HIDRA DE LERNA
Amor e suas muitas cabeças!
São tantas
E tão poço tempo pra entendê-las
E quando julga entender,
Ele já não mais é:
Entender é cortar cabeças para delas surgirem outras emdobro
E não se pode,
Em hipótese alguma, queimar-lhes o corte: morta a hidra, morta a vida.
Esse monstro deve ser domesticado e morder-nos
Calcanhares e sonhos.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2008.
sábado, dezembro 20
quarta-feira, novembro 12
DELÍRIOS LAPIANOS
Cá, cá, cá
Carnaval
Na, na, na
Não interessa!
Vou beber todas
To, to aqui
Por aí
Pra pular carnaval
No aval com o
Momo que sorri
Ri! Ri! Rio!
Que maravilha
Nossa ilha de alegria
Não tem CPI nem mensalão
Tem alegria do povão
Que só quer rir
Ri1 Ri! Ri!
Rio!...
Angélica Castilho
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Bar do Juca
Rá, rá, ra´
Já vão nos expulsar
Vamos beber até cair
Mas vamos nos divertir
E quando o sol surgir
Pegar um táxi
Porque a lei seca ta aí!
Angélica Castilho
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Bar do Juca
(Esse site está em construção)
O que é xX?
Qd (Lim x)
è + (símbolo do infinito que não tem no meu micro para colocar...)
(o que são 15 dias quando
o tempo tende à eternidade?)
R: Tempo de c... é r...
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
“Eu sou um pós-lispectorano.”
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Madrugada no Bar Arco-Íris.
NÓS
E para o além
Pós e tudo lacto e stricto
é sempre ontem sendo hoje!
Angélica Castilho
28/IX/MMVIII
Madrugada no Bar Arco-Íris.
Cá, cá, cá
Carnaval
Na, na, na
Não interessa!
Vou beber todas
To, to aqui
Por aí
Pra pular carnaval
No aval com o
Momo que sorri
Ri! Ri! Rio!
Que maravilha
Nossa ilha de alegria
Não tem CPI nem mensalão
Tem alegria do povão
Que só quer rir
Ri1 Ri! Ri!
Rio!...
Angélica Castilho
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Bar do Juca
Rá, rá, ra´
Já vão nos expulsar
Vamos beber até cair
Mas vamos nos divertir
E quando o sol surgir
Pegar um táxi
Porque a lei seca ta aí!
Angélica Castilho
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Bar do Juca
(Esse site está em construção)
O que é xX?
Qd (Lim x)
è + (símbolo do infinito que não tem no meu micro para colocar...)
(o que são 15 dias quando
o tempo tende à eternidade?)
R: Tempo de c... é r...
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
“Eu sou um pós-lispectorano.”
Antonio Adolpho
28/IX/MMVIII
Madrugada no Bar Arco-Íris.
NÓS
E para o além
Pós e tudo lacto e stricto
é sempre ontem sendo hoje!
Angélica Castilho
28/IX/MMVIII
Madrugada no Bar Arco-Íris.
terça-feira, outubro 14
domingo, outubro 5
EROS E PSIQUÉ[1]
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
ergue a mão, e encontra hera,
e vê que ele mesmo era
a Princesa que dormia.
[1] PESSOA, Fernando. Poesias. 5. ed. Lisboa: Ática, 1958.
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
ergue a mão, e encontra hera,
e vê que ele mesmo era
a Princesa que dormia.
[1] PESSOA, Fernando. Poesias. 5. ed. Lisboa: Ática, 1958.
sexta-feira, outubro 3
DIALOGANDO COM OCTAVIO PAZ
Amor:
solo desnudo
onde
todas as faces
ficam expostas;
chão arifertil
de nós mesmos
no centro móvel
de eus itinerantes
ocm bússola circular;
ato de
caminhar,
caminhar,
caminhar,
caminhar,
caminhar
para chegar
onde
já se estava sem saber.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de outubro de 2008.
Amor:
solo desnudo
onde
todas as faces
ficam expostas;
chão arifertil
de nós mesmos
no centro móvel
de eus itinerantes
ocm bússola circular;
ato de
caminhar,
caminhar,
caminhar,
caminhar,
caminhar
para chegar
onde
já se estava sem saber.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de outubro de 2008.
terça-feira, setembro 30
ORAÇÃO
Medo de ser sonho
E acordar dando
Golfadas de alegria,
Sujar a camisola, as pernas, a cama –
contentamento se perdendo
pelo quarto
em estado de pranto de alma.
Queria Deus ser terno
No ermo de dois:
Amplidão azul de céu e de mar
No espaço de corpos.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2008.
Medo de ser sonho
E acordar dando
Golfadas de alegria,
Sujar a camisola, as pernas, a cama –
contentamento se perdendo
pelo quarto
em estado de pranto de alma.
Queria Deus ser terno
No ermo de dois:
Amplidão azul de céu e de mar
No espaço de corpos.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2008.
segunda-feira, setembro 29
quinta-feira, setembro 25
BILHETES
Não sei mais suportar.
Os outros são tão outros que a mim não se estende a vós. Não há hermanos?! E o que faço para purgar o carinho que existe no espaço de fotos, sorrisos, palavras? O que faço agora que tenho a azeda visão de estar só. Estado único e uno, equívoco de gêmeos, perna sem par.
Constatei tarde que a procura é a mesma do andrógino partido que não é mais filho do Sol, nem filho da Terra, nem filho da Lua. Olhar cego para o umbigo: cicatriz da solidão. E agora?! O que faço? Logo eu que sempre fui multidão e desdenhava Eros por achá-lo tacanha, nhem-nhem-nhem e cacete? Pasmo de quem teimou ser philos a salvação.
Congelei de susto enquanto esperava um café expresso admirando o vai-e-vem da Cinelândia. Alma decepcionada tem a gravidade e quase a eternidade de um iceberg. “Não tenho em quem confiar...” Um slogan de camiseta em passeata. Definhar... Afiar... a espada para a guerra de ser só.
Não sei dizer que dor é essa diante da morte de tudo: morte de um homem, morte do sonho de ter um filho, morte da vontade de viver, morte da alegria adolescente, morte dos sorrisos. Só sei que dói e amassa por dentro. E não se tem fome, não se tem sede. Apenas choro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2008.
Não sei mais suportar.
Os outros são tão outros que a mim não se estende a vós. Não há hermanos?! E o que faço para purgar o carinho que existe no espaço de fotos, sorrisos, palavras? O que faço agora que tenho a azeda visão de estar só. Estado único e uno, equívoco de gêmeos, perna sem par.
Constatei tarde que a procura é a mesma do andrógino partido que não é mais filho do Sol, nem filho da Terra, nem filho da Lua. Olhar cego para o umbigo: cicatriz da solidão. E agora?! O que faço? Logo eu que sempre fui multidão e desdenhava Eros por achá-lo tacanha, nhem-nhem-nhem e cacete? Pasmo de quem teimou ser philos a salvação.
Congelei de susto enquanto esperava um café expresso admirando o vai-e-vem da Cinelândia. Alma decepcionada tem a gravidade e quase a eternidade de um iceberg. “Não tenho em quem confiar...” Um slogan de camiseta em passeata. Definhar... Afiar... a espada para a guerra de ser só.
Não sei dizer que dor é essa diante da morte de tudo: morte de um homem, morte do sonho de ter um filho, morte da vontade de viver, morte da alegria adolescente, morte dos sorrisos. Só sei que dói e amassa por dentro. E não se tem fome, não se tem sede. Apenas choro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2008.
terça-feira, setembro 23
quinta-feira, setembro 11
segunda-feira, setembro 1
INTERVALO
Nosso herói vive entre parêntese. Narrativa interrompida por peripécias, esclarecimentos, silêncios, sem perspectiva de fechamento. Suspensão do curso sem mais nem menos. O tempo, entretanto, não pára! E essa vida paralítica, sifilítica, esquisita... em curto circuito.
Perigo de cair em abismo antes de terminar a história.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2008.
Nosso herói vive entre parêntese. Narrativa interrompida por peripécias, esclarecimentos, silêncios, sem perspectiva de fechamento. Suspensão do curso sem mais nem menos. O tempo, entretanto, não pára! E essa vida paralítica, sifilítica, esquisita... em curto circuito.
Perigo de cair em abismo antes de terminar a história.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 31 de agosto de 2008.
domingo, agosto 31
quinta-feira, agosto 21
EROSÃO
Tu me ligaste, Ogro!
E já há tempos te desejava
E não vinhas.
Só ventanias
cortando rochas.
Só chuvas
abrindo fendas.
Só raios
rachando árvores
Só trovões
rompendo campos.
Solidão em três atos,
uma quase comédia de costumes.
A paisagem já é outra
novas fronteiras,
mapa-múndi mo(e)dificado.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2008.
Tu me ligaste, Ogro!
E já há tempos te desejava
E não vinhas.
Só ventanias
cortando rochas.
Só chuvas
abrindo fendas.
Só raios
rachando árvores
Só trovões
rompendo campos.
Solidão em três atos,
uma quase comédia de costumes.
A paisagem já é outra
novas fronteiras,
mapa-múndi mo(e)dificado.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2008.
AULA DE SEXTA
Uma moça com nome de flor guarda coisas do enxoval e as usa em uma rotina marital que não há. Rosa azul nos atos e no nome. Alma romântica, pois não? Mas e eu, meu Deus?! O que guardo ainda por não guardar coisa alguma? O que uso ainda com e nesse meu desapego pelo que não é utilitário, utilizável, último de nós? O que eu faço com essa imaterialidade que me assombra mais até do que os garfos da moça-botão-congelado usados casualmente nas refeições feitas no trabalho? E que nome eu dou ao vazio que psicanalista lacaniano algum ousaria investigar?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
Uma moça com nome de flor guarda coisas do enxoval e as usa em uma rotina marital que não há. Rosa azul nos atos e no nome. Alma romântica, pois não? Mas e eu, meu Deus?! O que guardo ainda por não guardar coisa alguma? O que uso ainda com e nesse meu desapego pelo que não é utilitário, utilizável, último de nós? O que eu faço com essa imaterialidade que me assombra mais até do que os garfos da moça-botão-congelado usados casualmente nas refeições feitas no trabalho? E que nome eu dou ao vazio que psicanalista lacaniano algum ousaria investigar?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
ESSÊNCIA DO AMOR
Transitivo e transitório:
amor em estado bruto.
O que estraga é burilar a pedra,
dá-la muitas faces lisas,
espelhos para o nada.
O que estraga é o adorno
de plástico
que fica fosco
com a poeira dos dias
sem primavera.
O que estraga
são os planos
sobre o que não virá.
O que estraga
somos nós!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
Transitivo e transitório:
amor em estado bruto.
O que estraga é burilar a pedra,
dá-la muitas faces lisas,
espelhos para o nada.
O que estraga é o adorno
de plástico
que fica fosco
com a poeira dos dias
sem primavera.
O que estraga
são os planos
sobre o que não virá.
O que estraga
somos nós!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
UM ARCANO MAIOR
Estrela caiu em mim
Queimou-me o corpo
Tornou-me prata
Renovou-me em composição de guerra,
dinossauros, perfumes, olhares, palavras, gozos.
Transformou-me em pontas agudas esparramadas:
antenas incessantes de e insaciáveis por
vida.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
Estrela caiu em mim
Queimou-me o corpo
Tornou-me prata
Renovou-me em composição de guerra,
dinossauros, perfumes, olhares, palavras, gozos.
Transformou-me em pontas agudas esparramadas:
antenas incessantes de e insaciáveis por
vida.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
ENTÃO...
Vivo a crise de Fausto estendida:
a vida é curta para tudo que desejo saber e para os amores que quero ter.
Estado de avessos rosianos:
Diadorim em síntese,
anjo e demônio,
cabala!
Perfeitamente
todas as possibilidades reinantes
na infância da maturidade.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
Vivo a crise de Fausto estendida:
a vida é curta para tudo que desejo saber e para os amores que quero ter.
Estado de avessos rosianos:
Diadorim em síntese,
anjo e demônio,
cabala!
Perfeitamente
todas as possibilidades reinantes
na infância da maturidade.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2008.
RELEITURA
De branco e com flores,
Ofélia ressuscitada e contemporânea.
Já é outra
E vive de amores
Pelos bares,
Pelas ruas assobiando um sambinha maroto
Pela Avenida de azul e branco desfilando.
Mergulho?! Só em palavras e copos
E destes volta sempre plena e renovada.
A visão frágil contrastando com um ser em armas:
Perfeitamente humana!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2008.
De branco e com flores,
Ofélia ressuscitada e contemporânea.
Já é outra
E vive de amores
Pelos bares,
Pelas ruas assobiando um sambinha maroto
Pela Avenida de azul e branco desfilando.
Mergulho?! Só em palavras e copos
E destes volta sempre plena e renovada.
A visão frágil contrastando com um ser em armas:
Perfeitamente humana!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2008.
quinta-feira, agosto 14

FELICIDADE CLANDESTINA
Clarice Lispector
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos de blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do recife mesmo, onde escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranq6uilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que eu dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Cheguei em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem toca-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 9-12.
Clarice Lispector
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos de blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do recife mesmo, onde escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranq6uilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que eu dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Cheguei em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem toca-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 9-12.
quarta-feira, agosto 13
OLHANDO ATRAVÉS DA VIDRAÇA
Ser que se pré-ocupa de tudo
E está sendo obrigado a viver um dia de cada vez,
Em crescimento paulatino e amarrado,
Contido em vinte e quatro horas.
Não há tempo para ansiedade
E tudo se resolve assustadoramente em tranqüilidade.
Há paz nesse viver sem amanhã,
É-se hoje, necessita-se se hoje.
Ser antes atormentado pelo devir,
É hoje em profusão, em ebulição,
Descanso no olho do furacão.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2008.
Ser que se pré-ocupa de tudo
E está sendo obrigado a viver um dia de cada vez,
Em crescimento paulatino e amarrado,
Contido em vinte e quatro horas.
Não há tempo para ansiedade
E tudo se resolve assustadoramente em tranqüilidade.
Há paz nesse viver sem amanhã,
É-se hoje, necessita-se se hoje.
Ser antes atormentado pelo devir,
É hoje em profusão, em ebulição,
Descanso no olho do furacão.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 11 de agosto de 2008.
EM GRAÇA
Estou deliciosamente tomada por presente e por futuro,
Cega para tudo e terrivelmente tátil para o mundo!
Estou cinética! Fortemente expressiva em vozes e atos.
Estou texto e som e canto e dança.
Viver assim provoca uma fúria doce!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2008.
Estou deliciosamente tomada por presente e por futuro,
Cega para tudo e terrivelmente tátil para o mundo!
Estou cinética! Fortemente expressiva em vozes e atos.
Estou texto e som e canto e dança.
Viver assim provoca uma fúria doce!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2008.
domingo, agosto 3
quinta-feira, julho 31
COQUETEL: RAZÃO E SENSIBILIDADE
Ando pensando freqüentemente nas maiores banalidades desse cotidiano com hora marcada e lugar estipulado de quem quiser estar presente. Ando sonhando com você e acordo de madrugada já achando ser hora de sair. Que nome dar – sou obcecada por nomes! – ao que sinto? Não há coração acelerado, não há admiração irrestrita, não há toques. Há, no entanto, um fio que se estabelece quando os olhares se cruzam e não conseguem se desprender: mergulho no outro em uma quase projeção astral.
Hoje sai triste, triste, triste. Houve uma frustração dessa expectativa estranha e fora dos padrões. Hoje era sua outra face que estava presente. Hoje tudo estava amaríssimo nesse imã de olhares. Hoje se fez presente apenas corpos. Hoje as almas saíram para passear por aí e nem disseram quando voltariam e, que chato, chegaram quando já estava principiando meu caminho de casa. E elas voltaram tão abruptamente que a minha chegou e ficou meio tonta, meio a flor da pele, meio menina de dez anos e a sua só passou e deu um alô de exatamente três minutos. Fatalidade: confronto entre um corpo tosco e uma alma cândida demais. Resultado: uma tarde de soluços e orações seguidos de verdadeiro desejo de não sonhar mais, dormindo ou acordada, com você.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 31 de julho de 2008.
Ando pensando freqüentemente nas maiores banalidades desse cotidiano com hora marcada e lugar estipulado de quem quiser estar presente. Ando sonhando com você e acordo de madrugada já achando ser hora de sair. Que nome dar – sou obcecada por nomes! – ao que sinto? Não há coração acelerado, não há admiração irrestrita, não há toques. Há, no entanto, um fio que se estabelece quando os olhares se cruzam e não conseguem se desprender: mergulho no outro em uma quase projeção astral.
Hoje sai triste, triste, triste. Houve uma frustração dessa expectativa estranha e fora dos padrões. Hoje era sua outra face que estava presente. Hoje tudo estava amaríssimo nesse imã de olhares. Hoje se fez presente apenas corpos. Hoje as almas saíram para passear por aí e nem disseram quando voltariam e, que chato, chegaram quando já estava principiando meu caminho de casa. E elas voltaram tão abruptamente que a minha chegou e ficou meio tonta, meio a flor da pele, meio menina de dez anos e a sua só passou e deu um alô de exatamente três minutos. Fatalidade: confronto entre um corpo tosco e uma alma cândida demais. Resultado: uma tarde de soluços e orações seguidos de verdadeiro desejo de não sonhar mais, dormindo ou acordada, com você.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 31 de julho de 2008.
O VAMPIRO
Tarde ensolarada e fria. Faxina na casa. Telefone tocando. Pasmo do passado rondando a porta, vigiando lares pela cidade, lendo textos e fotos, revirando lixo, colhendo dados, bebendo em fontes de injúrias. A voz de Clara tinha dado o semidesfalecer e a dormência em anúncio. Odô ia! Odô ia! O abebé faz vento para afastar. A tríplice aliança sendo usada e dois corações entre as armas de Ogum e de Iemanjá. O distanciamento da história confere tom surreal: teatro do absurdo. Restava fincar a estaca mais uma vez. Missão cumprida!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2008.
Tarde ensolarada e fria. Faxina na casa. Telefone tocando. Pasmo do passado rondando a porta, vigiando lares pela cidade, lendo textos e fotos, revirando lixo, colhendo dados, bebendo em fontes de injúrias. A voz de Clara tinha dado o semidesfalecer e a dormência em anúncio. Odô ia! Odô ia! O abebé faz vento para afastar. A tríplice aliança sendo usada e dois corações entre as armas de Ogum e de Iemanjá. O distanciamento da história confere tom surreal: teatro do absurdo. Restava fincar a estaca mais uma vez. Missão cumprida!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2008.
segunda-feira, julho 28

BOA SORTE / GOOD LUCK
Vanessa Da Mata
Vanessa Da Mata
É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte!
Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará
Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais
That's it
There's no way
It's over, Good luck!
I've nothing left to say
It’s only words
And what l feel
Won’t change
Tudo o que quer me dar
Everything you want to give me
É demais
It's too much
É pesado
It’s heavy
Não há paz
There is no peace
Tudo o que quer de mim
All you want from meIrreais
Isn’t real
Expectativas
Expectations
Desleais
Mesmo se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha
Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais
Now even if you hold yourse
lf I want you to get cured
From this person
Who advises you
There is a disconnection
See through this point of view
There are so many special people in the world
So many special people in the world, in the world
All you want
All you want
Tudo o que quer me dar
Everything you want to give me
É demais
It's too much
É pesado
It's heavyNão há paz
There's no peaceTudo o que quer de mim
All you want from me
Irreais
isn’t real
Expectativas
That expectations
Desleais
Now we're falling, falling, falling,
falling into the night, into the night
Falling, falling, falling, falling into the night
Um bom encontro é de dois
Now we're falling, falling, falling,
falling into the night, into the night
Falling, falling, falling, falling into the night

As horas nuas Lygia Fagundes Telles
Eu confessava que colhia as flores matinais e depressa antes que viessem as ventanias e as tempestades. Fui armando o meu enorme buquê, fui compondo o arranjo floral a meu modo quando então começaram os imprevistos, os sustos, ah! Como fugiam do meu controle as flores que foram murchando, as pétalas que foram caindo. Começaram a aparecer buracos. Mais buracos e o arranjo se desarranjou, perdeu o brilho e eu mesma, hein?! Onde a graça da colhedora da manhã? (As horas nuas, de Lygia Fagundes Telles, 1989, p. 181)
Eu confessava que colhia as flores matinais e depressa antes que viessem as ventanias e as tempestades. Fui armando o meu enorme buquê, fui compondo o arranjo floral a meu modo quando então começaram os imprevistos, os sustos, ah! Como fugiam do meu controle as flores que foram murchando, as pétalas que foram caindo. Começaram a aparecer buracos. Mais buracos e o arranjo se desarranjou, perdeu o brilho e eu mesma, hein?! Onde a graça da colhedora da manhã? (As horas nuas, de Lygia Fagundes Telles, 1989, p. 181)
sexta-feira, julho 25
quinta-feira, julho 24
domingo, julho 20
AO VENCEDOR AS BATATAS
É difícil aceitar que quem é amado por nós nos odeia
E nós, porque somos uns babacas no final das contas, nem percebemos...
O amor leva à salvação! O amor leva à danação!
Mas nunca sabemos quando estamos no caminho.
Só o pódio revela trono ou sepultura.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de julho de 2008.
É difícil aceitar que quem é amado por nós nos odeia
E nós, porque somos uns babacas no final das contas, nem percebemos...
O amor leva à salvação! O amor leva à danação!
Mas nunca sabemos quando estamos no caminho.
Só o pódio revela trono ou sepultura.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 20 de julho de 2008.

CRÔNICA DE NÓS DOIS
A volta é sempre triste.
São Paulo vem em imagens cortadas de frio. E os versos de Oswald cantam baixinho, baixinho acompanhados de jazz. Seus passos largos marcam o ritmo da nossa fala, do nosso riso. O aconchego das mãos nos ombros, no rosto. O cabelo que se solta e se prende entre os dedos. Os copos esquecidos na mesa de bar... Bebe-se para lembrar o rodopiar dos eus que somos e negamos, e que, por isso, deixamos trancados num quarto anônimo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.
A volta é sempre triste.
São Paulo vem em imagens cortadas de frio. E os versos de Oswald cantam baixinho, baixinho acompanhados de jazz. Seus passos largos marcam o ritmo da nossa fala, do nosso riso. O aconchego das mãos nos ombros, no rosto. O cabelo que se solta e se prende entre os dedos. Os copos esquecidos na mesa de bar... Bebe-se para lembrar o rodopiar dos eus que somos e negamos, e que, por isso, deixamos trancados num quarto anônimo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de julho de 2008.
quinta-feira, julho 17

EXCESSO
O ultrapassar de mim em ti cega
E faz do tato meus olhos,
navegador que se arrasta em superfície estranha:
o novo mundo!
Confirmações de posse em paladar, aromas.
O corpo toma seu igual
E cai semimorto
No campo de batalha,
Mas vencedor.
Angélica de Oliveira Castilho
O ultrapassar de mim em ti cega
E faz do tato meus olhos,
navegador que se arrasta em superfície estranha:
o novo mundo!
Confirmações de posse em paladar, aromas.
O corpo toma seu igual
E cai semimorto
No campo de batalha,
Mas vencedor.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 14 de julho de 2008.

BRAVO!
Já não estou mais aqui.
Sou um todo projetado
para um futuro:
temor e ânsia.
Já estou lá.
É urgente
esse deslocar de estado.
Sou já um outro
e como tal me comporto.
Assumo outra face:
meus intervalos e meus recantos
já são outros.
Minha cama não é mais minha
nem o caminho tão habitual
recebe o mesmo olhar.
Não há mais um ponto conhecido.
E há a certeza de outro ancorar.
Mas onde?
Angélica de Oliveira Castilho
Já não estou mais aqui.
Sou um todo projetado
para um futuro:
temor e ânsia.
Já estou lá.
É urgente
esse deslocar de estado.
Sou já um outro
e como tal me comporto.
Assumo outra face:
meus intervalos e meus recantos
já são outros.
Minha cama não é mais minha
nem o caminho tão habitual
recebe o mesmo olhar.
Não há mais um ponto conhecido.
E há a certeza de outro ancorar.
Mas onde?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 07 de julho de 2008.
domingo, julho 6
CHEIRO DE ÂMBAR
Faz de conta que é uma festa!
O mais a gente inventa,
tenta, sua, grita, bate, dança,
corre, goza, chora, canta,
esperneia, sonha, arranha,
amassa, encaixa, desata,
dorme, sorve, abraça,
lambuza, ri... quase morre.
Adequar o canto dual
ao ritmo uno
nos faz – por momentos – deuses.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
Faz de conta que é uma festa!
O mais a gente inventa,
tenta, sua, grita, bate, dança,
corre, goza, chora, canta,
esperneia, sonha, arranha,
amassa, encaixa, desata,
dorme, sorve, abraça,
lambuza, ri... quase morre.
Adequar o canto dual
ao ritmo uno
nos faz – por momentos – deuses.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
CONDICIONAIS
Se fosse fácil eu sorriria.
Se fosse bom eu aceitaria.
Se fosse possível eu lutaria.
Mas não há chão
Que conduza os passos até a outra ponta,
Não há arrebatamento de sentimentos,
Não há!
E esse vazio de sentidos
Atormenta febrilmente
O corpo imóvel diante do abismo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
Se fosse fácil eu sorriria.
Se fosse bom eu aceitaria.
Se fosse possível eu lutaria.
Mas não há chão
Que conduza os passos até a outra ponta,
Não há arrebatamento de sentimentos,
Não há!
E esse vazio de sentidos
Atormenta febrilmente
O corpo imóvel diante do abismo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
DOMINICAL
Tinha apenas um dia de sossego e ninguém para ver, nada para fazer, nada para ser. Um dia interiro e não existir. Caminho longo de existir que nos lança no pior dos castigos e das salvações: pensar o pronto e o por-fazer. Mas que nada... Resta dormir! Mas como fugir dos sonhos que dizem tudo em charadas totalmente cifradas, apesar da gente se fazer de bobo sempre...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
Tinha apenas um dia de sossego e ninguém para ver, nada para fazer, nada para ser. Um dia interiro e não existir. Caminho longo de existir que nos lança no pior dos castigos e das salvações: pensar o pronto e o por-fazer. Mas que nada... Resta dormir! Mas como fugir dos sonhos que dizem tudo em charadas totalmente cifradas, apesar da gente se fazer de bobo sempre...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 06 de julho de 2008.
domingo, junho 29
PAUX-DE-DEUX
Saudades, muitas saudades de ti, amiga.
Ontem fomos pela vida... andando pelo Centro, por Copacabana, pela Lapa. Dançamos a noite toda: o ritmo de nossos corpos era um só dentro da variedade de sons. Passos intensos e desencontrados de nós mesmos, monocórdios. Essas nossas loucuras de sempre que, parafraseando Chico, esperam o carnaval chegar...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 29 de junho de 2008.
Saudades, muitas saudades de ti, amiga.
Ontem fomos pela vida... andando pelo Centro, por Copacabana, pela Lapa. Dançamos a noite toda: o ritmo de nossos corpos era um só dentro da variedade de sons. Passos intensos e desencontrados de nós mesmos, monocórdios. Essas nossas loucuras de sempre que, parafraseando Chico, esperam o carnaval chegar...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 29 de junho de 2008.
quinta-feira, junho 19
domingo, junho 15
CLOWN
Andando em passos lentos, com olhar baixo, cigarro apagado pelo vento e pela chuva, entre tropeços pelos paralelepípedos, segue a dama de triste figura. Maquiagem borrada, meio sorriso, cabelos escorridos, olhar aceso: faróis! Passa invisível a ex-metonímia da alegria pelas portas dos bares. É tarde! Cadeiras sobre as mesas, chão sendo lavado. Daqui a pouco será dia... Apressa o passo para fugir do sol.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2008.
Andando em passos lentos, com olhar baixo, cigarro apagado pelo vento e pela chuva, entre tropeços pelos paralelepípedos, segue a dama de triste figura. Maquiagem borrada, meio sorriso, cabelos escorridos, olhar aceso: faróis! Passa invisível a ex-metonímia da alegria pelas portas dos bares. É tarde! Cadeiras sobre as mesas, chão sendo lavado. Daqui a pouco será dia... Apressa o passo para fugir do sol.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2008.
quinta-feira, junho 12
PÁGINA DE DIÁRIO
Não tenho tido paz.
Os sonhos confusos trazem festas, rosas e rosas em buquês sobre uma cama que não dividimos. De todos, um era pra mim e não se fazia segredo disso. Todos os nossos conhecidos nos olhavam e sabiam.
Os sonhos tortos trazem o corpo de um e o nome de outro em almoços fartos de família, mas nós sabíamos quem éramos.
Os sonhos táteis trazem aconchego, diminuem a saudade, embora não possuam enredos diferentes da realidade.
Sobem pela garganta angústia e choro todas as manhãs.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de junho de 2008.
Não tenho tido paz.
Os sonhos confusos trazem festas, rosas e rosas em buquês sobre uma cama que não dividimos. De todos, um era pra mim e não se fazia segredo disso. Todos os nossos conhecidos nos olhavam e sabiam.
Os sonhos tortos trazem o corpo de um e o nome de outro em almoços fartos de família, mas nós sabíamos quem éramos.
Os sonhos táteis trazem aconchego, diminuem a saudade, embora não possuam enredos diferentes da realidade.
Sobem pela garganta angústia e choro todas as manhãs.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de junho de 2008.
terça-feira, junho 10
sexta-feira, junho 6
quinta-feira, junho 5
terça-feira, maio 27
sábado, maio 24

VENTANIA
Saber chorar?
Por que chorar?
Os deuses não sabem
nem nós.
O canto de uma iaô
Chama o canto de outra iaô
No assobio do vento de Iansã
Para a menina vir bailar.
O canto de uma iaô
Em eco é chama a iluminar
a coreografia, a atiçar corpos.
Os deuses são e só.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de maio de 2008.
Saber chorar?
Por que chorar?
Os deuses não sabem
nem nós.
O canto de uma iaô
Chama o canto de outra iaô
No assobio do vento de Iansã
Para a menina vir bailar.
O canto de uma iaô
Em eco é chama a iluminar
a coreografia, a atiçar corpos.
Os deuses são e só.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de maio de 2008.
BOLA OITO FORA
Quem é que sabe o que fazer
quando o não-amor
tornar-se patente
diante dos olhos
na representação cabal
de um corpo estranho
ao próprio amor?
Para haver traição
É preciso número par,
Par desfeito em ímpar trio,
Trágico gozo de ódio e delírio.
É preciso ter um que ama
no dois em desencontro
gerando trindade
da carne em destroços.
No veludo verde,
não corre mais o riso,
tacos esparramam
o espasmo do uno
em indilacerável solidão.
As garrafas transbordam em convulsão:
o menino dentro do homem vivendo
com intensidade milenar
o desespero de desejar
o desejo do outro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de maio de 2008.
Quem é que sabe o que fazer
quando o não-amor
tornar-se patente
diante dos olhos
na representação cabal
de um corpo estranho
ao próprio amor?
Para haver traição
É preciso número par,
Par desfeito em ímpar trio,
Trágico gozo de ódio e delírio.
É preciso ter um que ama
no dois em desencontro
gerando trindade
da carne em destroços.
No veludo verde,
não corre mais o riso,
tacos esparramam
o espasmo do uno
em indilacerável solidão.
As garrafas transbordam em convulsão:
o menino dentro do homem vivendo
com intensidade milenar
o desespero de desejar
o desejo do outro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de maio de 2008.
BILHETE DESESPERADO
Estou lascada! Meus olhos e ouvidos não captam nada, nobody. Nobody... can be like you. E estou tão eu sem você que os vizinhos já estão notando. Caminhar no calçadão não resolve. Jogar sinuca me desgasta. Esses rodopiares vagos só desatinam: olho d’água secando perto de construção em cidade grande.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de maio de 2008.
Estou lascada! Meus olhos e ouvidos não captam nada, nobody. Nobody... can be like you. E estou tão eu sem você que os vizinhos já estão notando. Caminhar no calçadão não resolve. Jogar sinuca me desgasta. Esses rodopiares vagos só desatinam: olho d’água secando perto de construção em cidade grande.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de maio de 2008.
terça-feira, maio 20
domingo, maio 18
SENTIMENTOS NADA NOBRES
Um surto de inveja mareja os olhos desse homem que não entende o episódio. E indaga-se entre o pasmo e o ódio: por que não eu?! A sala apocalíptica reflete calma. As cadeiras mudas contaminam tudo. O rasgar dos envelopes, o correr da caneta, a luz na parede.
Saída e entrada. Transpor a porta é cair no corredor efêmero entre o sim e o não. Um mundo que se apresenta sem possibilidades. Uma não-aceitação sufocante.
Como ser estóico? Como não morder o pecado, não lhe sugar todo o úmido, não roer os caroços, não engolir a poupa áspera em grandes dentadas? Como não olhar a felicidade sem a querer para si?
O homem sofre porque é homem! A perfeição é uma artimanha do Diabo e uma utopia de Deus.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de maio de 2008.
Um surto de inveja mareja os olhos desse homem que não entende o episódio. E indaga-se entre o pasmo e o ódio: por que não eu?! A sala apocalíptica reflete calma. As cadeiras mudas contaminam tudo. O rasgar dos envelopes, o correr da caneta, a luz na parede.
Saída e entrada. Transpor a porta é cair no corredor efêmero entre o sim e o não. Um mundo que se apresenta sem possibilidades. Uma não-aceitação sufocante.
Como ser estóico? Como não morder o pecado, não lhe sugar todo o úmido, não roer os caroços, não engolir a poupa áspera em grandes dentadas? Como não olhar a felicidade sem a querer para si?
O homem sofre porque é homem! A perfeição é uma artimanha do Diabo e uma utopia de Deus.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 18 de maio de 2008.
sábado, maio 17
SOL DE OUTONO
Tive tanto, tanto, tanto medo que segui adiante como maratonista, como noiva que só enxerga a luz do altar. Tudo azul claro, a sala vazia, o corpo alongando. Desespero sendo derramado pelos olhos, pela respiração quase cortada. Tanto, tanto medo que a aparência era de calma estúpida. Tanto, tanto medo que não voltei atrás e descobri um tipo de beleza triste: debater-se em fúria acelera a morte. A luta é toda pra dentro. Sangue, músculos, ossos, consciência, intuição. E ter medo é muito bom!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de maio de 2008.
Tive tanto, tanto, tanto medo que segui adiante como maratonista, como noiva que só enxerga a luz do altar. Tudo azul claro, a sala vazia, o corpo alongando. Desespero sendo derramado pelos olhos, pela respiração quase cortada. Tanto, tanto medo que a aparência era de calma estúpida. Tanto, tanto medo que não voltei atrás e descobri um tipo de beleza triste: debater-se em fúria acelera a morte. A luta é toda pra dentro. Sangue, músculos, ossos, consciência, intuição. E ter medo é muito bom!
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de maio de 2008.
domingo, maio 11
A MORTE
Dilacerado.
Pedaços de mim
em gavetas,
prateleiras da geladeira.
O coração na boca de um gato,
os olhos abertos na roseira.
E a consciência
lúcida e ardida
a tudo assiste.
Num movimento lírico
está pronta para catar tudo
e compor um outro mesmo ser:
borboleta despigmentada
camuflada no vento.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 08 de maio de 2008.
Dilacerado.
Pedaços de mim
em gavetas,
prateleiras da geladeira.
O coração na boca de um gato,
os olhos abertos na roseira.
E a consciência
lúcida e ardida
a tudo assiste.
Num movimento lírico
está pronta para catar tudo
e compor um outro mesmo ser:
borboleta despigmentada
camuflada no vento.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 08 de maio de 2008.
O ENFORCADO
O tempo passou e nada aconteceu. Ainda é ontem. Um ontem transfigurado, amargurado, com cogumelos a brotar pelos cantos de lembranças. Ainda é ontem. O cerne de sempre. O hoje de faces novas e contraditórias ilude o espectador. A inércia camuflou-se durante esses quinze anos. Comemora-se ainda um aniversário de morto numa insistência involuntária. Virar ou não virar o jogo: eis a questão.
Ela se levanta. Pega água. Molha as plantas. O girassol cresceu bem apesar do quase frio do outono.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 08 de maio de 2008.
O tempo passou e nada aconteceu. Ainda é ontem. Um ontem transfigurado, amargurado, com cogumelos a brotar pelos cantos de lembranças. Ainda é ontem. O cerne de sempre. O hoje de faces novas e contraditórias ilude o espectador. A inércia camuflou-se durante esses quinze anos. Comemora-se ainda um aniversário de morto numa insistência involuntária. Virar ou não virar o jogo: eis a questão.
Ela se levanta. Pega água. Molha as plantas. O girassol cresceu bem apesar do quase frio do outono.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 08 de maio de 2008.
SEM REMÉDIO
Santa Clara em Caetano é som de violão
de menino num salto para trás de anos outros,
anos longos. Acordes em acordo
com tudo, para tudo em tudo,
acordes clareando tanto!
Mas os olhos eram cegos,
e as mãos tateavam em vão.
Não reconheciam os signos,
não decodificavam:
esfinge devorando a felicidade.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 04 de maio de 2008.
Santa Clara em Caetano é som de violão
de menino num salto para trás de anos outros,
anos longos. Acordes em acordo
com tudo, para tudo em tudo,
acordes clareando tanto!
Mas os olhos eram cegos,
e as mãos tateavam em vão.
Não reconheciam os signos,
não decodificavam:
esfinge devorando a felicidade.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 04 de maio de 2008.
domingo, maio 4
GULA
Meu Deus! Meu Deus! E o mundo desabando, o chão rachando, escoando séculos e séculos de civilização para então se ver que a “hortelã matinal" é só um detalhe. A fome maior é de amor. E amor eles tinham ali, deitados, enroscados, projetados no nada do mundo que é burguês, mas que para Darwin é tudo, mas que para Marx é falta de perspectiva, mas que para todos os bons e os maus é alguma coisa! Nos entre cantos do entretanto um olhar percebe a ânsia louca e ancestral de ter o outro. No meio do casual olhar um retrato de todos nós.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 04 de maio de 2008.
Meu Deus! Meu Deus! E o mundo desabando, o chão rachando, escoando séculos e séculos de civilização para então se ver que a “hortelã matinal" é só um detalhe. A fome maior é de amor. E amor eles tinham ali, deitados, enroscados, projetados no nada do mundo que é burguês, mas que para Darwin é tudo, mas que para Marx é falta de perspectiva, mas que para todos os bons e os maus é alguma coisa! Nos entre cantos do entretanto um olhar percebe a ânsia louca e ancestral de ter o outro. No meio do casual olhar um retrato de todos nós.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 04 de maio de 2008.
sábado, abril 26
CAUSAS E PARCAS CONSEQÜÊNCIAS
Flô, suncê tá cum frebe.
Di deve di sê
Dus oio ruim,
Dus dia di farra,
Du ganha pão
Du vai e vem das perna di calça.
Di deve di sê mermo
Di mau di amô,
causa Nhozinho tá
em outra parage
tristonho, tristonho
qui nem vosmicê.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de abril de 2008.
Flô, suncê tá cum frebe.
Di deve di sê
Dus oio ruim,
Dus dia di farra,
Du ganha pão
Du vai e vem das perna di calça.
Di deve di sê mermo
Di mau di amô,
causa Nhozinho tá
em outra parage
tristonho, tristonho
qui nem vosmicê.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 25 de abril de 2008.
ORKUTICÍDIO
Quero minha vida albertocaeiriana de volta e poder passear ricardeando por entre as rosas no jardim da múltipla Lídia, jardim de perdição, jardim hibernal, jardim seco, jardim de fogo.
Abdico e abjuro o roer das intimidades, das dores, dos espantos de viver. Abaixo o Futurismo! Abro mão desse eu que me expõe e que de fato não sou eu.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de abril de 2008.
Quero minha vida albertocaeiriana de volta e poder passear ricardeando por entre as rosas no jardim da múltipla Lídia, jardim de perdição, jardim hibernal, jardim seco, jardim de fogo.
Abdico e abjuro o roer das intimidades, das dores, dos espantos de viver. Abaixo o Futurismo! Abro mão desse eu que me expõe e que de fato não sou eu.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 24 de abril de 2008.
domingo, abril 20
LATAS VIRADAS
As pessoas as quais escolho
Já têm alguém – real ou esperado – para amar,
Já são o outro de um outro.
Logo, existo aos pedaços,
Na intermitência de projetos feitos, inacabados, retomados,
Estado de gato do País das Maravilhas
Com sorriso demente e congelado,
Surgindo e sumindo,
Espantada e deslocada no espaço.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de abril de 2008.
As pessoas as quais escolho
Já têm alguém – real ou esperado – para amar,
Já são o outro de um outro.
Logo, existo aos pedaços,
Na intermitência de projetos feitos, inacabados, retomados,
Estado de gato do País das Maravilhas
Com sorriso demente e congelado,
Surgindo e sumindo,
Espantada e deslocada no espaço.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 17 de abril de 2008.
quarta-feira, abril 16
TRANSITORIEDADE
Ex-amigo é algo gramaticalmente aceito e impossível de ser concebido no plano existencial. É como ex-filho, ex-mãe, todos impossíveis na prática. Porém, existem ex-amigos! Existem! Existem! O que abre uma discussão filosófica, ética e social, o que faz desabar sobre qualquer cidadão confetes e serpentinas de angústia que se grudam com fome de ação, mas a pessoa não pode dar um passo.
Afinal, a pessoa se vê com um ex-amigo a sua frente, ou melhor, pelas costas... e só tem capacidade de formular perguntas confusas: o que é amizade? Tem prazo de validade? A história vivida foi real? É unilateral ou bilateral essa coisa de amizade?
Ex-namorado, ex-ladrão e até ex-presidente podem voltar aos postos anteriores. Agora, ex-amigo, minha gente, é para sempre.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de abril de 2008.
Ex-amigo é algo gramaticalmente aceito e impossível de ser concebido no plano existencial. É como ex-filho, ex-mãe, todos impossíveis na prática. Porém, existem ex-amigos! Existem! Existem! O que abre uma discussão filosófica, ética e social, o que faz desabar sobre qualquer cidadão confetes e serpentinas de angústia que se grudam com fome de ação, mas a pessoa não pode dar um passo.
Afinal, a pessoa se vê com um ex-amigo a sua frente, ou melhor, pelas costas... e só tem capacidade de formular perguntas confusas: o que é amizade? Tem prazo de validade? A história vivida foi real? É unilateral ou bilateral essa coisa de amizade?
Ex-namorado, ex-ladrão e até ex-presidente podem voltar aos postos anteriores. Agora, ex-amigo, minha gente, é para sempre.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 16 de abril de 2008.
terça-feira, abril 8
domingo, abril 6
DECLINANDO POSSIBILIDADES
Belíssimo achado... Ser aquele violão: projeto satisfatório de uma vida. Cantos pelos cantos de Copacabana. Sussurros em fá menor. Barba na nuca, pescoço, seios, ventre, entre o mundo! Mas meu coração continua em paulicéia, desvairado, arvorado, virando latas, roendo osso, comendo se-midão, ganindo baixinho pra não incomodar a vizinhança.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 6 de abril de 2008.
Belíssimo achado... Ser aquele violão: projeto satisfatório de uma vida. Cantos pelos cantos de Copacabana. Sussurros em fá menor. Barba na nuca, pescoço, seios, ventre, entre o mundo! Mas meu coração continua em paulicéia, desvairado, arvorado, virando latas, roendo osso, comendo se-midão, ganindo baixinho pra não incomodar a vizinhança.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 6 de abril de 2008.
VALSA PUNK
Acredito em Deus. E quem mais ao meu redor crê também nos anjos do Senhor? Sou anacrônica por isso. Eu e pouquíssimos amigos – cada qual com seus motivos – também.
Sou anacrônica por esperar que pessoas diferentes em uma miscelânea de classes, bairros, cores, fés possam se relacionar e fazer da vida privada, en cachette, um hino porque toda forma de amor vale a pena.
Sou anacrônica porque sei que o homem é o sim e o não. E ninguém é o que aparenta, nem eu.
Sou anacrônica porque compro roupas novas quando estou triste e isso não me basta: paliativo de cinco minutos até a tristeza voltar.
Sou ana como cisão, anúncio de quebra, ruptura. Me parto quase diariamente. São muitos muros a derrubar, a escalar e ser bem-sucedida não garante satisfação, au contraire, isola, causa espanto ao outro. Nunca se viveu tão seriamente em busca das semelhanças e equivalências. E anacronicamente, insisto na contramão, acidentes interiores: visão de rochas derretidas mergulhando em águas geladas no Pacífico.
Sou anacrônica porque meus olhos encheram d’água quando uma amiga me contou que secam rios e afetam o ecossistema para construírem hidroelétricas e pessoas perdem suas referências de mundo por isso.
Sou anacrônica porque me afeta o degelo pelo mundo e sofro ao ver um urso polar nadando em vão.
Sobreviver como?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2008.
Acredito em Deus. E quem mais ao meu redor crê também nos anjos do Senhor? Sou anacrônica por isso. Eu e pouquíssimos amigos – cada qual com seus motivos – também.
Sou anacrônica por esperar que pessoas diferentes em uma miscelânea de classes, bairros, cores, fés possam se relacionar e fazer da vida privada, en cachette, um hino porque toda forma de amor vale a pena.
Sou anacrônica porque sei que o homem é o sim e o não. E ninguém é o que aparenta, nem eu.
Sou anacrônica porque compro roupas novas quando estou triste e isso não me basta: paliativo de cinco minutos até a tristeza voltar.
Sou ana como cisão, anúncio de quebra, ruptura. Me parto quase diariamente. São muitos muros a derrubar, a escalar e ser bem-sucedida não garante satisfação, au contraire, isola, causa espanto ao outro. Nunca se viveu tão seriamente em busca das semelhanças e equivalências. E anacronicamente, insisto na contramão, acidentes interiores: visão de rochas derretidas mergulhando em águas geladas no Pacífico.
Sou anacrônica porque meus olhos encheram d’água quando uma amiga me contou que secam rios e afetam o ecossistema para construírem hidroelétricas e pessoas perdem suas referências de mundo por isso.
Sou anacrônica porque me afeta o degelo pelo mundo e sofro ao ver um urso polar nadando em vão.
Sobreviver como?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 05 de abril de 2008.
RAGNARÖK *
Valquíria louca
Cavalgando um corpo,
Compartilhando um gozo.
Cada vão, cada gesto, cada fluido
Sorvidos todos.
Tolos guerreiros
Em solo de paz
Desencontrados, suspensos no tempo
Entre os lençóis – anzóis! –
À beira de um hiato.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de abril de 2008.
22h 10min
* O crepúsculo dos deuses
Valquíria louca
Cavalgando um corpo,
Compartilhando um gozo.
Cada vão, cada gesto, cada fluido
Sorvidos todos.
Tolos guerreiros
Em solo de paz
Desencontrados, suspensos no tempo
Entre os lençóis – anzóis! –
À beira de um hiato.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de abril de 2008.
22h 10min
* O crepúsculo dos deuses
SEMANA SANTA
Uma aura de tristeza ficou
Paixão no sentido total do vernáculo
Via crucis tatuada pelos cantos do corpo
Cantos de procissão ecoando: vozes assombradas
Vazios
Ressurreição não houve
Suspiros em dó maior
Olhar vagando
Através da janela,
Através de tudo...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, abril de 2008.
20h 09min
Uma aura de tristeza ficou
Paixão no sentido total do vernáculo
Via crucis tatuada pelos cantos do corpo
Cantos de procissão ecoando: vozes assombradas
Vazios
Ressurreição não houve
Suspiros em dó maior
Olhar vagando
Através da janela,
Através de tudo...
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, abril de 2008.
20h 09min
terça-feira, abril 1
domingo, março 23
PLEINE LUNE*
Solte sua irracionalidade
Em cima de mim!
Deixe
Que venha
E me devore
Como cães famintos,
Que me morda inteira.
Deixe
Que ela entre
Por olhos, mãos, boca, garganta.
Deixe
Que ela seja insânia!
Que suba por minhas pernas,
Por baixo da saia: deleite!
Ferindo a pele em gozo.
Deixe-a dormir exaurida
Recostada em meu pescoço
Entre meus cabelos.
Não a deixe presa
Em um quarto qualquer,
Esquecida no último andar.
Ela ficará
Nos olhando pela janela
Partir os caminhos.
Ela ficará surda,
Desejando a rua
Vista através de uma nesga,
Farejando os suores, o mar, o calor do asfalto.
E se ela escapar cega, cega
Esbarrando em tudo que vir?
E se ela desandar a subir vielas tontas?
E pior! E se ela se atirar no mar? Naufragar?
Estado de espírito
Boiando e lançando-se
Em vai-e-vem
– balé desengonçado –
Até aportar nas areias de madrugada.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 21 de março de 2008.
6h 40min
* Lua cheia
Solte sua irracionalidade
Em cima de mim!
Deixe
Que venha
E me devore
Como cães famintos,
Que me morda inteira.
Deixe
Que ela entre
Por olhos, mãos, boca, garganta.
Deixe
Que ela seja insânia!
Que suba por minhas pernas,
Por baixo da saia: deleite!
Ferindo a pele em gozo.
Deixe-a dormir exaurida
Recostada em meu pescoço
Entre meus cabelos.
Não a deixe presa
Em um quarto qualquer,
Esquecida no último andar.
Ela ficará
Nos olhando pela janela
Partir os caminhos.
Ela ficará surda,
Desejando a rua
Vista através de uma nesga,
Farejando os suores, o mar, o calor do asfalto.
E se ela escapar cega, cega
Esbarrando em tudo que vir?
E se ela desandar a subir vielas tontas?
E pior! E se ela se atirar no mar? Naufragar?
Estado de espírito
Boiando e lançando-se
Em vai-e-vem
– balé desengonçado –
Até aportar nas areias de madrugada.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 21 de março de 2008.
6h 40min
* Lua cheia
quinta-feira, março 20
segunda-feira, março 17
SER TÃO!
– Seja homem! – imperativo tachativo lançado a uma aluna que, com medo de uma quase inofensiva abelha, corria pela rua no memento de entrar no colégio. A abelha, creio que mais assustada, voava desnorteada com o pavor da menina. O que esperar da abelha? Ataque. O que esperar da menina?
Ser homem assume um peso ético: moral e comportamental que implica bravura, coragem, decisão, clareza e capacidade de resolução eficaz e acertada das situações-problemas da vida. Enfim, ser homem não é nada fácil.
A menina riu. O curioso é que no mesmo instante, entre o art sem graça e o medo da abelha, procurou se recompor e se vestir de uma armadura medieval de equilíbrio e sensatez: “O que é uma abelha? Um serzinho... E eu? Um serzão!” Talvez tenha pensado. E fez-se homem, como muitos homens de certidão de nascimento não são. Enfrentou a situação. Voltou a subir a rua e atravessou o portão sorrindo, sem – aparentemente – medo da abelha. Gloriosamente, com cabelos laureados, segue em frente!
Já na sala de aula, me abordou na porta: – Professora, não fale nada com a turma do mico que eu paguei não... – ainda sorria, mas superada a crise apídea, o sorriso era de efetiva alegria. Sorri cúmplice e entrei. O que mudou? O enfrentamento.
Seja homem também! Quem sabe os cacos ficam para trás e você sai livre e leve por aí?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de março de 2008.
– Seja homem! – imperativo tachativo lançado a uma aluna que, com medo de uma quase inofensiva abelha, corria pela rua no memento de entrar no colégio. A abelha, creio que mais assustada, voava desnorteada com o pavor da menina. O que esperar da abelha? Ataque. O que esperar da menina?
Ser homem assume um peso ético: moral e comportamental que implica bravura, coragem, decisão, clareza e capacidade de resolução eficaz e acertada das situações-problemas da vida. Enfim, ser homem não é nada fácil.
A menina riu. O curioso é que no mesmo instante, entre o art sem graça e o medo da abelha, procurou se recompor e se vestir de uma armadura medieval de equilíbrio e sensatez: “O que é uma abelha? Um serzinho... E eu? Um serzão!” Talvez tenha pensado. E fez-se homem, como muitos homens de certidão de nascimento não são. Enfrentou a situação. Voltou a subir a rua e atravessou o portão sorrindo, sem – aparentemente – medo da abelha. Gloriosamente, com cabelos laureados, segue em frente!
Já na sala de aula, me abordou na porta: – Professora, não fale nada com a turma do mico que eu paguei não... – ainda sorria, mas superada a crise apídea, o sorriso era de efetiva alegria. Sorri cúmplice e entrei. O que mudou? O enfrentamento.
Seja homem também! Quem sabe os cacos ficam para trás e você sai livre e leve por aí?
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 12 de março de 2008.
quinta-feira, março 6
PÓS-ROMANTISMO
Perdi a vontade sadia da espera.
Gosto de cabo de guarda-chuva
Na boca, olhar vagando.
E se vive mais assim,
Na acepção cotidiana do termo;
E se vive melhor assim,
Na concepção covarde e frouxa da vida;
E se anula mais assim
A tempestade que dá sentido a tudo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2008.
Perdi a vontade sadia da espera.
Gosto de cabo de guarda-chuva
Na boca, olhar vagando.
E se vive mais assim,
Na acepção cotidiana do termo;
E se vive melhor assim,
Na concepção covarde e frouxa da vida;
E se anula mais assim
A tempestade que dá sentido a tudo.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 03 de março de 2008.
domingo, março 2
ATENTA
Lançada no olho do furacão
Por um simples vibrar.
Tudo negro ao redor:
Apenas a luz pisca verde em chamado de alegria.
Arrebatamento pela voz...
Um precipitar,
Um desejo,
Um frenesi,
Um sorriso franco.
Todas as cores de sensações e sentimentos e sentidos
Suspensas no ar,
Prontas para desabarem em minha cabeça
– bolha de sabão! –
No ato do reencontro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de março de 2008.
Lançada no olho do furacão
Por um simples vibrar.
Tudo negro ao redor:
Apenas a luz pisca verde em chamado de alegria.
Arrebatamento pela voz...
Um precipitar,
Um desejo,
Um frenesi,
Um sorriso franco.
Todas as cores de sensações e sentimentos e sentidos
Suspensas no ar,
Prontas para desabarem em minha cabeça
– bolha de sabão! –
No ato do reencontro.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 02 de março de 2008.
sábado, março 1

VAGO
Não cessa o ir e vir de amores...
A onda que arrebata
Quando o toque grita na pele
À presença quente e úmida do outro
No momento de reconhecimento
– cicatriz de Ulisses! –
É a mesma que carrega vida e traz corpos,
É a mesma do mergulho mudo e extático dos dias de verão,
É a mesma que afoga pesadelos,
É a mesma que me salva todos os dias do tédio,
É a mesma que não me dá certezas,
É a mesma que cultiva saudades e ansiedade do porvir.
Angélica de Oliveira Castilho
Não cessa o ir e vir de amores...
A onda que arrebata
Quando o toque grita na pele
À presença quente e úmida do outro
No momento de reconhecimento
– cicatriz de Ulisses! –
É a mesma que carrega vida e traz corpos,
É a mesma do mergulho mudo e extático dos dias de verão,
É a mesma que afoga pesadelos,
É a mesma que me salva todos os dias do tédio,
É a mesma que não me dá certezas,
É a mesma que cultiva saudades e ansiedade do porvir.
Angélica de Oliveira Castilho
Rio de Janeiro, 29 de fevereiro de 2008.
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