis na prática. Porém, existem ex-amigos! Existem! Existem! O que abre uma discussão filosófica, ética e social, o que faz desabar sobre qualquer cidadão confetes e serpentinas de angústia que se grudam com fome de ação, mas a pessoa não pode dar um passo.
Afinal, a pessoa se vê com um ex-amigo a sua frente, ou melhor, pelas costas... e só tem capacidade de formular perguntas confusas: o que é amizade? Tem prazo de validade? A história vivida foi real? É unilateral ou bilateral essa coisa de amizade?
Ex-namorado, ex-ladrão e até ex-presidente podem voltar aos postos anteriores. Agora, ex-amigo, minha gente, é para sempre.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de abril de 2008.
Ex-amigo é algo gramaticalmente aceito e impossível de ser concebido no plano existencial. É como ex-filho, ex-mãe, todos impossíveis na prática. Porém, existem ex-amigos! Existem! Existem! O que abre uma discussão filosófica, ética e social, o que faz desabar sobre qualquer cidadão confetes e serpentinas de angústia que se grudam com fome de ação, mas a pessoa não pode dar um passo.
Afinal, a pessoa se vê com um ex-amigo a sua frente, ou melhor, pelas costas... e só tem capacidade de formular perguntas confusas: o que é amizade? Tem prazo de validade? A história vivida foi real? É unilateral ou bilateral essa coisa de amizade?
Ex-namorado, ex-ladrão e até ex-presidente podem voltar aos postos anteriores. Agora, ex-amigo, minha gente, é para sempre.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de abril de 2008.
terça-feira, abril 8
domingo, abril 6
DECLINANDO POSSIBILIDADES
Belíssimo achado... Ser aquele violão: projeto satisfatório de uma vida. Cantos pelos cantos de Copacabana. Sussurros em fá menor. Barba na nuca, pescoço, seios, ventre, entre o mundo! Mas meu coração continua em paulicéia, desvairado, arvorado, virando latas, roendo osso, comendo se-midão, ganindo baixinho pra não incomodar a vizinhança.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 6 de abril de 2008.
Belíssimo achado... Ser aquele violão: projeto satisfatório de uma vida. Cantos pelos cantos de Copacabana. Sussurros em fá menor. Barba na nuca, pescoço, seios, ventre, entre o mundo! Mas meu coração continua em paulicéia, desvairado, arvorado, virando latas, roendo osso, comendo se-midão, ganindo baixinho pra não incomodar a vizinhança.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 6 de abril de 2008.
VALSA PUNK
Acredito em Deus. E quem mais ao meu redor crê também nos anjos do Senhor? Sou anacrônica por isso. Eu e pouquíssimos amigos – cada qual com seus motivos – também.
Sou anacrônica por esperar que pessoas diferentes em uma miscelânea de classes, bairros, cores, fés possam se relacionar e fazer da vida privada, en cachette, um hino porque toda forma de amor vale a pena.
Sou anacrônica porque sei que o homem é o sim e o não. E ninguém é o que aparenta, nem eu.
Sou anacrônica porque compro roupas novas quando estou triste e isso não me basta: paliativo de cinco minutos até a tristeza voltar.
Sou ana como cisão, anúncio de quebra, ruptura. Me parto quase diariamente. São muitos muros a derrubar, a escalar e ser bem-sucedida não garante satisfação, au contraire, isola, causa espanto ao outro. Nunca se viveu tão seriamente em busca das semelhanças e equivalências. E anacronicamente, insisto na contramão, acidentes interiores: visão de rochas derretidas mergulhando em águas geladas no Pacífico.
Sou anacrônica porque meus olhos encheram d’água quando uma amiga me contou que secam rios e afetam o ecossistema para construírem hidroelétricas e pessoas perdem suas referências de mundo por isso.
Sou anacrônica porque me afeta o degelo pelo mundo e sofro ao ver um urso polar nadando em vão.
Sobreviver como?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2008.
Acredito em Deus. E quem mais ao meu redor crê também nos anjos do Senhor? Sou anacrônica por isso. Eu e pouquíssimos amigos – cada qual com seus motivos – também.
Sou anacrônica por esperar que pessoas diferentes em uma miscelânea de classes, bairros, cores, fés possam se relacionar e fazer da vida privada, en cachette, um hino porque toda forma de amor vale a pena.
Sou anacrônica porque sei que o homem é o sim e o não. E ninguém é o que aparenta, nem eu.
Sou anacrônica porque compro roupas novas quando estou triste e isso não me basta: paliativo de cinco minutos até a tristeza voltar.
Sou ana como cisão, anúncio de quebra, ruptura. Me parto quase diariamente. São muitos muros a derrubar, a escalar e ser bem-sucedida não garante satisfação, au contraire, isola, causa espanto ao outro. Nunca se viveu tão seriamente em busca das semelhanças e equivalências. E anacronicamente, insisto na contramão, acidentes interiores: visão de rochas derretidas mergulhando em águas geladas no Pacífico.
Sou anacrônica porque meus olhos encheram d’água quando uma amiga me contou que secam rios e afetam o ecossistema para construírem hidroelétricas e pessoas perdem suas referências de mundo por isso.
Sou anacrônica porque me afeta o degelo pelo mundo e sofro ao ver um urso polar nadando em vão.
Sobreviver como?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2008.
RAGNARÖK *
Valquíria louca
Cavalgando um corpo,
Compartilhando um gozo.
Cada vão, cada gesto, cada fluido
Sorvidos todos.
Tolos guerreiros
Em solo de paz
Desencontrados, suspensos no tempo
Entre os lençóis – anzóis! –
À beira de um hiato.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de abril de 2008.
22h 10min
* O crepúsculo dos deuses
Valquíria louca
Cavalgando um corpo,
Compartilhando um gozo.
Cada vão, cada gesto, cada fluido
Sorvidos todos.
Tolos guerreiros
Em solo de paz
Desencontrados, suspensos no tempo
Entre os lençóis – anzóis! –
À beira de um hiato.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de abril de 2008.
22h 10min
* O crepúsculo dos deuses
SEMANA SANTA
Uma aura de tristeza ficou
Paixão no sentido total do vernáculo
Via crucis tatuada pelos cantos do corpo
Cantos de procissão ecoando: vozes assombradas
Vazios
Ressurreição não houve
Suspiros em dó maior
Olhar vagando
Através da janela,
Através de tudo...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, abril de 2008.
20h 09min
Uma aura de tristeza ficou
Paixão no sentido total do vernáculo
Via crucis tatuada pelos cantos do corpo
Cantos de procissão ecoando: vozes assombradas
Vazios
Ressurreição não houve
Suspiros em dó maior
Olhar vagando
Através da janela,
Através de tudo...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, abril de 2008.
20h 09min
terça-feira, abril 1
domingo, março 23
PLEINE LUNE*
Solte sua irracionalidade
Em cima de mim!
Deixe
Que venha
E me devore
Como cães famintos,
Que me morda inteira.
Deixe
Que ela entre
Por olhos, mãos, boca, garganta.
Deixe
Que ela seja insânia!
Que suba por minhas pernas,
Por baixo da saia: deleite!
Ferindo a pele em gozo.
Deixe-a dormir exaurida
Recostada em meu pescoço
Entre meus cabelos.
Não a deixe presa
Em um quarto qualquer,
Esquecida no último andar.
Ela ficará
Nos olhando pela janela
Partir os caminhos.
Ela ficará surda,
Desejando a rua
Vista através de uma nesga,
Farejando os suores, o mar, o calor do asfalto.
E se ela escapar cega, cega
Esbarrando em tudo que vir?
E se ela desandar a subir vielas tontas?
E pior! E se ela se atirar no mar? Naufragar?
Estado de espírito
Boiando e lançando-se
Em vai-e-vem
– balé desengonçado –
Até aportar nas areias de madrugada.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 21 de março de 2008.
6h 40min
* Lua cheia
Solte sua irracionalidade
Em cima de mim!
Deixe
Que venha
E me devore
Como cães famintos,
Que me morda inteira.
Deixe
Que ela entre
Por olhos, mãos, boca, garganta.
Deixe
Que ela seja insânia!
Que suba por minhas pernas,
Por baixo da saia: deleite!
Ferindo a pele em gozo.
Deixe-a dormir exaurida
Recostada em meu pescoço
Entre meus cabelos.
Não a deixe presa
Em um quarto qualquer,
Esquecida no último andar.
Ela ficará
Nos olhando pela janela
Partir os caminhos.
Ela ficará surda,
Desejando a rua
Vista através de uma nesga,
Farejando os suores, o mar, o calor do asfalto.
E se ela escapar cega, cega
Esbarrando em tudo que vir?
E se ela desandar a subir vielas tontas?
E pior! E se ela se atirar no mar? Naufragar?
Estado de espírito
Boiando e lançando-se
Em vai-e-vem
– balé desengonçado –
Até aportar nas areias de madrugada.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 21 de março de 2008.
6h 40min
* Lua cheia
quinta-feira, março 20
segunda-feira, março 17
SER TÃO!
– Seja homem! – imperativo tachativo lançado a uma aluna que, com medo de uma quase inofensiva abelha, corria pela rua no memento de entrar no colégio. A abelha, creio que mais assustada, voava desnorteada com o pavor da menina. O que esperar da abelha? Ataque. O que esperar da menina?
Ser homem assume um peso ético: moral e comportamental que implica bravura, coragem, decisão, clareza e capacidade de resolução eficaz e acertada das situações-problemas da vida. Enfim, ser homem não é nada fácil.
A menina riu. O curioso é que no mesmo instante, entre o art sem graça e o medo da abelha, procurou se recompor e se vestir de uma armadura medieval de equilíbrio e sensatez: “O que é uma abelha? Um serzinho... E eu? Um serzão!” Talvez tenha pensado. E fez-se homem, como muitos homens de certidão de nascimento não são. Enfrentou a situação. Voltou a subir a rua e atravessou o portão sorrindo, sem – aparentemente – medo da abelha. Gloriosamente, com cabelos laureados, segue em frente!
Já na sala de aula, me abordou na porta: – Professora, não fale nada com a turma do mico que eu paguei não... – ainda sorria, mas superada a crise apídea, o sorriso era de efetiva alegria. Sorri cúmplice e entrei. O que mudou? O enfrentamento.
Seja homem também! Quem sabe os cacos ficam para trás e você sai livre e leve por aí?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de março de 2008.
– Seja homem! – imperativo tachativo lançado a uma aluna que, com medo de uma quase inofensiva abelha, corria pela rua no memento de entrar no colégio. A abelha, creio que mais assustada, voava desnorteada com o pavor da menina. O que esperar da abelha? Ataque. O que esperar da menina?
Ser homem assume um peso ético: moral e comportamental que implica bravura, coragem, decisão, clareza e capacidade de resolução eficaz e acertada das situações-problemas da vida. Enfim, ser homem não é nada fácil.
A menina riu. O curioso é que no mesmo instante, entre o art sem graça e o medo da abelha, procurou se recompor e se vestir de uma armadura medieval de equilíbrio e sensatez: “O que é uma abelha? Um serzinho... E eu? Um serzão!” Talvez tenha pensado. E fez-se homem, como muitos homens de certidão de nascimento não são. Enfrentou a situação. Voltou a subir a rua e atravessou o portão sorrindo, sem – aparentemente – medo da abelha. Gloriosamente, com cabelos laureados, segue em frente!
Já na sala de aula, me abordou na porta: – Professora, não fale nada com a turma do mico que eu paguei não... – ainda sorria, mas superada a crise apídea, o sorriso era de efetiva alegria. Sorri cúmplice e entrei. O que mudou? O enfrentamento.
Seja homem também! Quem sabe os cacos ficam para trás e você sai livre e leve por aí?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de março de 2008.
quinta-feira, março 6
PÓS-ROMANTISMO
Perdi a vontade sadia da espera.
Gosto de cabo de guarda-chuva
Na boca, olhar vagando.
E se vive mais assim,
Na acepção cotidiana do termo;
E se vive melhor assim,
Na concepção covarde e frouxa da vida;
E se anula mais assim
A tempestade que dá sentido a tudo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2008.
Perdi a vontade sadia da espera.
Gosto de cabo de guarda-chuva
Na boca, olhar vagando.
E se vive mais assim,
Na acepção cotidiana do termo;
E se vive melhor assim,
Na concepção covarde e frouxa da vida;
E se anula mais assim
A tempestade que dá sentido a tudo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2008.
domingo, março 2
ATENTA
Lançada no olho do furacão
Por um simples vibrar.
Tudo negro ao redor:
Apenas a luz pisca verde em chamado de alegria.
Arrebatamento pela voz...
Um precipitar,
Um desejo,
Um frenesi,
Um sorriso franco.
Todas as cores de sensações e sentimentos e sentidos
Suspensas no ar,
Prontas para desabarem em minha cabeça
– bolha de sabão! –
No ato do reencontro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de março de 2008.
Lançada no olho do furacão
Por um simples vibrar.
Tudo negro ao redor:
Apenas a luz pisca verde em chamado de alegria.
Arrebatamento pela voz...
Um precipitar,
Um desejo,
Um frenesi,
Um sorriso franco.
Todas as cores de sensações e sentimentos e sentidos
Suspensas no ar,
Prontas para desabarem em minha cabeça
– bolha de sabão! –
No ato do reencontro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de março de 2008.
sábado, março 1

VAGO
Não cessa o ir e vir de amores...
A onda que arrebata
Quando o toque grita na pele
À presença quente e úmida do outro
No momento de reconhecimento
– cicatriz de Ulisses! –
É a mesma que carrega vida e traz corpos,
É a mesma do mergulho mudo e extático dos dias de verão,
É a mesma que afoga pesadelos,
É a mesma que me salva todos os dias do tédio,
É a mesma que não me dá certezas,
É a mesma que cultiva saudades e ansiedade do porvir.
Angélica de Oliveira Castilho
Não cessa o ir e vir de amores...
A onda que arrebata
Quando o toque grita na pele
À presença quente e úmida do outro
No momento de reconhecimento
– cicatriz de Ulisses! –
É a mesma que carrega vida e traz corpos,
É a mesma do mergulho mudo e extático dos dias de verão,
É a mesma que afoga pesadelos,
É a mesma que me salva todos os dias do tédio,
É a mesma que não me dá certezas,
É a mesma que cultiva saudades e ansiedade do porvir.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 2008.
terça-feira, fevereiro 12
ALLAH-LA Ô
Composição: Haroldo Lobo / Nássara
Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor, ô ô ô ô ô ô
Atravessamos o deserto do Saara
O sol estava quente
Queimou a nossa cara
Viemos do Egito
E muitas vezes
Nós tivemos que rezar
Allah! allah! allah, meu bom allah!
Mande água pra ioiô
Mande água pra iaiá
Allah! meu bom allah
Composição: Haroldo Lobo / Nássara
Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô
Mas que calor, ô ô ô ô ô ô
Atravessamos o deserto do Saara
O sol estava quente
Queimou a nossa cara
Viemos do Egito
E muitas vezes
Nós tivemos que rezar
Allah! allah! allah, meu bom allah!
Mande água pra ioiô
Mande água pra iaiá
Allah! meu bom allah
quinta-feira, fevereiro 7
O CARNAVAL ENSINA MUITA COISA:
A gente aprende o quanto se pode ficar bonita de cabelo azul chanel, e que se tivesse mais coragem ficaria assim sempre. Aprende que a gastrite é ótima quando se trata de perda de barriga, melhor ainda quando é antes do carnaval (e dane-se a gastrite durante o carnaval)! Aprende que quando a gente tem um rabo vermelho pendurado na bunda, as pessoas não vão te deixar em paz nem um segundo. Aprende a nunca mais deixar o carro na Lapa pra subir a pé até o largo das Neves (pq. é muito mais longe do que se imagina!) e que blocos tonificam as pernas. Aprende que se pode fazer amizades e descer num carro apertado cantando “Se você fosse sincera, oh, Glicose!”. Aprende que se pode pular carnaval com o tornozelo torcido e cheio de alergia, basta um pouquinho de boa vontade. Aprende que nordestinos costumam ser muito “quentes”, e que se deve ter medo! Aprende que votar não ta com nada, o negócio é bloco! E que passar frio em Copacabana, com a roupa molhada e um monte de gente bêbada e agressiva não é legal. Aprende que as pessoas somem e depois aparecem, e que não adianta ficar nervosa e preocupada pq as coisas acontecem assim mesmo e quando se ama muito não há raiva que permaneça por muito tempo.Aprende que tomar banho de mangueira no bloco é maravilhoso e que a gordinha é um tesão! Aprende que os bêbados podem ser mui românticos! Descobre que tem gente que consegue viver 4 dias sem suas roupas e sem dinheiro! Aprende que os nossos amigos sentem muito a nossa falta quando nos distanciamos, e que sentimos muito também a falta deles... Mas que isso faz parte e é bom pq dá saudade e a gente acaba descobrindo o quanto somos parecidos com aquele bando de loucos! Aprende que um grão de areia no deserto é mais importante que uma pedra enorme na praia. Aprende que jogando nitrato de prata na atmosfera, chove por uma semana! Aprende que a gente sente falta de quem está longe e se surpreende por isso. Aprende que as pessoas têm muita raiva de grávidas vestidas de noivas que bebem e fumam. E que melhor que isso é só uma freira grávida que bebe e fuma (em breve!). Aprende que as mulheres são extremamente solidárias quando o assunto é fazer xixi na rua. Aprende que existem crianças de 10 anos que sabem jogar xadrez e depois de aprender isso vc sabe que está muito certa quando diz “nem morta eu vou ter um filho”. Aprende que quando o cocô não desce é falta de sorte. Aprende que um gordo de bota pode fuder o seu pé todinho. Aprende que quando acabam as opções, a gente sempre vai pra Lapa. E que quando tem um monte de opções, a gente vai pra Lapa tb! E que na Lapa é difícil achar cigarro pra comprar, mas é fácil achar alguém que te de um. Aprende que os bêbados aprendem francês com maior facilidade que os sóbrios e que um bêbado pode ser muito, muito divertido! Aprende que quando se gosta muito de alguém em muito pouco tempo, o melhor a se fazer é esquecer tudo aquilo que sua mãe te ensinou a vida inteira... E nunca durma com o celular no silencioso, ele sempre toca quando vc menos espera. Aprende que quarta feira de cinzas é o pior dia do ano pq o carnaval são 4 os melhores! Aprende que a gente é feliz por muito pouco...
por Amanda Dias Candal
A gente aprende o quanto se pode ficar bonita de cabelo azul chanel, e que se tivesse mais coragem ficaria assim sempre. Aprende que a gastrite é ótima quando se trata de perda de barriga, melhor ainda quando é antes do carnaval (e dane-se a gastrite durante o carnaval)! Aprende que quando a gente tem um rabo vermelho pendurado na bunda, as pessoas não vão te deixar em paz nem um segundo. Aprende a nunca mais deixar o carro na Lapa pra subir a pé até o largo das Neves (pq. é muito mais longe do que se imagina!) e que blocos tonificam as pernas. Aprende que se pode fazer amizades e descer num carro apertado cantando “Se você fosse sincera, oh, Glicose!”. Aprende que se pode pular carnaval com o tornozelo torcido e cheio de alergia, basta um pouquinho de boa vontade. Aprende que nordestinos costumam ser muito “quentes”, e que se deve ter medo! Aprende que votar não ta com nada, o negócio é bloco! E que passar frio em Copacabana, com a roupa molhada e um monte de gente bêbada e agressiva não é legal. Aprende que as pessoas somem e depois aparecem, e que não adianta ficar nervosa e preocupada pq as coisas acontecem assim mesmo e quando se ama muito não há raiva que permaneça por muito tempo.Aprende que tomar banho de mangueira no bloco é maravilhoso e que a gordinha é um tesão! Aprende que os bêbados podem ser mui românticos! Descobre que tem gente que consegue viver 4 dias sem suas roupas e sem dinheiro! Aprende que os nossos amigos sentem muito a nossa falta quando nos distanciamos, e que sentimos muito também a falta deles... Mas que isso faz parte e é bom pq dá saudade e a gente acaba descobrindo o quanto somos parecidos com aquele bando de loucos! Aprende que um grão de areia no deserto é mais importante que uma pedra enorme na praia. Aprende que jogando nitrato de prata na atmosfera, chove por uma semana! Aprende que a gente sente falta de quem está longe e se surpreende por isso. Aprende que as pessoas têm muita raiva de grávidas vestidas de noivas que bebem e fumam. E que melhor que isso é só uma freira grávida que bebe e fuma (em breve!). Aprende que as mulheres são extremamente solidárias quando o assunto é fazer xixi na rua. Aprende que existem crianças de 10 anos que sabem jogar xadrez e depois de aprender isso vc sabe que está muito certa quando diz “nem morta eu vou ter um filho”. Aprende que quando o cocô não desce é falta de sorte. Aprende que um gordo de bota pode fuder o seu pé todinho. Aprende que quando acabam as opções, a gente sempre vai pra Lapa. E que quando tem um monte de opções, a gente vai pra Lapa tb! E que na Lapa é difícil achar cigarro pra comprar, mas é fácil achar alguém que te de um. Aprende que os bêbados aprendem francês com maior facilidade que os sóbrios e que um bêbado pode ser muito, muito divertido! Aprende que quando se gosta muito de alguém em muito pouco tempo, o melhor a se fazer é esquecer tudo aquilo que sua mãe te ensinou a vida inteira... E nunca durma com o celular no silencioso, ele sempre toca quando vc menos espera. Aprende que quarta feira de cinzas é o pior dia do ano pq o carnaval são 4 os melhores! Aprende que a gente é feliz por muito pouco...
por Amanda Dias Candal
quarta-feira, fevereiro 6

CARNAVALESCOS
Com quem você compartilha sua alegria?
Enchente de sorrisos, abraços, beijos
Cervejas pelos cantos da alma provocando lucidez
E eu a girar:
Colombina bailando na chuva,
Derramando purpurina,
Cantando marchinhas,
E se deixando levar
Pelas mãos do acaso.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2008.
Com quem você compartilha sua alegria?
Enchente de sorrisos, abraços, beijos
Cervejas pelos cantos da alma provocando lucidez
E eu a girar:
Colombina bailando na chuva,
Derramando purpurina,
Cantando marchinhas,
E se deixando levar
Pelas mãos do acaso.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2008.
domingo, janeiro 13
domingo, janeiro 6
terça-feira, dezembro 25
segunda-feira, dezembro 10
domingo, dezembro 2
NEBULOSA DE MARTE
Tudo errado e não se sabe como sair. Lugares que passam pessoas. Vidas em danças sem ritmo – marcha nazista de passista cega. Deslocamento de sentimentos que não deveriam ser transitórios. Amizades e amigos que não se entendem apesar do amor. Risos dementes e paradoxalmente felizes: alegria do convívio. Não se sabe quem é a moça de branco que passa lívida, tropeçando em si mesma. Sangue nos olhos que nada vêem – pétalas marcando o caminho. Não se sabe o praquê da vida.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 dezembro de 2007.
Tudo errado e não se sabe como sair. Lugares que passam pessoas. Vidas em danças sem ritmo – marcha nazista de passista cega. Deslocamento de sentimentos que não deveriam ser transitórios. Amizades e amigos que não se entendem apesar do amor. Risos dementes e paradoxalmente felizes: alegria do convívio. Não se sabe quem é a moça de branco que passa lívida, tropeçando em si mesma. Sangue nos olhos que nada vêem – pétalas marcando o caminho. Não se sabe o praquê da vida.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 dezembro de 2007.
sábado, novembro 24
domingo, novembro 11

BALADA DE ARIADNE
Sempre desconfiei que Apolo fosse um chato.
Esse blá blá blá de clareza
Não ta com nada.
Bom mesmo é ir fundíssimo em tudo
Ser arrastada por
Gargalhadas, mãos, salivas, pêlos,
Boba a boca com o desejo,
Olhos marejados de gozo.
O resto é besteira!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de outubro de 2007.
Sempre desconfiei que Apolo fosse um chato.
Esse blá blá blá de clareza
Não ta com nada.
Bom mesmo é ir fundíssimo em tudo
Ser arrastada por
Gargalhadas, mãos, salivas, pêlos,
Boba a boca com o desejo,
Olhos marejados de gozo.
O resto é besteira!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de outubro de 2007.
PROIBIDA PRA MENORES E MAIORES
Engatilhada
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere.
Mulher com alma de menina.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2007.
Engatilhada
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere
Disparara e fere.
Mulher com alma de menina.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2007.
CRÔNICA FELINA
Gato sem dono é gato feliz! Vida de gato não inclui coleira, hora marcada, correr atrás de próprio rabo. Gente que se vê nessa mesma condição de personalidade e felicidade já foi gato em alguma vida e insiste nessa solidão beatificada, nesse olhar sarcástico, sério, doce, nesse fica a contemplar da uma mureta qualquer o mar em dias de ressaca sem correr, porque também tem a alma revoltosa. Comunga com o movimento da vida.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2007.
Gato sem dono é gato feliz! Vida de gato não inclui coleira, hora marcada, correr atrás de próprio rabo. Gente que se vê nessa mesma condição de personalidade e felicidade já foi gato em alguma vida e insiste nessa solidão beatificada, nesse olhar sarcástico, sério, doce, nesse fica a contemplar da uma mureta qualquer o mar em dias de ressaca sem correr, porque também tem a alma revoltosa. Comunga com o movimento da vida.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2007.

ESMERALDAS
Tudo de gato:
Olhos blasés,
Bigodes-antenas
A farejar sentidos – doídos, doídos... –,
Língua percorrendo de cabo a rabo o mundo,
Experimentando venenos com gosto bom – aparências fakes –,
Independente a passear pelas ruas com ou sem luar,
Arrojadamente só e, pasmem! Feliz – felino sem ser ferino.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2007.
Tudo de gato:
Olhos blasés,
Bigodes-antenas
A farejar sentidos – doídos, doídos... –,
Língua percorrendo de cabo a rabo o mundo,
Experimentando venenos com gosto bom – aparências fakes –,
Independente a passear pelas ruas com ou sem luar,
Arrojadamente só e, pasmem! Feliz – felino sem ser ferino.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2007.

CICLO
O zero é um número metafísico.
Inicia. Antes do nada só vazio.
É o oco antecedente.
O caos inicial poderia ser representado por ele.
Zero é o desenho matemático do gênesis.
E depois dele não há mais nada.
Ele não é sucessor de nenhum número:
Cobra engolindo o próprio rabo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2007.
O zero é um número metafísico.
Inicia. Antes do nada só vazio.
É o oco antecedente.
O caos inicial poderia ser representado por ele.
Zero é o desenho matemático do gênesis.
E depois dele não há mais nada.
Ele não é sucessor de nenhum número:
Cobra engolindo o próprio rabo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de outubro de 2007.
quinta-feira, novembro 1
AÍ DE NÓS!
Duas almas se chocam. Fogo e água. Mélange. Fluição e fruição. Perdem-se corporalmente também. Um vai embora sem algo com a ilusão de plenitude comprada em shopping. O outro fica totalmente vazio de sólidos, sem recibos ou notas fiscais. Ambos com espaços para preencher de idéias, desejos, desencantos.
Sempre colisão, sempre, sempre!
Dois universos paralelos com todos os correspondentes contrários cruzando-se num daqueles momentos em que Deus dá uma cochilada. E, portanto, eles abalam a ordem de seus eus pequenos e burgueses. Ficam de pernas pro ar! Tocam-se, trocam-se em invasões profanas – identificação sem marcas de autoria.
O que é de um e do outro? Não sabem... E vão sendo, simplesmente sendo, em desfazer-se e/ou fabricar-se cortante. Ansiando mais estranhamentos que consideram normais, comuns e familiares até.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2007.
Duas almas se chocam. Fogo e água. Mélange. Fluição e fruição. Perdem-se corporalmente também. Um vai embora sem algo com a ilusão de plenitude comprada em shopping. O outro fica totalmente vazio de sólidos, sem recibos ou notas fiscais. Ambos com espaços para preencher de idéias, desejos, desencantos.
Sempre colisão, sempre, sempre!
Dois universos paralelos com todos os correspondentes contrários cruzando-se num daqueles momentos em que Deus dá uma cochilada. E, portanto, eles abalam a ordem de seus eus pequenos e burgueses. Ficam de pernas pro ar! Tocam-se, trocam-se em invasões profanas – identificação sem marcas de autoria.
O que é de um e do outro? Não sabem... E vão sendo, simplesmente sendo, em desfazer-se e/ou fabricar-se cortante. Ansiando mais estranhamentos que consideram normais, comuns e familiares até.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2007.
INCOMUNICABILIDADE
Jogo garrafas ao mar todos os dias
E são muitas as leituras da metáfora desse mar...
Algumas voltam, outras se perdem, simplesmente, se perdem
Em redes de pesca, em recifes, em estômagos de tubarões
Ou ainda são quebradas por pranchas
São lidas as mensagens? Incógnita!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2007.
Jogo garrafas ao mar todos os dias
E são muitas as leituras da metáfora desse mar...
Algumas voltam, outras se perdem, simplesmente, se perdem
Em redes de pesca, em recifes, em estômagos de tubarões
Ou ainda são quebradas por pranchas
São lidas as mensagens? Incógnita!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 18 de setembro de 2007.
HÁ A NECESSIDADE SUPREMA DE ABNEGAÇÃO NO AMOR AO SAMBA
O título é um trecho de Hiran Araújo, um apaixonado por carnaval e estudioso dedicado do tema. E é em nome de amor igualmente incondicional que amigos fundamentais – como conceitua belamente Nelson Rodrigues – fundam um bloco singular que ousa ir além do real e aceitando quem for bom da cabeça e sadio do pé mesmo por vias virtuais.
Em um primeiro momento, nossos desfiles se limitam pelos bares e nosso som e à capela. Usamos o instrumento musical primordial: a voz.
Com três etapas, logo, com três nomes distintos. Eis o mistério da trindade carnavalesca: Cordão da Jaca Dura, Unidos da Afliceta e Pororoca. Um está no outro e os dois primeiros formam o terceiro: encontro das águas com todo vigor e beleza que há nos encontros da vida!
A saudação entre os integrantes: Evoé! Evoé! Como bons carnavalescos, saudamos a Baco. “Evan” é um dos epítetos do deus, que nunca esquecido, permanece entre nós nesses dias momescos e por todo ano pelos bares da cidade. Podem nos chamar de bacantes, embora não cometamos toda sorte de excessos como na Antigüidade elas faziam – os excessos agora são cometidos só por políticos... altamente apolíneos... Nossos excessos são de alegrias, de sorrisos, de incontinências prazerosas, que é o que carioca anda precisando.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2007.
O título é um trecho de Hiran Araújo, um apaixonado por carnaval e estudioso dedicado do tema. E é em nome de amor igualmente incondicional que amigos fundamentais – como conceitua belamente Nelson Rodrigues – fundam um bloco singular que ousa ir além do real e aceitando quem for bom da cabeça e sadio do pé mesmo por vias virtuais.
Em um primeiro momento, nossos desfiles se limitam pelos bares e nosso som e à capela. Usamos o instrumento musical primordial: a voz.
Com três etapas, logo, com três nomes distintos. Eis o mistério da trindade carnavalesca: Cordão da Jaca Dura, Unidos da Afliceta e Pororoca. Um está no outro e os dois primeiros formam o terceiro: encontro das águas com todo vigor e beleza que há nos encontros da vida!
A saudação entre os integrantes: Evoé! Evoé! Como bons carnavalescos, saudamos a Baco. “Evan” é um dos epítetos do deus, que nunca esquecido, permanece entre nós nesses dias momescos e por todo ano pelos bares da cidade. Podem nos chamar de bacantes, embora não cometamos toda sorte de excessos como na Antigüidade elas faziam – os excessos agora são cometidos só por políticos... altamente apolíneos... Nossos excessos são de alegrias, de sorrisos, de incontinências prazerosas, que é o que carioca anda precisando.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2007.
LOUCURA
Ela partiu
e nunca mais
voltou.
Partiu
para um lugar
qualquer,
dentro de
um olhar
qualquer,
de uma
pessoa
qualquer
na multidão.
Hoje, temos
outra disfarçada
dela.
Muito diferente:
sóbria,
delicada,
enfartada pela realidade.
Ela se foi,
para nunca
mais voltar.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2007.
Ela partiu
e nunca mais
voltou.
Partiu
para um lugar
qualquer,
dentro de
um olhar
qualquer,
de uma
pessoa
qualquer
na multidão.
Hoje, temos
outra disfarçada
dela.
Muito diferente:
sóbria,
delicada,
enfartada pela realidade.
Ela se foi,
para nunca
mais voltar.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2007.
RETALHOS POÉTICOS
Tire seu sorriso do caminho
que eu quero passar com a minha dor.
Meu coração não quer dinheiro,
quer poesia.
E agora, José?
Tudo vale a pena:
Uma faixa amarela bordada.
Não quero choro nem vela
quero uma fita amarela –
ou a tal faixa...
To be or not to be,
Pãos ou pães é questão de opiniães.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2007.
Tire seu sorriso do caminho
que eu quero passar com a minha dor.
Meu coração não quer dinheiro,
quer poesia.
E agora, José?
Tudo vale a pena:
Uma faixa amarela bordada.
Não quero choro nem vela
quero uma fita amarela –
ou a tal faixa...
To be or not to be,
Pãos ou pães é questão de opiniães.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2007.
CIRANDA
Beber contornos,
cada vão.
Palmear a pele, arrepio!
Sentir com boca, língua, pernas, virilha
o corpo inteiro.
Esponjar-se como gata
e ronronar
as ânsias dos atritos.
Engolir seiva,
adornar-se com pêlos, suor,
fazer do corpo do outro
moldura do meu.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2007.
Beber contornos,
cada vão.
Palmear a pele, arrepio!
Sentir com boca, língua, pernas, virilha
o corpo inteiro.
Esponjar-se como gata
e ronronar
as ânsias dos atritos.
Engolir seiva,
adornar-se com pêlos, suor,
fazer do corpo do outro
moldura do meu.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2007.
CANTO DE GUERRA
Pertenço à casta dos guerreiros,
O sopro de Ogum me movimenta
Ogum ê!
Meu pai, me leve pelas mãos,
Abra os caminhos meus!
Em sua garupa, veloz sigo adiante,
Rosto é espelho de sua força.
Ferro percorre corpo
Corpo é aço contra o mal.
Ogum conquista o externo e o interno
Vence batalhas dos homens, batalhas das almas.
Lucidez expressa na loucura da ação.
Ogum acode!
Ogum é justo!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 13 de agosto de 2007.
Pertenço à casta dos guerreiros,
O sopro de Ogum me movimenta
Ogum ê!
Meu pai, me leve pelas mãos,
Abra os caminhos meus!
Em sua garupa, veloz sigo adiante,
Rosto é espelho de sua força.
Ferro percorre corpo
Corpo é aço contra o mal.
Ogum conquista o externo e o interno
Vence batalhas dos homens, batalhas das almas.
Lucidez expressa na loucura da ação.
Ogum acode!
Ogum é justo!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 13 de agosto de 2007.
INFÂNCIA
I
Meu tio e padrinho correndo da noiva!
Saltos e saltos pela janela do quarto
Fingir de doente arrumado por baixo do lençol para ir par ao samba.
Boêmios de Irajá...
Mulatas lindas entrando
Estátuas de vermelho e branco
Na sala de estar
Eu menina puxando os pompons brancos da roupa de uma delas.
Fascínio! Quero ser assim quando crescer!
Boêmios de Irajá...
Meu tio me fantasiava de vascaína
E levava para passear na estação, na porta do cinema.
Boêmios de Irajá...
Velocípede de acento de madeira
Ovo de Páscoa com bolinhas de chocolate dentro
Único banho na piscina do clube.
Boêmios de Irajá...
Dos filhos de meu tio, dois homens, nenhum ama o carnaval,
Nenhum ama a noite.
Vascaínos por descuido.
O legado foi passado poeticamente
Através de uma presença que se fazia pela alegria de viver,
Encantamento de convívio.
Boêmios de Irajá...
(17.07.2007 – 10h10min)
II
Menininha indo dormi:
– Bença, Mãe!
– Bença, Pai!
– Bença, Dinda!
– Bença Dindo!
– Bença vô...
Mergulho em berço esplêndido!
O siom do mar vinha de dentro da noite,
De dentro de mim...
(17.07.2007)
III
Eu pedia para minha vô me cobrir e rezar
Antes de dormir.
Ela ficava sentada,
Fazendo sombra
E a luz chegava ao meu rosto,
Então, podia ter um banho só do olhar cansado de minha vô.
Que saudades da minha vô!
Que orgulho da minha vô!
Portelense
Chopinho claro ou escuro.
Passeios pela Tijuca!
Confeitaria Colombo!
Velas para as almas!
Coque grisalho...
Reminiscências de uma netinha com mãos de pianista...
(17.07.2007)
IV
– Baia! Baia!
– Oh, minha branca...
– Cê vai no meu aniversário?!
E ela foi de azul brilhante
E me deu alegria.
Corria para ela onde quer que estivesse,
Abraçava, beijava aquela mulher negra, forte, trabalhadeira.
Tanto amor, tanto carinho.
– Mãe, ce vai levar chuchu para Baia também, não vai?
O que aconteceu com Dona Maria?
(17.07.2007 – 10h 34 min)
V
– Cachorrinho lindo!
Meu primo adolescente me deu para segurar e disse que poderia ficar com ele. Pedi ao meu pai se poderia ficar com ele mesmo. Queria derrubar sobre o pequeno baldes e baldes de brincadeiras!
Sai de casa da minha tia com meu pai levando um saco de papel pardo, com o cachorro dentro. Peguei o ônibus, desci e fui correndo para casa levar meu cachorrinho.
Saco vazio... Todos mentiram... Foi minha primeira sensação de perda, minha primeira dor de engano.
A argumentação óbvia e mesmo verdadeira – você tem medo de cachorro! – o coro doméstico repetia. Não justificava, mesmo hoje, o engano. Se não podia, por que a oferta? Se não podia, por que o ilusório? Aprendi que os adultos mentem. Pronto: acabara de morder do fruto proibido.
(17.07.2007 10h 45min)
VI
Hoje, quando vou à Portela
Parte de minha infância vai comigo.
– Olha, vô, eu aqui!
Homenagem em samba e cerveja.
Certeza de que ela seria a mais linda das baianas!
(17.07.2007)
VII
Decididamente minha infância não foi drummondiana...
(17.07.2007)
VIII
Praga de madrinha tenho aos montes.
Todas já caducaram, graças a Deus!
(17. 07.2007)
IX
Biau de sorriso doce e suas histórias sobre a Bahia.
Quando ela voltou para Salvador fiquei cheia de saudade – inaugurava esse sentimento! Minha amiga adolescente não me esqueceu: recebi uma carta, ganhei uma jangadinha na sua volta. E assim foi minha infância e adolescência: povoada de histórias.
O primeiro dia que cheguei em Salvador, anos e anos mais tarde, eram aquelas histórias que lembrava, era o Elevador Lacerda que procura, era com Itapuã e Pelourinho que sonhava. Tudo igual, igual a Salvador da Biau. Descobri pasma que Salvador já existia em mim. Foi como visitar minha amiga, dar a mão a ela como quando criança e perambular pelas subidas e descidas da cidade.
Desde então, voltar a Salvador é voltar a encontrá-la e encontrar uma alegria construída por afeto, só possível de traduzir se comparada a um mergulho nas águas da Lagoa do Abaeté.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2007.
I
Meu tio e padrinho correndo da noiva!
Saltos e saltos pela janela do quarto
Fingir de doente arrumado por baixo do lençol para ir par ao samba.
Boêmios de Irajá...
Mulatas lindas entrando
Estátuas de vermelho e branco
Na sala de estar
Eu menina puxando os pompons brancos da roupa de uma delas.
Fascínio! Quero ser assim quando crescer!
Boêmios de Irajá...
Meu tio me fantasiava de vascaína
E levava para passear na estação, na porta do cinema.
Boêmios de Irajá...
Velocípede de acento de madeira
Ovo de Páscoa com bolinhas de chocolate dentro
Único banho na piscina do clube.
Boêmios de Irajá...
Dos filhos de meu tio, dois homens, nenhum ama o carnaval,
Nenhum ama a noite.
Vascaínos por descuido.
O legado foi passado poeticamente
Através de uma presença que se fazia pela alegria de viver,
Encantamento de convívio.
Boêmios de Irajá...
(17.07.2007 – 10h10min)
II
Menininha indo dormi:
– Bença, Mãe!
– Bença, Pai!
– Bença, Dinda!
– Bença Dindo!
– Bença vô...
Mergulho em berço esplêndido!
O siom do mar vinha de dentro da noite,
De dentro de mim...
(17.07.2007)
III
Eu pedia para minha vô me cobrir e rezar
Antes de dormir.
Ela ficava sentada,
Fazendo sombra
E a luz chegava ao meu rosto,
Então, podia ter um banho só do olhar cansado de minha vô.
Que saudades da minha vô!
Que orgulho da minha vô!
Portelense
Chopinho claro ou escuro.
Passeios pela Tijuca!
Confeitaria Colombo!
Velas para as almas!
Coque grisalho...
Reminiscências de uma netinha com mãos de pianista...
(17.07.2007)
IV
– Baia! Baia!
– Oh, minha branca...
– Cê vai no meu aniversário?!
E ela foi de azul brilhante
E me deu alegria.
Corria para ela onde quer que estivesse,
Abraçava, beijava aquela mulher negra, forte, trabalhadeira.
Tanto amor, tanto carinho.
– Mãe, ce vai levar chuchu para Baia também, não vai?
O que aconteceu com Dona Maria?
(17.07.2007 – 10h 34 min)
V
– Cachorrinho lindo!
Meu primo adolescente me deu para segurar e disse que poderia ficar com ele. Pedi ao meu pai se poderia ficar com ele mesmo. Queria derrubar sobre o pequeno baldes e baldes de brincadeiras!
Sai de casa da minha tia com meu pai levando um saco de papel pardo, com o cachorro dentro. Peguei o ônibus, desci e fui correndo para casa levar meu cachorrinho.
Saco vazio... Todos mentiram... Foi minha primeira sensação de perda, minha primeira dor de engano.
A argumentação óbvia e mesmo verdadeira – você tem medo de cachorro! – o coro doméstico repetia. Não justificava, mesmo hoje, o engano. Se não podia, por que a oferta? Se não podia, por que o ilusório? Aprendi que os adultos mentem. Pronto: acabara de morder do fruto proibido.
(17.07.2007 10h 45min)
VI
Hoje, quando vou à Portela
Parte de minha infância vai comigo.
– Olha, vô, eu aqui!
Homenagem em samba e cerveja.
Certeza de que ela seria a mais linda das baianas!
(17.07.2007)
VII
Decididamente minha infância não foi drummondiana...
(17.07.2007)
VIII
Praga de madrinha tenho aos montes.
Todas já caducaram, graças a Deus!
(17. 07.2007)
IX
Biau de sorriso doce e suas histórias sobre a Bahia.
Quando ela voltou para Salvador fiquei cheia de saudade – inaugurava esse sentimento! Minha amiga adolescente não me esqueceu: recebi uma carta, ganhei uma jangadinha na sua volta. E assim foi minha infância e adolescência: povoada de histórias.
O primeiro dia que cheguei em Salvador, anos e anos mais tarde, eram aquelas histórias que lembrava, era o Elevador Lacerda que procura, era com Itapuã e Pelourinho que sonhava. Tudo igual, igual a Salvador da Biau. Descobri pasma que Salvador já existia em mim. Foi como visitar minha amiga, dar a mão a ela como quando criança e perambular pelas subidas e descidas da cidade.
Desde então, voltar a Salvador é voltar a encontrá-la e encontrar uma alegria construída por afeto, só possível de traduzir se comparada a um mergulho nas águas da Lagoa do Abaeté.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2007.
CASAMENTO
De colo em colo
entre tropeços, facadas,
arremessos, saltos, saltites,
angústias, alegrias!
Com feridas de guerra,
Colecionando cicatrizes –
que adquiriram até um certo charme.
Em farrapos, cansada, turva, pagando faltas de outras vidas.
No alto da alameda, o sim.
Clarins! Clarins! Clarins!
Corpo e cabelos escorridos
em um todo claro, esquio,
diáfano, sensorial, etéreo.
Mulher vestida de luz.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 03 de julho de 2007.
De colo em colo
entre tropeços, facadas,
arremessos, saltos, saltites,
angústias, alegrias!
Com feridas de guerra,
Colecionando cicatrizes –
que adquiriram até um certo charme.
Em farrapos, cansada, turva, pagando faltas de outras vidas.
No alto da alameda, o sim.
Clarins! Clarins! Clarins!
Corpo e cabelos escorridos
em um todo claro, esquio,
diáfano, sensorial, etéreo.
Mulher vestida de luz.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 03 de julho de 2007.
domingo, outubro 21
ADVERTÊNCIA
Não tentem procurar a Angélica aqui.
Por favor, não.
Ela está solta pelas ruas,
Pulando carnaval,
Envolvida em filosóficas conversas de botequim,
Lendo Clarice e Nelson,
Indo ao Anima Mundi,
Caminhando nas areias da Barra.
Quem surge aqui
Não tem nome nem rosto nem gostos
E talvez nem exista!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2003.
Não tentem procurar a Angélica aqui.
Por favor, não.
Ela está solta pelas ruas,
Pulando carnaval,
Envolvida em filosóficas conversas de botequim,
Lendo Clarice e Nelson,
Indo ao Anima Mundi,
Caminhando nas areias da Barra.
Quem surge aqui
Não tem nome nem rosto nem gostos
E talvez nem exista!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 2003.
MATURIDADE
Na adolescência, confundia paixão com tesão.
Agonicamente, tomava um sentir pelo outro
E como me consumia com culpa
Por meu caráter volúvel!
Hoje sei que as pessoas se apaixonam
Não só por corpos, mas pelo conjunto da obra.
Vivo mais sossegada.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2003.
Na adolescência, confundia paixão com tesão.
Agonicamente, tomava um sentir pelo outro
E como me consumia com culpa
Por meu caráter volúvel!
Hoje sei que as pessoas se apaixonam
Não só por corpos, mas pelo conjunto da obra.
Vivo mais sossegada.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 2003.

ÀS MUSAS
Fui mordida pelo fruto do Bem e do Mal.
O conhecimento que desejava ter
Agora me tem.
E o desejo, serpente astuta,
Se mascara com as mais fascinantes promessas
“Bonheur! Bonheur! Bonheur!”, diz
E meu espírito leva.
O pecado não existe,
Sabedoria é salvação.
Deus a deu a Salomão em doses generosas.
A perdição e saber que é curta a vida para compreender tudo que se dela deseja
O dilaceramento está na escolha:
vivê-la sem questionar mais nada
ou buscar as coisas saber.
Ah, como é curto o tempo...
Vive melhor quem ignora?!
Não tenho coragem de vomitar o fruto,
Seu sabor é único e vem à boca
A cada livro entendido,
A cada observação feita
A cada olhar que enxerga.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2003.
Fui mordida pelo fruto do Bem e do Mal.
O conhecimento que desejava ter
Agora me tem.
E o desejo, serpente astuta,
Se mascara com as mais fascinantes promessas
“Bonheur! Bonheur! Bonheur!”, diz
E meu espírito leva.
O pecado não existe,
Sabedoria é salvação.
Deus a deu a Salomão em doses generosas.
A perdição e saber que é curta a vida para compreender tudo que se dela deseja
O dilaceramento está na escolha:
vivê-la sem questionar mais nada
ou buscar as coisas saber.
Ah, como é curto o tempo...
Vive melhor quem ignora?!
Não tenho coragem de vomitar o fruto,
Seu sabor é único e vem à boca
A cada livro entendido,
A cada observação feita
A cada olhar que enxerga.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2003.
PEDIDO
Os arcos como cenário
de meus amores –
batucadas cardíacas marcadas pelo surdo.
Nossa Senhora da Lapa,
dai-me um amor de verdade...
Iemanjá, olhai sua filha
que sofre nas quedas pelas ladeiras
de subida para Santa Tereza,
mas insiste na continuar!
Ela quer o céu da cidade,
contemplar a Marina
no aconchego de um abraço,
descer, depois, pelas vielas que se espalham:
Joaquim Silva, Mem de Sá, Lavradio, Senado.
Ela quer o samba que escorre dos sobrados.
Mamãe Oxum,
Ora iyê iyê ô!
Ajudai sua menina
Que chora perda do que não teve.
Epa hei oyá!
Iansã, trovejai!
Iansã, relampeai,
Clareai o olhar que procura!
Curais, mãezinhas,
O espírito espancado,
Revigorais a esperança
jogada entre os paralelepípedos,
caída moribunda aos saltos altos.
Já são muitos
os gritos que borram o batom,
as lágrimas que escorrem o rimel,
as mãos que desfazem o perfume
o suor que deixa a carne nua.
Piedade, todas vós!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2003.
Os arcos como cenário
de meus amores –
batucadas cardíacas marcadas pelo surdo.
Nossa Senhora da Lapa,
dai-me um amor de verdade...
Iemanjá, olhai sua filha
que sofre nas quedas pelas ladeiras
de subida para Santa Tereza,
mas insiste na continuar!
Ela quer o céu da cidade,
contemplar a Marina
no aconchego de um abraço,
descer, depois, pelas vielas que se espalham:
Joaquim Silva, Mem de Sá, Lavradio, Senado.
Ela quer o samba que escorre dos sobrados.
Mamãe Oxum,
Ora iyê iyê ô!
Ajudai sua menina
Que chora perda do que não teve.
Epa hei oyá!
Iansã, trovejai!
Iansã, relampeai,
Clareai o olhar que procura!
Curais, mãezinhas,
O espírito espancado,
Revigorais a esperança
jogada entre os paralelepípedos,
caída moribunda aos saltos altos.
Já são muitos
os gritos que borram o batom,
as lágrimas que escorrem o rimel,
as mãos que desfazem o perfume
o suor que deixa a carne nua.
Piedade, todas vós!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2003.

CONTINHO
Ele brinca com a aliança dela. A moça pedia-se no ato. Era como se entrasse num mundo único. Eles perderam-se no tempo... No toque leve, atingia-se o mais íntimo. Havia um erotismo tão latente que não precisavam de palavras, de olhares. Deram-se um ao outro e retomaram à prática ancestral da entrega de forma tão sofrida e alegre que se passaram séculos. E forma um e foram muitos.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2003.
Ele brinca com a aliança dela. A moça pedia-se no ato. Era como se entrasse num mundo único. Eles perderam-se no tempo... No toque leve, atingia-se o mais íntimo. Havia um erotismo tão latente que não precisavam de palavras, de olhares. Deram-se um ao outro e retomaram à prática ancestral da entrega de forma tão sofrida e alegre que se passaram séculos. E forma um e foram muitos.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2003.
DESNECESSÁRIO
Não preciso passar por você
Que é rio caudaloso
Cheio de destroços
Que volta e meia esbarro.
No meio da travessia
Me pergunto por que,
Se já atravessei meu próprio rio
E meu próprio deserto.
Minha insistência
Não altera a voracidade
Com que as águas me cobrem,
Não ameniza o fluxo constante
Magoando músculos,
Desorientando pensamentos.
Não me afogo,
Não me é dada a opção de morte.
Talvez eu saia encharcada de ti
Entre exaustão e tranqüilidade.
Talvez... Talvez tantas coisas!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de março de 2003.
Não preciso passar por você
Que é rio caudaloso
Cheio de destroços
Que volta e meia esbarro.
No meio da travessia
Me pergunto por que,
Se já atravessei meu próprio rio
E meu próprio deserto.
Minha insistência
Não altera a voracidade
Com que as águas me cobrem,
Não ameniza o fluxo constante
Magoando músculos,
Desorientando pensamentos.
Não me afogo,
Não me é dada a opção de morte.
Talvez eu saia encharcada de ti
Entre exaustão e tranqüilidade.
Talvez... Talvez tantas coisas!
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 20 de março de 2003.
VIA TRANSVERSA
Dilacerada!
Pedaços de mim flutuam pela casa.
Outros estão largados
Na Letras,
Na Linha Vermelha,
No Túnel Santa Bárbara,
Na Lagoa,
No Humaitá – campo de batalha! –,
Em Santa Tereza – nas ladeiras
a caminho do calvário onde
me sacrifiquei ao Homem
e de onde correu meu sangue
que banhou a nós
que banhou a cidade
em explosão sôfrega
de beijo-chorado
entre abraços-espadas
olhares-meteoros
palavras-cadentes.
No Santos Drumont...
Eu era Cristo, Joana D’arc,
São Jorge em suas mortes,
Em suas vidas...
Eu entendia, enfim,
Que a suprema alegria do encontro
Pode ser, igualmente,
A dor absoluta da perda.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de março de 2003.
Dilacerada!
Pedaços de mim flutuam pela casa.
Outros estão largados
Na Letras,
Na Linha Vermelha,
No Túnel Santa Bárbara,
Na Lagoa,
No Humaitá – campo de batalha! –,
Em Santa Tereza – nas ladeiras
a caminho do calvário onde
me sacrifiquei ao Homem
e de onde correu meu sangue
que banhou a nós
que banhou a cidade
em explosão sôfrega
de beijo-chorado
entre abraços-espadas
olhares-meteoros
palavras-cadentes.
No Santos Drumont...
Eu era Cristo, Joana D’arc,
São Jorge em suas mortes,
Em suas vidas...
Eu entendia, enfim,
Que a suprema alegria do encontro
Pode ser, igualmente,
A dor absoluta da perda.
Angélica Castilho
Rio de Janeiro, 15 de março de 2003.
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